Fausto Sorini: Que fazer diante dos sinais de guerra?

Estamos em presença de uma escalada terrorista em nível internacional que vê neste momento uma perigosa ascensão.

Por Fausto Sorini, no Portal Marx 21

O objetivo é criar na opinião pública europeia e ocidental uma atmosfera de medo e insegurança que justifique depois atos de guerra por parte dos Estados Unidos e da Otan, apresentados como intervenções "necessárias" para proteger a segurança dos povos europeus.

Os incendiários atiçam o fogo, depois se apresentam como bombeiros.

Os setores mais extremados do capitalismo estadunidense não se resignam ao fato de que vivemos em um mundo em que os Estados Unidos devem conviver com igual dignidade com outros países e regiões emergentes (Rússia, China, Índia, Brasil, África do Sul..), e não podem mais ser os patrões.

Em tal ambiente, os Estados Unidos, juntamente com a Arábia Saudita, criaram o ISIS (Islamic State of Iraq and Levant*) e financiaram o seu exército de 50 mil homens.

Esse exército é composto por fanáticos (armados com as armas mais modernas), odeiam a convivência pacífica do Islã com as outras civilizações, que é a aspiração da quase totalidade das populações e comunidades islâmicas.

Esses fanáticos são usados para amedrontar os povos europeus com seus atos criminosos cada vez mais sanguinários. Para convencer esses povos de que somente uma guerra geral guiada pelos Estados Unidos e pela Otan pode trazer segurança ao mundo.

Atualmente, os Estados Unidos e a Otan estão impulsionando uma crescente contraposição político-militar contra a Rússia de Putin (e contra a China), indicados como países com que não se deve cooperar, mas como os novos inimigos a combater (a isto serve a crise ucraniana, que levou ao poder no coração da Europa um governo nazista, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia).

A Otan prepara a realização no próximo outono (hemisfério norte) das maiores manobras militares desde o final da segunda guerra mundial, nas fronteiras com a Rússia. Existe o perigo real de que os fautores dessa “terceira guerra mundial”, de que fala até mesmo o Papa, provoquem um incidente militar e uma escalada militar entre a Otan e a Rússia, que envolveria também a Itália, que continua a fazer parte da Otan.

O curto-circuito entre o ISIS, a explosão descontrolada da imigração e incidentes militares que leve a um confronto Otan-Rússia, pode determinar a criação de um cenário de guerra global.

O que podemos fazer na Itália – dentro das limitações das nossas forças – a fim de contribuir para esconjurar ou limitar o perigo de que o nosso país seja envolvido em uma nova guerra devastadora e autodestrutiva?

A primeira coisa é transmitir à nossa gente, em sua maioria desinformada, a percepção do perigo, que é escondido pelos grandes meios de comunicação.

Como fazer?

Alavanquemos a corajosa denúncia feita pelo Papa Francisco, uma das vozes mais ouvidas em nosso país.

Utilizemos e apoiemos a campanha em curso “Não à guerra, não à Otan”, que já envolveu mais de 10 mil pessoas.

Trabalhemos em toda a parte para que as informações transmitidas pelo Comitê promotor desta campanha cheguem ao maior número de pessoas: através de panfletos e dos formulários para a coleta de assinaturas pela internet.

Utilizemos todos os contatos que cada um de nós tem nas redes, para multiplicar a difusão de uma informação adequada.

Se mil pessoas divulgam de modo sistemático uma informação apropriada a outros milhares de contatos, em pouco tempo ao menos um milhão de pessoas podem ser envolvidas, de modo capilar, pessoal, com um contato direto.

Um milhão de pessoas informadas constituem já uma base a partir da qual começar a propor objetivos mais ambiciosos.

É necessário ter os pés na terra, trabalhar sobre coisas possíveis.

Trabalhemos para que no maior número possível de municípios italianos surjam comitês contra a guerra capazes de coordenar esta campanha de informação popular. E se as coisas se precipitarem, façamos com que sejam pontos de referência para qualquer eventualidade.

Estamos convencidos de que em cada município da Itália existe ao menos uma pessoa capaz de atender esse apelo e transformá-lo em um fator de organização. É a essas pessoas que nos dirigimos neste momento de forte preocupação quanto ao destino da paz e de nosso país.

Fausto Sorini é secretário Internacional do Partido dos Comunistas Italianos

*Em português – Estado Islâmico do Iraque e Levante. O termo Levante (do latim Levante) refere-se à parte oriental de um território e também pode significar "leste". (N. do T.)

Tradução de José Reinaldo Carvalho