Não há espaço para aventuras antidemocráticas, avisa Dilma

Ao discursar na abertura da 48ª Cúpula de chefes de Estado do Mercosul, nesta sexta-feira (17), em Brasília, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que não há espaço para “aventuras antidemocráticas” na região.

Dilma Rousseff na 48ª Cúpula do Mercosul - Agência Brasil

“A realização periódica e regular desses pleitos [citando eleições recentes nos países do Mercosul] demonstra a capacidade de lidar com as diferenças políticas por meio do diálogo, do respeito às instituições e da participação cidadã. Temos de persistir neste caminho e evitando atitudes que acirrem disputas e incitem a violência. Não há espaço para aventuras antidemocráticas na América do Sul e na nossa região”, enfatizou Dilma.

“Hoje somos uma região em que a democracia floresce e amadurece”, salientou a presidenta, que defendeu o fortalecimento de mecanismos que permitem a ampla participação de movimentos sociais. “Esse pluralismo fortalece e dá, sobretudo, pleno sentido a nossa integração a nossas democracias. Somos uma região que sofreu muito com ditaduras”, completou.

Além de Dilma, os presidentes Cristina Kirchner (Argentina), Tabaré Vázquez (Uruguai), Horácio Cartes (Paraguai) e Nicolás Maduro (Venezuela) participam do evento que se encerra nesta sexta. Integração produtiva, promoção comercial, atração de investimentos e micro e pequenas empresas, foram alguns dos temas debatidos no encontro.

Em seu discurso, Dilma fez uma homenagem à presidenta argentina Cristina Kirchner, que deixará o comando da Casa Rosada neste ano, após as eleições presidenciais em outubro.

“Somos testemunhas que ela imprimiu condução firme e democrática a seu país, como assumiu a causa da integração sul-americana e como defendeu os países da região”, disse Dilma, sob aplausos. “Quero dizer, Cristina, que você vai ter aqui uma amiga sempre pronta para recebê-la e para, juntas, compartilharmos novamente e sistematicamente nossos sonhos e nossas esperanças”, completou a presidenta brasileira emocionada.

Cristina Kirchner agradeceu as palavras da presidenta classificando Dilma como uma “companheira” e “amiga". “Agradeço à presidenta Dilma por suas palavras dirigidas a mim. Quero reconhecer o afeto e a sinceridade com que sempre me ofereceu e dizer que são absolutamente retribuídos por mim", afirmou.

Conquistas do bloco

Dilma resgatou as conquistas no campo social, como a nova declaração sócio-laboral que reafirma o compromisso com os direitos sociais. “A declaração fortalece o emprego e o trabalho decente como base de um processo de integração regional. Fortalece igualmente a negociação coletiva, a organização sindical e condiciona a participação de empresas nos projetos financiamentos pelo bloco, a observância dos preceitos ali estabelecidos”, lembrou.

Ela também afirmou que a crise econômica tem se mostrado persistente e que a recuperação da economia global é incerta, o que, segundo ela, aumenta a importância econômica do bloco. Dilma defendeu a manutenção do fortalecimento do comercio entre Mercosul como estratégia de superação, destacando houve um crescimento em 12 vezes desde a criação do Mercosul, enquanto o mundial multiplicou-se por 5.

A presidenta ressaltou também a importância de investimentos do Mercosul em programas de ciência, tecnologia e inovação. Nesse sentido, ela citou as experiências brasileiras do Ciência sem Fronteiras e do Pronatec e defendeu a cooperação acadêmica dentro do bloco.

Ingresso da Bolívia

Para Dilma, o Mercosul é um “grande fator de mitigação de assimetrias regionais” e salientou a importância do Focem (Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul) que, segundo ela, tem desempenhado um papel fundamental para reduzir as desigualdades. Ela reafirmou o compromisso do Brasil à frente da presidência bloco para garantir a continuidade do fundo.

No discurso, Dilma anunciou que o Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela assinaram o protocolo de adesão, que possibilitará o ingresso da Bolívia ao Mercosul, saudando o presidente boliviano, Evo Morales, como representante do mais novo integrante do bloco.

O comando temporário da presidência do Mercosul passa agora para o Paraguai. Por isso, Dilma desejou sorte ao presidente Cartes e disse que “imbuída do espírito olímpico”, passava a “tocha” da presidência pro tempore do bloco.

Dilma também anunciou que o ex-presidente João Goulart, deposto pela ditadura militar brasileira, passa a ser considerado cidadão ilustre do Mercosul. “Essa homenagem é um esforço de reconciliação entre memória e a história. É o reconhecimento da trajetória consistente e comprometida desse brasileiro”, disse Dilma.