Em clima de faroeste, sessão da Câmara debate Estatuto do Desarmamento

“O clima aqui dentro nunca esteve tão péssimo”, resumiu a deputada federal e líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali, em sua página nas redes sociais nesta quarta-feira (28). A parlamentar relatou o ambiente de tensão que marcou a sessão plenária sobre a votação do projeto que derruba o Estatuto do Desarmamento.

Delegado Éder Mauro tentou agredir Wyllys e foi contido por seguranças - Reprodução

Segundo a deputada comunista, nenhum líder consegue dar sua opinião sem ser agredido covardemente pela oposição. Ela se refere ao deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), que foi ofendido pelo deputado João Rodrigues (PSD-SC).

João Rodrigues usava a tribuna da Câmara para criticar parlamentares que eram contra as manobras que tentam derrubar o Estatuto do Desarmamento, aprovada na terça-feira (27) por uma comissão especial. A proposta prevê que todos os cidadãos a partir de 21 anos poderão possuir e portar armas de fogo, além de permitir que deputados e senadores poderão andar armados, assim como pessoas que respondam a inquérito policial ou processo criminal.

Na tribuna, o deputado de Santa Catarina sugeriu que parlamentares que são contra a flexibilização, como Jean Wyllys, “se postam como que se fossem verdadeiros defensores de bandido”. Rodrigues também tentou desqualificar o eleitorado de Jean. “Pela sua história, ele não merece meu respeito e da maioria dos deputados”, afirmou o parlamentar catarinense.

Jean Wyllys rebateu lembrando que a reputação do deputado catarinense não é tão ilibada como ele gosta de dizer, citando que ele foi recentemente flagrado pelas câmeras de uma emissora de TV assistindo vídeos pornô no celular durante uma sessão em plenário. Lembrou ainda que Rodrigues foi condenado por improbidade administrativa devido a irregularidades quando era prefeito de Chapecó (SC).

“Portanto quem não tem moral para representar o povo brasileiro é ladrão”, afirmou Wyllys, acrescentando: “Qualquer programa de televisão é mais decente do que deputado que rouba dinheiro do povo na sua administração pública”. “E olha deputado resta saber se seu vídeo pornô era hétero ou homossexual”, finalizou.

Deplorável

Durante a sessão, a líder do PCdoB classificou como “deplorável” e “fascista” a agressão contra Jean. “Às vezes tenho a sensação de que estamos na idade média neste plenário”, disse Jandira.

Em seu discurso, Jandira aproveitou para cobrar a saída de Cunha. “A situação do presidente da Câmara está ficando insustentável”, declarou.

Pelas redes sociais, a deputada comunista destacou: “Quem diminui ou desqualifica Jean Wyllys, como ocorreu agora pouco, não compreende seu esforço em defender suas convicções no Parlamento. Suas ideias. E é isso que o torna tão valoroso entre nós. Nós, aqui do PCdoB, repudiamos as agressões contra ele e clamamos o contraditório ao diálogo. A impressão que dá é que qualquer dia alguém aqui vai puxar uma arma e dar um tiro em outra pessoa!”.

A deputada também enfatizou que o retrocesso das propostas debatidas na Câmara é diário. “Todos os dias se vota aqui contra homossexuais, contra negros, contra as mulheres e outras minorias. Se desrespeita ou massacra outras visões de mundo, sem ouvir ou conversar. É preciso um basta.”
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“Quem aqui se vangloria e diz ser ‘representante da família’, mal sabe o que é isso na prática. Da minha família, por exemplo, nem chega perto. Que possamos avançar nas relações humanas, na política de alto nível e no debate de ideias. É o mínimo que se espera para estar aqui dentro”, frisou a deputada.

Ela acrescenta: “E a Câmara dos Deputados, como instituição, precisa recuperar sua credibilidade. Precisa retomar seu respeito e confiabilidade. Quando esses valores se enfraquecem, o fascismo cresce e situações como a de hoje tomam conta. A presença do atual presidente em seu cargo mostra isso e vem se tornando insustentável”.