Câmbio favorece indústria nacional; só falta os juros baixarem

A indústria brasileira já está colhendo resultados positivos dos sucessivos ajustes na taxa de câmbio. De acordo com dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a rentabilidade das exportações da indústria de transformação cresceu 12,6%, em julho, em comparação com o mesmo período de 2014. Com a indústria agora em melhores condições de recuperar mercados externos, economistas e empresários defendem baixar os juros, para retomar também o consumo interno.

exportações

 A alta do dólar tem permitido às empresas usar a vantagem cambial para reduzir preços de exportação, tornando o produto nacional mais competitivo fora do país. Segundo a Funcex, a margem de ganho da indústria de transformação já saltou 10,6% de janeiro a julho, em relação ao ano passado.

A valorização do real frente ao dólar compensou, portanto, a queda dos preços de venda e a alta dos custos de produção – propiciada principalmente pela elevação da tarifa de energia e pelo valor dos insumos importados, que acompanhou a alta do dólar.

Dos 23 segmentos da indústria de transformação que a fundação estuda, apenas o de derivados de petróleo, combustíveis e coque não teve rentabilidade crescente no acumulado até julho. Economista da Funcex, Daiane Santos avalia que o câmbio é um fator que deve manter a tendência de alta da rentabilidade no curto prazo.

Especialistas opinam que, associada à política de desvalorização cambial, uma redução da taxa de juros poderá fazer com que a economia brasileira volte a crescer no próximo ano. É o que diz, por exemplo, o ex-ministro e economista Luiz Carlos Bresser-Pereira.

“No plano econômico, a crise corrigiu a taxa de câmbio; desde que o Banco Central volte a reduzir os juros, a economia brasileira voltará a crescer no próximo ano. Ao invés de manter a Selic no nível em que está, o Banco Central deveria estar lutando pela desindexação da economia, porque é essa inércia inflacionária que dificulta a diminuição da inflação, não obstante a recessão em curso. Juros estratosféricos têm pouco efeito sobre a inflação, e anulam todo o esforço de equilíbrio fiscal do governo”, analisou, em sua conta no Facebook.

O diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch, tem opinião semelhante quanto aos juros. Segundo ele, com câmbio desvalorizado e redução da carga fiscal, a indústria poderia voltar a respirar, prospectar mercados externos e sair de que ele chama de um longo período de hibernação.

“E, com juros menores e oferta de crédito, o consumo interno também poderia iniciar uma recuperação. Não se pode pensar em deixar para mais tarde a discussão da agenda do crescimento”, escreveu em artigo publicado no Jornal do Comércio. No texto, ele afirma que a taxa básica de juros não tem nenhuma razão para permanecer no nível atual, de 14,25% ao ano – “uma aberração”, classifica.