Moçambique: dois símbolos africanos

Dois homens marcaram a luta de independência de Moçambique, uma das joias do império colonial criado por Portugal na África, onde precisamente foram os navegantes lusos os primeiros europeus em explorar o continente a partir do século 15.

Bandeira de Moçambique

Eduardo Mondlane e Samora Machel levaram adiante a epopeia de libertar do colonialismo um país cujo território era mais de nove vezes superior ao da metrópole. Ambos líderes pagaram com suas vidas o empenho emancipador e hoje são lembrados como heróis pelo povo moçambicano.

Mondlane e Machel retomaram a rebeldia de séculos atrás dos africanos que enfrentaram os conquistadores após a chegada de Vasco da Gama em 1498, que buscava por ordem do rei de Portugal uma rota comercial mais segura para a Índia.

Quando os portugueses chegaram ao que é atualmente o território de Moçambique, a população nativa havia criado cidades-estados que atingiram um considerável progresso social e cultural, e comercializavam com outros povos da região.

A partir da longínqua Lisboa, em 1505, o rei Manuel de Portugal, deu ordens de escravizar os mercadores muçulmanos que faziam negócios na localidade de Sofala, com o fim de controlar o comércio de ouro que procedia das famosas minas de Monomotapa.

A partir da partilha da África pelas potências coloniais da época na Conferência de Berlim de 1884, Portugal seguiu uma política oscilante que consistia em infiltrar arrendatários ou mercadores ou enviar missionários que arvoravam a religião cristã para a conquista.

Os conquistadores preparavam o terreno mediante o contato com os estados africanos utilizando enviados especiais para conhecer suas debilidades e fortalezas e depois atacar com desculpas tradicionais de provocação ou proteção dos brancos ou missionários.

No fim do século 18, Lisboa obteve o controle total do território para desenvolver, a partir de então, uma política colonial propriamente dita. O governador-geral foi a pedra angular da administração europeia.

Luta armada

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) surgiram na clandestinidade ou no exílio partidos políticos que começaram a trabalhar em prol da independência. Em resposta, as autoridades portuguesas encarceraram os dirigentes e aumentaram em 40 mil os homens de suas forças armadas coloniais e instalaram nove bases militares.

Em 1962 uma bomba explodiu em pedaços a estátua do ditador português Oliveiro Salazar na cidade de Lourenço Márquez (hoje Maputo, a capital). A cruel repressão que seguiu ao fato ocasionou cerca de 60 mortos entre a população e desencadeou uma onda de repúdio popular que estremeceu o país. A luta anticolonial adquiriu coerência e politização a partir da criação da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Em 1962 celebrou-se o Primeiro Congresso da organização que nomeou presidente o fundador da Frente, Eduardo Mondlane.

Sob sua direção, a Frelimo decidiu passar à luta armada atacando quartéis e outras posições portuguesas na nortenha província de Cabo Delgado. As operações guerrilheiras também se desenvolveram, exitosamente, em outras regiões.

A guerra criou sérias dificuldades ao regime de Portugal que não só enfrentava a de Moçambique, mas que combatia em Angola e Guiné Bissau e mantinha forças repressivas em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, e Timor. No próprio país europeu a população manifestava-se contra o fascismo.

Portugal solicitou ajuda a seus aliados para enfrentar a guerra. A assistência fundamental veio dos países membros da Otan e a África do Sul racista. Mas as operações guerrilheiras fizeram-se incontroláveis.

Em 1969, a Frelimo sofreu um duro golpe. Eduardo Mondlane morreu na Tanzânia, vítima de um atentado terrorista preparado pelos colonialistas. A organização nomeou como sucessor Samora Machel e se iniciou a última fase da guerra.

Enquanto os combatentes abriam novas frentes, os militares portugueses organizavam matanças contra a população, destacando-se pela excessiva crueldade. Porém, pelas dimensões que havia atingido a guerra de libertação, a vitória da Frelimo era inevitável.

Samora Machel foi designado presidente quando Moçambique obteve a independência em 1975, e de imediato se iniciou a reconstrução.

A nação tinha 90% de analfabetos, a atenção médica rural não existia e a população camponesa estava obrigada a viver em povoados com barracas. Muitos portugueses ao fugir do país destruíram fábricas, equipamentos agrícolas e outros. Foi a herança de séculos de escravidão e exploração colonial.

Moçambique trabalhava para superar esses males. No entanto, o povo teria que lamentar outra dolorosa perda. Em 19 de outubro de 1986, em um suspeito acidente aéreo morreu Machel, quando viajava de regresso de Maputo, procedente de uma reunião que havia tido em Lusaka, Zâmbia.

Fontes na África vincularam os colonialistas e o regime racista da África do Sul com o acidente, pelo apoio de Moçambique aos combatentes contra o opressivo sistema de apartheid.

Hoje, Mondlane e Machel são dois símbolos não só para Moçambique, mas para todo o continente.

Fonte: Prensa Latina