Mais morde que assopra: Cunha diz que vai continuar sabotando governo

Muito antes de assumir a presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) faz oposição, as vezes velada outras escancarada, ao governo da presidenta Dilma Rousseff e, com isso, tenta arrastar o PMDB.

Por Dayane Santos

Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

Foi o que ele procurou fazer neste fim de semana, após o encerramento do 5º Congresso Nacional do PT, no sábado (13) em Salvador. Rechaçado por delegados do partido por sua política direitista e reacionária, Eduardo Cunha usou o Twitter para responder as críticas.

“Quero agradecer as manifestações de hostilidade no congresso do PT. Isso é sinal que estou no caminho certo”, escreveu Cunha.

Os delegados do congresso do PT repeliram Cunha, mas aprovaram a manutenção da aliança com o PMDB. “Talvez tivesse sido melhor que eles [petistas] aprovassem no congresso o fim da aliança e não sei se num congresso do PMDB terão a mesma sorte", disse Cunha, externando seu desejo.

Apesar das críticas serem dirigidas a ele, Cunha e a grande mídia tentaram manobrar os fatos e, novamente, pelo Twitter, o deputado disse que o PMDB está “cansado de ser agredido pelo PT constantemente”.

“É por isso que declarei ao Estadão que essa aliança não se repetirá", disse ele se referindo-se a entrevista publicada no jornal O Estado de S. Paulo no domingo (14).

Manobras de Cunha

Assim como fez com o rechaço que recebeu de alguns delegados petistas – que tentou transformar numa crítica ao PMDB –, Cunha utilizou o mesmo princípio para dizer que a aliança entre PT e PMDB não se repetirá em 2018. Na entrevista ao Estadão, ele disse que a ruptura pode ser antecipada, caso os desentendimentos entre os dois partidos se agravem.

“No momento, temos compromisso com o país e a estabilidade, mas isso não quer dizer que vamos nos submeter à humilhação do PT", disparou o deputado.

A declaração veio acompanhada da afirmação de que seu sonho é ser candidato ao Palácio do Planalto, mas também aceitaria costurar um acordo para ser vice na chapa tucana, ao lado do governador paulista Geraldo Alckmin.

O discurso de morde e assopra de Cunha é velho. Desde que assumiu a presidência da Casa emprega um tom conciliatório para encobrir seus reais propósitos, enquanto nos bastidores atua para minar a relação da sua legenda com o PT e demais aliados.

Cunha já avisou que vai reforçar “cada vez mais” suas críticas ao PT, rumo a um rompimento entre as siglas, segundo afirma a coluna Painel, da Folha de S. Paulo.

“Este modelo PMDB com o PT está esgotado. Temos obrigação de dar sustentabilidade política para o governo dela (Dilma Rousseff). Mas o PMDB vai buscar o seu caminho em 2018. Não vejo o PMDB de novo numa candidatura do PT”, disse ele.

Pauta conservadora

Principal líder da agenda conservadora que tem pautado o Congresso Nacional com projetos como terceirização, redução da maioridade penal e financiamento empresarial de campanhas, Cunha não quer que o governo exerça seu papel constitucional na divisão dos poderes, tenha opinião e atue na defesa de questões de relevante interesse nacional.

"Quando o governo entra em pautas que não são propriamente dele, como o caso da (redução) da maioridade penal, faz disso um cavalo de batalha, comete um erro. O governo quis mergulhar em algumas derrotas propositalmente. O governo pode até ter opinião, mas não pode atuar no processo ", diz ele.

Mas as manobras não ficam por aí. O foco é tentar minar a atuação do presidente do partido, Michel Temer, que além de presidente da República assumiu a articulação do governo com o Congresso.

A tese lançada para isso é a de que o PT está sabotando o trabalho de Temer. Ora, com o atual perfil do Congresso, sabotar a atuação de Temer é minar o próprio governo. Quem acredita nisso? Seria controverso que o PT e o governo sabotassem Temer, uma vez que isso enfraqueceria o próprio governo.

Posição de petistas

De outro lado, lideranças petistas demonstraram o contrário. O deputado Carlos Zaratini (PT-SP), defendeu a manutenção da aliança com o PMDB e rebateu: “Não é porque agora um oportunista de ocasião, como surgiram muitos na história da humanidade, conseguiu alçar voo e ocupar a presidência da Câmara dos Deputados, que vamos mudar nossa política por causa dessa pessoa".

O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), enfatizou: "O governo não vai criar crise onde não existe… 2018 ainda está muito longe".

Guimarães disse se dar muito bem com Temer. “Não tem fuxico entre nós dois. Não tem estresse”, garantiu o líder.