Morre Inês Ettiene, única guerrilheira libertada da Casa da Morte

A única presa política que conseguiu sair com vida da Casa da Morte – local usado para tortura pelos militares e que funcionava na cidade de Petrópolis, na região serrana – Inês Ettiene Romeu, de 72 anos, morreu nesta segunda-feira (27), em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Pelo menos, 20 pessoas teriam morrido após torturas no local durante a ditadura.

Inês Etienne Romeu, única presa política que conseguiu sair com vida da Casa da Morte de Petrópolis - Reprodução

De acordo com parentes, a ex-guerrilheira morreu enquanto dormia. A família de Inês Ettiene espera a chegada de parentes que vem de Minas Gerais para definir local e hora do sepultamento.

Em 5 de maio de 1971, há quase 44 anos, Inês integrava a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) quando foi presa na rua Santo Amaro, zona sul de São Paulo, pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Levada para a delegacia, a guerrilheira foi torturada antes de ser trazida para o Rio. No Estado foi transferida para a Casa da Morte, em Petrópolis.

Os torturadores a liberaram acreditando que depois de três meses de tortura e cativeiro na Casa da Morte, ela não participaria mais da luta armada e até passaria a colaborar para o regime militar. A revelação foi feita pelo tenente-coronel Paulo Malhães, morto em 2014.

Em depoimento escrito por ela ainda no hospital, em 1971, e entregue à OAB em 1979, quando ela terminou de cumprir pena imposta pelo regime militar, revelou a localização da casa e identificou alguns dos agentes que atuavam no local.

Apesar de não poder depor à Comissão Nacional da Verdade (CNV) por um problema na fala, Inês identificou seis torturadores da casa. Todo o reconhecimento foi feito com base em fotografias apresentadas pelos integrantes da comissão. Dos identificados, cinco ainda estão vivos. Apenas Freddie Perdigão Pereira está morto. Ele era apontado como um dos mais cruéis torturadores do regime militar.

Quatro integrantes do grupo foram lotados no gabinete do então ministro da Guerra, Orlando Geisel, irmão do ex-presidente Ernesto Geisel.

"Estamos conseguindo demonstrar que ela [a Casa da Morte] existiu e foi produto de uma ação deliberada do Estado brasileiro de fazer das violações aos direitos humanos uma política de Estado. Conseguimos identificar uma lista de torturadores que atuaram na Casa da Morte e listar vítimas que estiveram ou desapareceram", avaliou, na ocasião, o coordenador da CNV, Pedro Dallari.

Presente no encontro com a CNV, Inês Ettiene foi aplaudida de pé e ouviu a irmã ler uma carta às pessoas presentes no auditório do Arquivo Nacional. "Sua missão é de heroísmo. Você não tem mais o que temer. Você venceu", disse a irmã, Celina Romeu a Inês após a leitura.

Leia também:
PF encontra Camarão, o vigia da Casa da Morte do regime militar

Do Portal Vermelho, com informações de agências