“Sem as cisternas, a água parecia um suco de limão”, diz agricultora 

O programa Cisternas, do governo federal, vem diminuindo o sofrimento do sertanejo que, há séculos, convive com o problema da seca. A chuva que começa a cair já tem mudado o retrato do município de Areial, no sertão paraibano, a 170 quilômetros de João Pessoa. “No último mês, caiu uma garoazinha por três dias. Acredito que, aos poucos, vamos conseguir progredir e plantar cada vez mais”, conta Maria do Carmo Sabino, 76 anos, agricultora familiar que vive na região.

Famílias contam como cisternas permitem convívio com a seca

Em 2014, a produção agrícola no município teve um reforço. A família recebeu uma cisterna de enxurrada para captação da água que apoia a produção de alimentos para a família e para os animais. “Do final de julho pra cá, já conseguimos ganhar R$ 200 com algumas batatas-doces e outras verduras que tiramos do nosso canteiro”, disse.

A cisterna de enxurrada aproveita o caminho que a água da chuva percorre quando cai na propriedade. Como uma enxurrada, a água é conduzida até um sistema de coleta composto por dois decantadores que filtram o excesso de terra e alguma sujeira. Em seguida, toda a água é armazenada em um reservatório com capacidade de 52 mil litros, construído dentro da terra e só com a cobertura acima da superfície.

Das mais de 120 mil tecnologias sociais de apoio à produção entregues no Semiárido, cerca de 14 mil são cisternas de enxurrada. A Bahia é o estado com mais unidades deste tipo construídas (7,2 mil).

Água de qualidade

De 2012 para cá, com a cisterna de armazenamento de água da chuva para o consumo humano, a agricultora familiar deixou de conviver com água de baixa qualidade. “Antigamente, a água era verde, parecia um suco de limão, matava as plantas quase todas”, lembra.

A cisterna, com capacidade de armazenar 16 mil litros de água que cai no telhado da casinha simples da família, também tirou um peso das costas de dona Carminha. “Deixamos de andar muito para buscar água e de carregar peso no carrinho de mão”, diz, ao recordar que transportar água era um trabalho exclusivamente feminino.

A falta de água para o consumo é apenas uma das marcas da miséria que a agricultora passou durante a infância em Areial. “Já tive que comer facheiro (mandacaru) e xique-xique (cactus) para não passar fome”, se emociona a agricultora. Os cactus, tão comuns em toda a região, são utilizados exclusivamente para alimentar os animais. Hoje, a alimentação da família melhorou.

Com o dinheiro da aposentadoria do marido, Mauro Cardoso da Silva, 67, e os R$ 144 do programa Bolsa Família, dona Carminha garante a alimentação da família. “Hoje mesmo eu bati um prato de verdura com tomate que não está no gibi. Eu sou feliz porque eu como as coisas que eu planto”, conta. Quatro dos 12 filhos – todos de criação – ainda moram com o casal. “Os pais não davam conta de criar ou não queriam. Deus me livre deixar uma dessas crianças sem amparo.”

Dona Carminha, toda caprichosa e detalhista, é quem comanda a produção na propriedade. Tanto é que deu uma decoração especial à cisterna de água para consumo: construiu um jardim em volta do reservatório com flores e hortaliças, para aproveitar a umidade do solo. Seu Mauro só obedece e faz o trabalho mais pesado. “É ela quem manda”, brinca.

Transposição do Rio São Francisco: Um motivo de esperança para a população nordestina 

Criado pelo governo Lula, com a transposição do Rio São Francisco, centenas de famílias que tinham casas nos trechos da obra foram transferidas para novos assentamentos agrícolas, como é o caso nos arredores do município de Salgueiro, localizado no sertão pernambucano, região que há séculos sofre com as mazelas da seca. A água ainda não chegou, mas a população já percebe os aspectos positivos que o projeto proporciona à comunidade.

Seu Agenor vive com seus sete filhos em uma das 17 comunidades da transposição. Segundo o agricultor, a vida melhorou bastante nos últimos anos. “Eu não tinha nem casa para morar, hoje temos, além do benefício que governo federal repassa todo mês. Estamos ansiosos para ver a água chegar”, afirma.

Ao contrário do que aponta a grande mídia e a oposição, as obras de transposição do Rio São Francisco devem ser concluídas em 2016 ou no máximo no começo de 2017. Quem garante é o ministro da Integração, Gilberto Occhi, durante coletiva para falar sobre a inauguração do canal em Cabrobó, em Pernambuco, que acontece nesta sexta-feira (21) com a presença da presidenta Dilma Rousseff.