Conversa Afiada: Pecém? Por que você nunca ouviu falar?

Por Paulo Henrique Amorim*

Não interessa aos coronéis eletrônicos reforçar a autoestima do brasileiro.

O Terminal Portuário do Pecém existe desde 2002.

Recebe navios porta-containers nas rotas dos Estados Unidos, Europa, América do Sul e do Caribe.

É capaz de movimentar até 750 mil containers por ano e receber os maiores cargueiros do mundo.

É um porto off-shore, ou seja, não é colado ao litoral.

“Nosso objetivo é chegar a Cabo Verde”, disse um engenheiro, de brincadeira.

Um quebra-mar em forma de “l” de 2.800 m de extensão o protege.

É o primeiro porto brasileiro em exportação de frutas tropicais e em produtos de metal-mecânica.

Um em cada três calçados que o Brasil exporta sai por ali.

É o porto brasileiro que mais manipulou pás de energia eólica: 81 pás, em 2014.

Em 2014, passaram por ali 8,2 milhões de toneladas.

Com a próxima inauguração de uma siderúrgica, da Vale e da coreana Posco, o volume de TEUs transportados vai dobrar.

Em 2018, com a inauguração da Transnordestina, o volume vai dobrar de novo.

Porque a Transnordestina vai trazer grãos do Piauí, Tocantins e, em Salgueiro, Pernambuco, abre um ramal para o porto de Suape, perto de Recife.

Como Suape, Pecém tem uma área ampla para instalar indústrias: siderúrgicas, termelétricas, refinarias, indústrias satélites e duas fabricantes de pás para energia eólica.

Hoje, Pecém tem seis berços para a atracação de cargueiros.

Depois de amanhã, dia 24, inaugura o sétimo berço.

Em março de 2016, terá o nono berço, que vai custar R$ 112 milhões.

A empresa Ceará Portos, do Governo do Ceará, já dispõe desse dinheiro, segundo seu presidente, Danilo Serpa, 40 anos, formado em Administração, com pós-graduação em Gestão Pública.

Os berços são construídos em estrutura que exigiu obras a 17,5m no fundo do mar.

“Não se esqueça”, disse Ciro Gomes, num telefonema com o ansioso blogueiro, enquanto visitava o porto, “que se trata de uma obra do Estado do Ceará!”

Para construir cada berço são necessários, aproximadamente, 18 meses de consultas com as instituições que tem a função de retardar, encarecer e, se possível, abortar o crescimento do país.

São trambolhos como IBAMA, IPHAN, MP – federal e estadual -, Secretarias estaduais municipais e distritais do Meio Ambiente, FUNAI.

Dezoito meses!

Porque essas instituições se nutrem de uma lógica própria, corporativista, com projeções individuais de ascensão e controle de poder – que não guardam a menor relação com o interesse público!

Pecém tem que se submeter a exigências de “redundância ambiental” para agradar os profissionais do meio ambiente.

Pecém foi obrigado a realizar um “estudo arqueológico sub-aquático”, a três quilômetros de profundidade e achou uma maravilha da natureza ambiental: uma garrafa PET!

Pecém é o ÚNICO porto no mundo que foi obrigado a construir 6km de correia transportadora de minério com capa!

Pedaços de minério de ferro com capa!

Para não deixar cair um único grão de areia de fuligem mineral que comprometa o meio ambiente do Hemisfério Sul!

Danilo Serpa esteve recentemente no porto de Rotterdam, na Holanda, um dos mais modernos do mundo e que acaba de fazer uma aliança com Pecém.

Na hora de visitar o porto, Danilo foi obrigado a vestir de macacão e proteção para os olhos, as mãos e a cabeça.

E perguntou, mas vocês não tem uma uma capa para cobrir o minério?

Não!

Foi a reposta.

Isso aqui é uma área industrial.

Proteção a gente faz lá fora, onde vivem as pessoas.

(O Brasil é o único país do mundo que tem um Código Florestal!)

*Paulo Henrique Amorim é jornalista e editor do Blog Conversa Afiada