Com presença de Leonardo Boff é lançada a Frente Mineira Pelo Brasil

Uma multidão lotou o auditório do Conselho Regional de Engenharia de Minas Gerais (CREA-MG) na noite da última sexta-feira (07/08) para o lançamento da Frente Mineira Pelo Brasil. Representantes de diversas organizações sociais se uniram em defesa do estado democrático de direito diante das ameaças da oposição aliada a setores conservadores. 

Frente Mineira pelo Brasil 1 - Lidyane Ponciano

Com a participação do teólogo Frei Leonardo Boff, a mesa contou com a presença da deputada federal Jô Moraes (PCdoB), o deputado estadual Rogério Correa (PT-MG), Beatriz Cerqueira, dirigente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), José Antônio Lacerda (Jota), vice-presidente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB-MG) e o coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MOB), Joceli Andreolli.

Diante do momento político, os principais temas discutidos no encontro foram a defesa da democracia e da soberania nacional, os direitos sociais, a integração latino-americana e a luta por reformas estruturais e populares.

“É Minas que se levanta em defesa do Brasil para barrar o golpismo, isolá-lo e derrotá-lo”, sintetizou a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG), que ainda propôs à platéia um gesto de abraço ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em razão do atentado à bomba contra o instituto que leva o seu nome, em São Paulo. “A bomba contra Lula teve o propósito de atingir a emancipação do povo, a história do operário que virou Presidente da República. Teve o objetivo de atingir a história do povo pobre, que é a história do povo brasileiro”, afirmou a parlamentar. A proposta da homenagem foi recebida com aplausos, palavras de ordem e refrãos em favor do ex-presidente.

“Eles não têm os 342 votos para abrir o impeachment. O que está em risco é a própria democracia. E é contra este golpe da direita que estamos reagindo, contra o qual nos unimos”, defendeu Jô Moraes.

Envergonhados
O teólogo Frei Leonardo Boff usou uma figura de linguagem – os relatos da escritora haitiana Edwidge Danticat, que remetem à índia Anacaona, a heroína do país, estuprada e assassinada e sua aldeia saqueada pelos espanhóis à procura de ouro, nos tempos da colonização –, para falar do sentimento dos petistas da base, da origem do partido diante da conjuntura.

Em seu relato Danticat fala de sua vida e da trajetória das mulheres negras pobres, miseráveis, do Haiti. Das histórias que ouvia de sua avó quando dos apagões, sentadas à beira do fogão, e do ditado usadas por essas mulheres ‘somos feias, mas estamos aqui’. Ditado que além de remeter à memória, às adversidades inúmeras vividas por elas, traz em seu bojo o chamado ao não-esquecimento, à resistência. Uma celebração ao estar viva e lutar, muito além da estética, da beleza física arrancada pelo sofrimento a que são submetidas na lida diária.

É importante frisar que o Haiti foi a primeira república a acabar com a escravidão, em 1804, destacou Boff, ao usar a metáfora da história contada por Danticat para dizer que “um punhado de membros corruptos e que devem ser expulsos do partido (PT), mostraram a natureza da corrupção a tal ponto, que estamos envergonhados. Eles esqueceram a ética, a natureza de nossa bandeira, os ideais da democracia popular”.

“Estamos envergonhados, mas não nos quebramos. Levaremos adiante este ideal de querer um País rico, pois com justiça social para todos. Os petistas da base estão humilhados, mas não nos quebramos. Vamos manter a causa dos pobres; dos invisíveis, que é a causa do PT da base. Uma causa que nunca vamos abandonar. Apesar dos erros, dos crimes, sobrevivemos para levar adiante esta causa, esta luta,” afirmou e foi ovacionado de pé pelo público que lotou o auditório.

Ato em defesa da democracia
Diante das centenas de militantes de esquerda, foi estabelecida a necessidade de fortalecer a mobilização para a manifestação que ocorrerá dia 20 de agosto, em defesa ao estado democrático de direito contra as ameaças golpistas.
No encontro, foi lida a leitura da Carta de Lançamento da Frente. Confira abaixo o texto na íntegra:

 
MINAS SE LEVANTA EM DEFESA DO BRASIL
Carta de lançamento da Frente Mineira pelo Brasil
Belo Horizonte, 7 de agosto de 2015

Percebemos em curso a restauração e alinhamento de um campo neoliberal antipopular e antinacional, demarcado pelo Imperialismo e composto pela grande mídia, a oligarquia financeira, líderes políticos conservadores e setores do judiciário. Estes atacam os direitos sociais, os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, à soberania nacional e orquestram pretextos artificiais para a interrupção da legalidade democrática. Aproveitam-se para isto do aprofundamento da crise econômica internacional e de erros cometidos por setores democráticos e populares, entre os quais aqueles cometidos pelo governo federal. A Frente Mineira pelo Brasil se posiciona convicta e firmemente contra qualquer tentativa de golpear o Estado Democrático de Direito.

O combate à corrupção é dever do Governo e de toda a sociedade, mas a operação Lava-Jato não pode manter sua descarada seletividade, ou deixará de cumprir a função de expor os desvios e promiscuidades estabelecidas entre o setor privado e o Estado. Nesse sentido a Frente Mineira pelo Brasil chama atenção para que no debate da reforma política seja privilegiado o debate do fim do financiamento privado de campanhas eleitorais.

No Congresso Nacional, o mais conservador e mais caro desde a abertura democrática, busca-se a aprovação de uma contrarreforma política, a redução da maioridade penal, a generalização da terceirização no trabalho e a alteração na Lei de Partilha do Pré-Sal, onde se sedimenta os planos de privatização da Pretobrás, a maior empresa do país.

Portanto, não há governabilidade ou pacto possível no terreno antipopular capitaneado por Eduardo Cunha!

O braço ideológico e mobilizador do bloco conservador, a grande mídia, cultiva o ódio entre o povo e dissemina o veneno a ser inoculado nas veias da Democracia. Com isso, prepara palco para a naturalização das pretensões das elites reacionárias e enfurecidas de retornarem ao poder central mesmo que para isso precisem arrastar o país para o fundo do poço. A desfaçatez com que foi tratado o ataque fascista ao Instituto Lula é sintomático da completa ausência de compromisso democrático desta grande mídia.

Barrar o golpismo, isolá-lo e derrota-lo é a missão urgente a ser enfrentada. Somente uma ampla unidade será capaz de realizá-la. A Frente Mineira pelo Brasil se coloca nesta trincheira.

Governabilidade popular
Nos últimos meses as organizações sociais do povo brasileiro deram uma poderosa demonstração de que há muita energia para resistir e superar o avanço conservador. As dezenas de atos e manifestações realizadas impediram que retrocessos maiores acontecessem. Essa resistência indica o caminho a ser perseguido no próximo período. O programa vitorioso em 2014 precisa ser resgatado.

Não é mais aceitável que 0,3% dos que declaram imposto de renda no Brasil detenham 22,7% da riqueza do país e que as grandes fortunas, heranças e o rentismo não sejam taxados, especialmente em um momento de crise internacional em que a conta é empurrada sobre a classe trabalhadora mundo afora.

A democracia brasileira é amordaçada pelo poder do dinheiro privado na definição das eleições e pelo monopólio dos meios de comunicação. As grandes cidades são estranguladas pela especulação imobiliária e pelos oligopólios do transporte público. O campo clama por uma reforma agrária popular. O extermínio dos jovens pobres e negros nas periferias é o retrato mais dramático da necessidade de construção de um vigoroso processo de lutas por avanços em direitos sociais, econômicos, cultuais e políticos.

O Brasil precisa construir um outro ciclo de desenvolvimento para atender as históricas e as novas demandas de seu povo. Este ciclo deve almejar em seu horizonte a realização de reformas democráticas e estruturais, ampliação de direitos sociais, uma política econômica marcada pela geração de emprego, distribuição de renda e fortalecimento da indústria nacional ao contrário da política de juros altos vigentes. Este ciclo somente se abrirá e será vindouro se for conduzido pela força social organizada de milhões de brasileiros.

Os mineiros conheceram, combateram e derrotaram o projeto conservador que pretende se restaurar no país. A reforma neoliberal do Estado batizada de Choque de Gestão e conduzida por Aécio Neves foi a responsável por colocar Minas na pior situação de sua história. A realidade ocultada por doze anos, mas amargada pelo povo mineiro, veio à luz: elevação da dívida pública, precarização do funcionalismo público e serviços públicos e fragilização da indústria, economia e empresas públicas. Sem falar das denúncias de corrupção sistematicamente blindadas pelo aparato conservador da grande mídia, Ministério Público, Tribunal de Contas e demais órgãos de controle.

A resposta do povo chegou nas eleições de 2014, o campo conservador perdeu em Minas nos dois turnos e foram exemplarmente derrotados no primeiro turno da eleição para o Governo Estadual. Conscientes de nossa responsabilidade nesse momento do país, novamente nos embandeiramos de esperança e ousamos enfrentar o conflito necessário.

A história de nosso país é a história da luta de seu povo. A herança maior de Minas para a construção da nação brasileira é o exemplo da luta do povo pela Liberdade. É com este espírito, alicerçado nos interesses e lutas do povo brasileiro, que nasce a Frente Mineira pelo Brasil.