Prefeito que bombardeou acampamento do MST morre durante atentado

Um acampamento do MST, com mais de 200 famílias, na Fazenda Casa Branca, em Tumiritinga, Minas Gerais, foi bombardeado por mais de uma hora na tarde desta terça-feira (14). Dois aviões sobrevoaram a área e atiraram rojões contra os camponeses, uma das aeronaves se descontrolou e caiu próxima ao local. Duas pessoas morreram, o prefeito do município de Central de Minas, Genil Mata da Cruz, era o piloto, o acompanhante ainda não foi identificado.

avião de prefeito que bombardeou acampamento do MST - MST

Segundo o relato dos camponeses, os aviões deram rasantes sobre o acampamento e soltaram rojões sobre as famílias acampadas durante uma hora, foi então que uma das aeronaves caiu, próxima ao local, e a outra foi embora. O motivo da queda ainda não foi divulgado pela polícia.
A fazenda que tem 420 alqueires foi ocupada pelos camponeses no dia 5 de julho. A área é considerada improdutiva e pertence à empresa Fíbria, mas o prefeito afirmava ter iniciado um processo de compra da propriedade.

Desde que as famílias se instalaram, aconteceram diversas ameaças e na madrugada na última sexta-feira (10), cerca de 12 pistoleiros invadiram o acampamento e soltaram fogos de artifício contra as barracas. Na ocasião uma pessoa foi atingida e sofreu queimaduras. O episódio com as aeronaves foi o segundo atentado em menos de uma semana.

As famílias fizeram boletim de ocorrência na delegacia local e a Polícia Militar orientou o prefeito a reivindicar o direito à terra na Justiça e não à força.

Sobre o prefeito de Central de Minas

Genil Mata da Cruz (PP), além de ser o prefeito de Central de Minas, era um grande empresário da região, filho de um dos “coronéis” do Leste mineiro, com o mesmo nome. No entanto, nem só de negócios bem sucedidos vive a família dona da rede de postos de combustíveis chamada Genil.
Em 2013 o prefeito foi acusado de tráfico de combustível, em 2006 foi apontado como suspeito de envolvimento em um esquema de tráfico internacional de pessoas. Na época, a Polícia Federal investigou a participação do empresário no financiamento de viagens a brasileiros para entrar ilegalmente nos Estados Unidos, convocado para depor, às vésperas de prestar o depoimento Genil fugiu para a Itália.

Em 2001, Genil foi denunciado criminalmente pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) por ter construído um posto de gasolina sem licença ou autorização do órgão ambiental competente, e desobedecer o Departamento de Estradas e Rodagem de Minas Gerais (DER).

Nota do MST sobre o atentado

A direção estadual do MST em Minas Gerais publicou uma nota oficial para dar sua versão dos fatos.

Confira a nota na íntegra:

Na madrugada do dia 5 de julho de 2015, 300 famílias da região do Vale do Rio Doce ocuparam a fazenda Casa Branca, no município de Tumiritinga – MG, à 50 Km de Gov. Valadares, região leste do estado.

A Fazenda, com aproximadamente 1.500 hectares, pertence à empresa Fíbria Celulose. Após a ocupação compareceu a fazenda o Sr. Genil Mata da Cruz, prefeito de Central de Minas e proprietário da Rede de Posto de Combustíveis Gentil, alegando que está negociando a compra da fazenda junto a Fíbria e reivindicando a posse da área. Na ocasião, a Polícia Militar estava presente e orientou o Sr. Genil a reivindicar seu direito de posse junto à justiça.

Na quinta-feira (9), ao final da tarde, fomos informados de que o então suposto proprietário estava disposto a fazer, ele mesmo, o despejo das famílias, uma vez que ele não poderia recorrer à justiça pelo fato de não possuir nenhum documento da área. Nessa mesma tarde, caminhões foram à fazenda e retiraram duas famílias de funcionários que moravam na área. Na madrugada da sexta-feira (10), as famílias foram surpreendidas com cerca de 12 pistoleiros, dois veículos e dois tratores. Os pistoleiros efetuaram vários disparos de balas e foguetes sobre as famílias acampadas. Os tratores foram blindados, preparados para guerra.

As famílias conseguiram pedir socorro policial e os pistoleiros, ao perceberem a aproximação da polícia fugiram. Na fuga um trator caiu em uma vala.

Já no sábado (11), representantes do governo de Minas, através da mesa de conflitos agrários, e o superintendente regional do Incra-MG, preocupados com a situação de conflitos e tensão, estiveram na região e se reuniram com o suposto proprietário, com a Polícia Militar e com a Coordenação dos Trabalhadores Sem Terra. Foi o início de um importante diálogo, onde poderia culminar em uma negociação. Porém, na segunda-feira (13) recomeçaram os boatos de que o fazendeiro iria realizar o despejo.

Na tarde desta terça-feira (14), por volta das 16 horas, o fazendeiro começou a cumprir a promessa. Dois aviões começaram sobrevoar o acampamento efetuando disparos sobre as centenas de pessoas acampadas, entre elas mulheres, jovens, crianças e idosos. As famílias viveram momentos de terror. Em meios aos ataques um avião caiu e pegou fogo. A informação é que duas pessoas morreram carbonizadas.

Não sabemos as circunstâncias de tal acidente e nem quem são as vítimas. Isso cabe às autoridades investigar. O que nós do MST temos feito é nos colocar à disposição para o diálogo para fazer avançar a Reforma Agrária, mesmo que esta esteja praticamente paralisada. Essa disposição nunca nos faltará, mesmo com vários tipos de violência que temos sofrido, como o massacre de Felizburgo, Eldorado dos Carajás, entre outros.