Contundência de Dilma em entrevista pautou ambiente do Congresso

Reação da presidenta a ofensiva sofrida desde o ano esquenta as tribunas. Oposição diz que impeachment tem “justificativa constitucional”. Base ressalta conduta “golpista” e pede respeito às urnas.

Por Hylda Cavalcanti, na Rede Brasil Atual

Vanessa Grazziotin - Foto: Agência Senado

A repercussão da entrevista concedida pela presidenta Dilma Rousseff ao jornal Folha de S.Paulo dizendo que não existe fundamentação de qualquer ordem para que ela seja tirada do cargo e acusando a oposição de tentar estratégias golpistas monopolizou os debates do Congresso Nacional durante esta terça-feira (7). Chegou até mesmo a causar situações insólitas, já que em meio às críticas e declarações de solidariedade a Dilma, os parlamentares da oposição se alternaram nos plenários da Câmara e do Senado para se justificar, argumentando que o que buscam “não é golpe”.

A confusão começou já na segunda-feira, antes mesmo da entrevista de Dilma, quando o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) discutiu publicamente com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) sobre o mesmo tema e disse que a oposição ser chamada de golpista era “uma barbaridade”. “Não chamei ninguém de golpista, mas se o senhor veio defender de forma tão enfática o seu partido, é porque a carapuça serviu”, ironizou a senadora. Vários senadores comentaram o embate entre os dois colegas da véspera e, no mesmo tom de Nunes, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do PSDB, afirmou em discurso que não aceita as acusações feitas pelos petistas e que “o discurso golpista é o do PT”.

“O PT não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia. Os partidos de oposição continuarão atentos e trabalhando para impedir as reiteradas tentativas do PT para constranger e inibir a autonomia e independência das instituições", enfatizou Neves.

O presidente do PSDB contribuiu para temperar o ambiente de embates depois da veiculação de depoimentos desastrosos por duas emissoras de rádio. Em um deles, afirmou que a convenção tucana, no domingo (5), o reelegera "presidente da República". Em outra, voltou a tropeçar nas palavras ao dizer que o PSDB é o principal partido de "oposição ao Brasil".

Ronaldo Caiado (DEM-GO), outro habitual integrante da tropa de choque oposicionista no Congresso, questionou os ataques feitos à oposição e declarou que “a presidenta não pode ser imune a tudo”. “Falam tanto em respeito à República, mas a postura dela (Dilma) tem sido uma postura imperial e não republicana”.

‘Sem impeachment’

O clima de constrangimento entre os senadores da oposição com as críticas e acusações de que estão agindo como golpistas, no entanto, foi imperativo entre as sessões, principalmente no Senado. O senador Zezé Perrella (PDT-MG) disse que “o momento não é de se falar em impeachment, seja de que partido for” e acrescentou que, em vez da discussão em curso, é preciso se preocupar com a política econômica e com os altos juros, ponderando que sua contrariedade com a presença de Joaquim Levy no ministério não tira a legitimidade da presidenta. “Temos taxas de juros cada vez mais altas e um governo que, em vez de avaliar e combater isso, continua permitindo aos cidadãos comuns serem os mais sacrificados com a crise”, destacou.

A discussão foi longa. Para Jorge Viana (PT-AC), não há o que argumentar. “Defender o afastamento da presidenta Dilma hoje só tem uma definição: golpe”, ressaltou. Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) enfatizou que “quem defende a democracia deve repudiar tentativas de afastar a Dilma”.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou que considerou a entrevista da presidenta “constrangedora e patética”. “Ela não apresentou muitos argumentos para defender seu governo. Vejo como uma saída legal para ela a cassação e isso não seria golpe, embora considere que uma saída dessa forma não daria tranquilidade ao país, só deveria acontecer em último caso.”

Romero Jucá (PMDB-RR) também não avaliou que a presidenta foi bem. “Ela chamou a crise para si, como fez tempos atrás o Fernando Collor (na época em que foi presidente). A meu ver, não deveria ter dado tanto destaque aos ataques da oposição”.

Órgãos de controle

Na Câmara, o líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), declarou que Dilma revelou "prepotência e desconsideração para com os órgãos de controle do país". Em contraposição, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), acusou Aécio Neves de ser o "porta-voz do golpe" e pediu que ele "honrasse a história de seu avô" – numa referência a Tancredo Neves.

A bancada do PT na Câmara divulgou nota, assinada pelo líder, Sibá Machado (AC), ressaltando que repudia o ato realizado pelo PSDB no último domingo, durante a sua convenção nacional, por ter contribuído para “incensar o ambiente golpista”. Destacou, na mesma, que a legenda está "cada vez mais abraçada à tese do golpe" em busca de "manobras jurídicas e com o apoio de parcela expressiva da mídia comercial".

"Se o PSDB deseja voltar a governar o país, precisa, antes, vencer as eleições. O voto e a liberdade de escolha são valores imprescindíveis de um regime democrático e devem ser protegidos contra quaisquer tentações golpistas. O respeito à soberania popular foi uma conquista de toda a sociedade brasileira, que lutou e derrotou a ditadura instalada em 1964", observou Sibá Machado.