Ministros rebatem Cunha e afirmam que governo não influencia Lava Jato

Após a reunião da coordenação política com a presidenta Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (20) – a primeira após o anúncio do rompimento político do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha –, os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil), Nelson Barbosa (Planejamento) e Jaques Wagner (Defesa) concederam entrevista coletiva. Segundo os ministros, a reunião fez um balanço das medidas aprovadas no primeiro semestre no Congresso Nacional e a projeção do que será feito no segundo semestre.

Eliseu Padilha (PMDB) ministro da Aviação - Reprodução

“Não foi só de vitórias e sucessos que foi esse primeiro semestre, mas isso é do processo democrático”, avaliou Padilha.

O ministro também rebateu as declarações Cunha, que ao anunciar o seu rompimento político com Dilma acusou o governo de ingerência nas ações da Operação Lava Jato, do qual ele é um dos investigados.

“O governo não tem nenhuma influência em ação do Ministério Público e da Polícia Federal na [operação] Lava-Jato”, afirmou Padilha. Segundo ele, a manifestação de Cunha é de percepção pessoal. “A gente tem entendimento diferenciado, mas nem por isso entendemos que ele não pudesse externar”, minimizou ele, afirmando que “o próprio Executivo tem vários membros que são objeto dessa investigação”.

Padilha ressaltou ainda que o Planalto vai “intensificar o processo de harmonização das relações com o presidente Cunha” e “incrementar o processo de articulação”.

“Partindo do pressuposto ou das premissas de qualificação, inteligência e da própria menção do presidente Eduardo Cunha, as relações serão normais entre o poder Legislativo e o Executivo. Nós, do Executivo, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance, e o Legislativo também, para que as relações sejam harmoniosas. Agora, isso não significa concordância em 100% daquilo que for objeto de discussão”, disse Padilha.

“Eu penso que as manifestações dele [Cunha] devem ser consideradas pelo meu partido, o PMDB, e pelo governo, mas nós vamos intensificar o processo de harmonização das relações com o presidente Cunha”, completou.

Padilha aproveitou para afastar qualquer rumor de mudanças no núcleo de articulação política do governo e teceu vários elogios ao vice-presidente da República, Michel Temer, principal responsável pelo diálogo entre Palácio do Planalto e Congresso Nacional. “Articulação política é conduzida pelo presidente Temer e, a meu juízo, não temos entre os quadros políticos do governo alguém que reúna mais qualidades do que ele para essa relação com demais poderes. O presidente Temer é uma garantia de que isso caminha bem”.

Temer

Sobre esse assunto, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), que está em viagem aos Estados Unidos para encontro com empresários, afirmou que o rompimento do correligionário e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o governo da presidente Dilma gera uma "crisezinha política”, mas sem acarretar em uma “instabilidade institucional”.

Ele voltou a afirmar que o rompimento de Cunha com o governo foi uma iniciativa pessoal, não refletindo a posição da legenda, que permanece na base governista. Temer disse, ainda, que a democracia brasileira está firme e a crise econômica e política “será superada”.

Temer disse que as instituições estão funcionando com independência e que o país está empenhado no combate à corrupção. “Perguntarão os senhores se não há problemas como a corrupção. O que importa não é a existência da corrupção, mas o combate a ela, que está sendo feito às claras, nada subterrâneo”.

Renan

Os ministros também comentaram o vídeo gravado pelo presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), no qual o peemedebista destacou a atuação do Senado e faz críticas ao ajuste fiscal.

O ministro Jaques Wagner comparou os posicionamentos de Renan com o de Cunha, que se disse oposição. “O registro que tem que ser feito é que a posição do presidente do Senado [Renan] foi de um aliado, colocando pontos de vista e críticas. A posição do presidente da Câmara [Cunha] foi de alguém que se diz fora da base do governo, este é o ponto mais importante”, afirmou o ministro.

“Primeiro, se trata de um aliado. Segundo, as críticas dele [Renan] têm que ser lidas pelo governo como contribuições porque ele aponta pontos específicos, onde o entendimento dele, certamente com a autoridade que tem pela experiência e sucesso político pessoal, aponta caminhos que fazem o governo refletir. […] É absolutamente normal no campo político que um aliado faça críticas, estabeleça posições diferentes, o que deve ser interpretado como contribuições”, salientou Eliseu Padilha.

Meta fiscal

Questionado pelos jornalistas, Nelson Barbosa disse que ainda não há uma decisão sobre a revisão da meta do superavit primário, que é o dinheiro reservado para pagar juros nas contas do governo depois de pagar as despesas, exceto juros da dívida pública.

A meta fixada é de 1,2% do PIB para este ano. “Estamos reavaliando o cenário. Houve frustração de receitas e isso vai requerer medidas por parte do governo. Nós faremos a reavaliação dos cenários de despesas também e essas avaliações nós só vamos divulgar na quarta-feira [22]”, declarou.

“Ainda não há uma decisão [sobre a redução da meta]. Este processo é complexo e envolve variáveis, vários ministérios, vários tipos de receitas. Então, é isso que a equipe econômica está avaliando. […] Prefiro explicar o que foi a decisão do que antecipar quais são os cenários”, acrescentou.

Reajuste do Judiciário

Barbosa ainda falou sobre o reajuste dos servidores do Judiciário aprovado pelos Congresso que garante aumento de 53% a 78,5%, de acordo com a categoria, a ser pago até 2017. Segundo o ministro, a tendência é a presidente Dilma vetar o reajuste, mas, segundo ele, o governo busca uma alternativa para os servidores.

“Este é um reajuste que não é compatível com a situação econômica do Brasil para os próximos anos. A tendência do governo é vetar o reajuste. […] Agora, independentemente da decisão, nós continuaremos com o processo de negociação”, disse.