Edson Cadette: "Nova York, a primeira no meu coração, 25 anos depois"

Quando deixei São Paulo, na manhã ensolarada do dia 20 de abril de 1990, a caminho de Nova York, o meu conhecimento da cidade era somente turístico. Como funcionário da extinta companhia de aviação Varig, tive o privilégio de conhecer alguns dos principais pontos turísticos da “Big Apple” durante algumas das minhas férias.

Por Edson Cadette*

Nova York a primeira no meu coração 25 anos depois

Entretanto, agora a historia seria diferente. Estava deixando a cidade onde passei 29 anos da minha vida para aventurar-me no desconhecido. Nova York me atraia como uma enorme força magnética. Deixei São Paulo com o coração partido, porem, altamente ansioso. Deixava família, amigos, e também uma namorada. Todas estas conexões não foram suficientemente fortes para impedir-me de arriscar uma nova aventura.

Cheguei em Nova York numa tarde de sábado de primavera. O céu azul e uma temperatura bastante baixa (para padrões paulistas) cobriam a cidade. Era possível ver com a aproximação do aeroporto a neve em varias partes nos telhados e nos quintais das pequenas casas que ficavam nas redondeza do aeroporto JFK.

São Paulo tinha ficado para trás. Com muita ansiedade e um certo frio na barriga peguei minha mochila no compartimento para malas de mãos do avião. Coloquei meu paletó (na época ainda se viajava com trajes mais conservadores), e comecei a seguir as pessoas ate onde estavam duas aeromoças nos desejando boa estadia na cidade.

São Paulo tinha ficado para trás. A apetitosa e vermelha grande maçã me seduzia como uma criança é seduzida num parque de diversão por uma maçã caramelizada. Depois da primeira mordida seria impossível parar antes de devorar toda a fruta.

Ao sair do aconchegante aeroporto para pegar um dos muitos táxis amarelos esperando por passageiros fui surpreendido pelo frio. O inverno tinha ficado para trás há um mês, mas ainda era possível ver restos de neve nas calcadas. Andei rapidamente para o ponto de táxi. Disse ao motorista que iríamos para Manhattan, mais precisamente na rua 90, entre a segunda e terceira avenida. Ali começava minha relação com Nova York.

Nestes vinte e cinco anos de Nova York aprendi sobre a cidade e consequentemente sobre a cultura norte americana, em especial o relacionamento que o pais tem com seus cidadão afro-americanos. Ate então, tudo que sabia da cidade ou mesmo do pais eram ditados por correspondentes brancos brasileiros da grande mídia morando na ilha de Manhattan. O mais famoso deles era o senhor Paulo Francis.

Edson CadetteComo muitos imigrantes que chegaram adultos neste pais, sentia uma enorme saudade da cultura brasileira. Uma cultura diga-se de passagem ufanista e bastante mentirosa a respeito do seu passado escravocrata e a herança deste passado ainda hoje. Um dos aspectos mais positivos morando aqui nos EUA foi aprender sobre a história do Brasil e jogar pela janela todo meu pseudo conhecimento sobre o país aprendido durante meus dias nos bancos escolares das escolas publicas e também privada que eu frequentei.

Aprendi em Nova York a ética protestante, em outras palavras, trabalhar honestamente sem querer levar vantagem nas pequenas coisas. Aprendi como os norte-americanos se julgam os lideres mundiais, e seu alto senso de patriotismo. Um patriotismo que não está ligado somente à esfera esportiva. Em 2006, com quase 16 anos vivendo ali, e com um conhecimento profundo sobre as historias dos EUA adquirido com muita leitura, idas aos teatros, exposições, museus, à leitura diária do periódico The New York Times, filmes, programas políticos dominicais, etc. estava buscando uma mídia para passar todo este conhecimento para um público sub-representado na grande mídia no Brasil, em outras palavras, os negros brasileiros.

Lendo um artigo sobre o site de noticias ainda em gestação, Afropress.com, entrei em contato com seu editor, o jornalista Dojival Vieira, um militante do PT e um dos fundadores do partido. Conversamos por e-mail e ele sugeriu que eu mandasse notícias de Nova York. Seria uma colaboração e eu ficaria inteiramente a vontade para escrever sobre qualquer assunto. Desta parceria surgiu a coluna Impressões de Nova York, nome sugerido por Dojival.

Nestes mais de 9 anos como correspondente exclusivo aqui em Nova York tive o prazer de informar meus leitores sobre a cultura norte-americana em geral, mas enfatizando também a cultura afro-americana. Ha um debate quase que diario sobre a escravidão norte-americana, seja em forma de noticias nos jornais, livros, filmes, exposições, peças teatrais, etc. e o que ela representou e ainda representa nas relações entre os cidadãos brancos e negros neste país. Procuro informar meus leitores sobre esta e outras questões da melhor maneira possível. Tudo isto escrito com um olhar diferenciado de um negro brasileiro morando nos EUA.

Quando me perguntam se eu moraria em outra cidade, aqui nos EUA, eu digo que vim para morar em Nova York. Vinte e cinco anos depois minha ligação com esta cidade está mais forte do que nunca. Como está escrito na famosa canção.

“It’s up to you, it’s up to you. New York, New York!”  
"Só depende de você, só depende de você!