O fatídico 1º de maio da presidenta Dilma

Não, não estou falando da falsa polêmica nas redes sociais (como a maioria) que se instalou nos últimos sobre o não pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff na televisão. O fatídico 1º de maio para a presidenta foi o de 2012, quando em rede nacional falou sobre a redução de juros.

Por Ana Flávia Marx

Daquele dia em diante a reação do capital financeiro foi feroz e dura para cima da presidente. Sem trégua e com a mãozinha de fora – até porquê a maioria de suas sedes são no exterior – esse segmento tentou influenciar durante a eleição presidencial em que apoiou o candidato do PSDB, como foi caso da revista britânica The Economist, e recentemente a Financial Times reforçou a ideia de golpe na democracia em suas edições.

Tudo isso porque no discurso de 2012, Dilma foi clara sobre o esforço do governo de reduzir os juros e que tudo o “que um país produz é fruto do esforço do trabalhador e por isso, todo trabalhador tem o direito de usufruir de tudo o que o seu país produz”.

“Faz parte dessa luta o esforço do governo para reduzir os juros, a economia brasileira só será plenamente competitiva quando nossas taxas de juros seja para produtor, seja para consumidor, se igualarem as taxas praticadas no mercado internacional”, defendeu a presidente.

Segundo Dilma, “quando atingirmos esse patamar, nossos produtores vão poder produzir e vender melhor e nossos consumidores vão poder comprar e pagar com mais tranquilidade”.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, a economista Leda Paulani, relatou que “tem um pessoal que trabalha do mercado financeiro que tem um ódio visceral da presidente”.

“Depois do que ela fez – em termos de ter enfrentado esses interesses -, o mercado tem ódio dela. A expressão deles é de ódio visceral da Dilma. Não adianta. Ela jamais ia ganhar o apoio dessa gente, a condescendência e o respeito. Nunca. E politicamente isso implica que, do ponto de vista das ameaças de impeachment e etc., a coisa não ficaria mais leve para o lado dela”, contou Leda ao Valor.

Dez anos depois da Carta ao Povo Brasileiro, em que Luís Inácio Lula da Silva firmou antes da eleição do segundo turno em 2002, um pacto com diferentes setores, inclusive com capital financeiro, Dilma tentou romper com este segmento e alavancar o índice de investimento em infraestrutura e inovação.

Os bancos públicos lideraram a queda dos juros e começaram a finançiar a construção de casas populares e outras políticas governamentais.

Infelizmente, não por muito tempo. Na época não houve nenhuma manifestação dos movimentos sociais brasileiros em apoio à medida. Apenas uma nota aqui ou acolá. Nada além de demonstrações burocráticas.

Soma-se a falta de apoio, a contração da economia mundial causada pela evolução desigual da crise do capital que assola os países em desenvolvimento na sua fase atual.

Discursos anteriores

Em maio de 2013, Dilma já colocava no centro da política o Brasil como Pátria Educadora ao anunciar os royalties do Pré-Sal para a educação. No de 2014, já com o clima eleitoral anunciado, a mensagem da líder da Nação foi que o governo tem lado “o lado do povo. E quem está ao lado do povo pode até perder algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória”.

Em 2015, esta jornalista que vos escreve ainda não sabe sobre o conteúdo do pronunciamento da presidente, mas o discurso da Presidente em dois eventos em que ela afirmou que é contrária a redução da maioridade penal e também contra a terceirização nas atividades fim, em meio a esse cenário de convulsão política em que o Brasil passa, com direito a fascismo, esquerdismo e governismo, como já tivemos em tantos outros momentos da nossa história.

Em tempo* Sobre a falsa polêmica: Dilma não parece ser o tipo de líder que teme panelaço. Enfrentou a ditadura, o capital financeiro e vocês acham mesmo que ela teria medo das panelas? Não acredito nessa tese.