Estudantes pró diversidade são ameaçados de morte na Federal do ABC

"Viado tem que morrer", "vai ter homofobia sim" e "viado vai morrer: bala ou aids" são algumas das ameaças escritas nas paredes da Universidade Federal do ABC (UFABC) de São Bernardo, que surgiram na última semana e estão aterrorizando os alunos. De acordo com estudantes que não quiseram se identificar, a reação pode ser motivada pela rearticulação do grupo Prisma, uma comunidade acadêmica voltada à promoção da diversidade.

Estudantes pró diversidade são ameaçados de morte na Federal do ABC

O receio dos estudantes é que a escalada da violência termine coma alguma tragédia motivada por intolerância. Um ataque pessoal, inclusive, foi registrado na última terça-feira (23), quando uma aluna, integrante do Prisma, foi ameaçada de morte nas proximidades do campus. A jovem relata ter sido atacada verbalmente por um motorista de um carro não identificado, por volta das 16h.

Diante das ameaças, um Boletim de Ocorrência foi lavrado pela o grupo Prisma e a pró-reitoria da UFABC, também por contas das pichações; o documento acusa injúria, incitação ao crime e dano ao patrimônio.

"A comunidade existe desde 2009, mas estamos nos rearticulando nas últimas semanas. Estamos com medo", disse um aluno que não quis se identificar por medo de represália.

A escalada conservadora no Congresso, com os debates colocados pelo atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), um dos líderes da bancada religiosa, como a redução da maioridade penal, parece ter chegado ao ABCD. Para a educadora e historiadora Selma Rocha, a ofensiva conservadora deve ser respondida com aprofundamento do debate.

"Não podemos deixar que uma minoria fundamentalista, que também usa métodos violentos, traga prejuízos ao debate. Essas formas fundamentalistas violentas devem ser superadas com debate democrático. Não adianta colocarmos uma pedra em cima do pensamento crítico e da compreensão da história que levaram a tais práticas tão autoritárias. Mesmo que a questão do respeito à diversidade sexual e de gênero não esteja nos planos de educação, não será possível defender a violência dentro das salas de aula", explicou Selma, ex-secretária de Educação de Santo André.

Resposta na rua

Diante da violência, o estudantes da UFABC realizam nesta sexta-feira (26) um ato "pela diversidade e contra a homofobia", a partir das 16h, no auditório principal do campus São Bernardo, que tem 3,4 mil alunos matriculados.

Por meio de nota, a UFABC garantiu que a autoria dos ataques será investigada. "Ressaltamos que não compactuamos com nenhum comportamento de desrespeito a este princípio básico, e que as ações que extrapolarem discussões respeitosas sobre quaisquer temas serão apuradas e seus autores devidamente responsabilizados", diz a nota.

Religiosos pressionam

A pressão dos grupos conservadores religiosos contra o combate à homofobia nos planos municipais de educação surtiu efeito, desta vez, também em Santo André. Durante a sessão da quinta-feira (25), membros do movimento Eu Sou Família estiveram na Câmara. O projeto da Prefeitura, que prevê os temas diversidade e gênero, sofreu diversas emendas dos vereadores para que o assunto seja retirado e acabou sendo adiado.

Inquisição

O "movimento" Eu Sou Família foi criado em 2014. De acordo com o site do grupo, a entidade pretende esclarecer "a comunidade escolar sobre as verdades aprendidas na Bíblia". O inimigo número um do movimento, ainda como aponta o portal, é o "marxismo", que teria "como alvo central a extinção da propriedade privada" e da "família tradicional monogâmica".

A organização do movimento religioso pegou de surpresa quem defende a diversidade sexual na Região e também no Brasil. Além do ABCD, a comissão que debate o Plano Municipal de Educação de São Paulo retirou da proposta qualquer alusão à diversidade sexual, após protestos religiosos. O mesmo ocorreu em Cuiabá, onde padres apareceram de batina e munidos de cartazes na Câmara local durante a votação. Na Câmara de Fortaleza e também na do Recife, embates entre defensores dos direitos LGBT e representantes religiosos marcaram a discussão, o que nada adiantou: o tema diversidade sexual também foi retirado.