Demétrio Andrade – “O mala político”

 Com o título “O mala político”, eis artigo do jornalista e sociólogo Demétrio Andrade. Ele analisa as várias figuras de “mala” da política brasileira, que agora invadem as redes sociais e procuram causar constrangimentos em quem não comunga com suas teses.

Trata-se de uma categoria recente, nascida aqui mesmo no Brasil. O mala político está, infelizmente, graças às redes sociais, ocupando espaços públicos – reais e virtuais – generosos ultimamente. A rigor, ele não mereceria o gasto dos meus dedos com o teclado, não fosse a cena absurda vivida pelo líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), João Pedro Stédile, e pela professora de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), Adelaide Gonçalves, na noite de 22 de setembro, agredidos no aeroporto de Fortaleza aos gritos de “MST vai pra Cuba com o PT” por uma turba de poucas pessoas, devidamente organizada.

Como cidadão de Fortaleza, envergonha-me tal episódio. Stédile veio participar de debate no 11º Congresso do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (SINTSEF/CE), em Beberibe. Ele merece desculpas públicas, assim como os cubanos do programa Mais Médicos, igualmente retaliados por outra turma de bem-nascidos. Nós, cearenses, em sua maioria, somos acolhedores e afetuosos. Até com quem detesta nordestinos, diga-se de passagem.

Os organizadores do ato de malismo explícito estavam convictos de que este tipo de atitude estaria resguardando o povo brasileiro do comunismo. Eis aí a primeira característica do mala político: a ignorância. Acreditar que o governo Dilma é comunista nesta altura do campeonato é o mesmo que achar que o Ferroviário disputará a Champions League. Aliás, será que eles leram algo sobre a visita do Papa Francisco a Fidel Castro?

O mala político tem outra marca evidente: é um chato. Pura e simplesmente. Não à toa o tal ato foi no aeroporto. Mais adequado só se fosse perto das esteiras de bagagem. O mala autêntico não fez “curso de noção”. Acha que qualquer hora e local são perfeitos para disparar impropérios. Age como um fundamentalista sem fundamento e um radical sem raiz. Reproduz jargões que não são seus, preservando inclusive erros de português, pois não possui a menor segurança acerca do que diz.

O mala político é um fascista. Não consegue conviver com a diferença ideológica. Como é analfabeto político, não consegue dissociar visões de mundo neste âmbito de outras esferas, como a cultural, a familiar, a religiosa e laboral. Ou seja, não respeita quem não pensa como ele. O combustível de suas ações é o ódio. Seu principal argumento é a violência. O mala não compreende o que é estado de direito coletivo porque seu universo não vai além da propriedade privada. O mala político é, em essência, um egoísta que jamais se reconhecerá no outro. Um ser despreparado para convivência pública, armado até os dentes com mesquinharia e má educação.

Demétrio Andrade é jornalista e sociólogo.

Fonte: jornal O Estado

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