Dilma Rousseff: Brasil e Uruguai – um novo paradigma

Com enorme alegria visito o Uruguai pela quarta vez como presidenta do Brasil. Neste momento de despedida de José Mujica e de retorno de Tabaré Vázquez à Presidência celebro os avanços obtidos na integração bilateral e reafirmo nossa determinação de seguir adiante nesse caminho.

Por Dilma Rousseff, no El País

Dilma e Mujica - Roberto Stuckert Filho

Desde o início de meu primeiro mandato, em 2011, tive clara a natureza única e privilegiada do diálogo com o governo e a sociedade uruguaios. Esse tipo de convergência não se dá por acaso.

O espírito de confiança mútua e irmandade no relacionamento Brasil-Uruguai remonta a 1909, quando negociamos o Tratado que estabeleceu o condomínio binacional da Lagoa Mirim e do Rio Jaguarão. Além de atender ao pleito pela livre navegação, o Tratado gerou dinâmica cooperativa nas relações bilaterais, que abriu caminho para a interconexão ferroviária Rivera-Santana do Livramento (1913) e a construção da ponte internacional sobre o Rio Quaraí (1915). Cidades como Santana do Livramento e Rivera passaram a simbolizar a comunhão entre uruguaios e brasileiros.

Ciente do caráter especial das relações entre nossos países, o presidente Mujica e eu decidimos estabelecer novo paradigma para o relacionamento bilateral, baseado em iniciativas concretas, com vistas a uma integração profunda e abrangente. Para tanto, instituímos, em 2012, o Grupo de Alto Nível Brasil-Uruguai, encarregando-o de supervisionar projetos de integração em áreas prioritárias, capazes de gerar mais desenvolvimento e mais inclusão social para nossas sociedades.

Trata-se, na prática, de buscar maior complementação industrial, crescente dinamismo na integração da infraestrutura, maior fluidez em nossas fronteiras, mais e melhor comércio, além da consolidação de nossa interconexão energética.

O Parque Eólico de Artilleros, que tive o prazer de co-inaugurar, representa iniciativa de cooperação pioneira e emblemática, entre a UTE e a Eletrobras, no setor de geração renovável de energia. Artilleros soma-se à nova linha de transmissão entre o Brasil e o Uruguai, cuja entrada em operação fortalecerá a segurança energética de nossos dois países.

Uruguai-Presidenta Dilma Rousseff durante Sessão Solene de Compromisso de Honra e Declaração de Fidelidade Constitucional. 1º/3/2015. Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR.

Na evolução do comércio, verificamos resultados concretos. Em 2014, alcançamos recorde histórico, com crescimento de 27% do intercâmbio comercial. Não se trata apenas de aumento quantitativo, mas de ganho de qualidade: há apreciável incremento de produtos processados e manufaturados nas exportações entre os países. É significativa, nesse contexto, a consolidação da indústria automobilística no Uruguai, para o que contribuem decisivamente os mercados do Brasil e dos demais sócios do Mercosul.

O intenso relacionamento entre o Brasil e o Uruguai transcende nossas fronteiras. A atuação coordenada de nossos dois países tem sido essencial para a construção e consolidação do Mercosul, da Unasul e da Celac.

Isso tem sido possível porque compartilhamos valores — fundados na paz, na solidariedade e na democracia — e porque estamos empenhados na busca soberana pelo desenvolvimento com justiça social. Claro está que a integração bilateral e regional contribui decisivamente para esses objetivos.

Neste momento de celebração da democracia no Uruguai, quero registrar, com sentida emoção, meu apreço e minha amizade ao presidente José Mujica. Dom Pepe é, a um só tempo, exemplo de vida e fonte de inspiração, tendo deixado uma marca na história uruguaia e regional, tanto por sua trajetória pessoal, de luta permanente pela justiça social, quanto pelo que realizou em benefício do povo uruguaio.

Tenho plena convicção de que manteremos, com o presidente Tabaré Vázquez, o mesmo nível de excelência no relacionamento entre nossos países. O retorno de Tabaré – amigo do Brasil – à chefia da nação uruguaia nos dá a certeza de podermos avançar ainda mais na consolidação da integração entre o Uruguai e o Brasil, em prol do desenvolvimento e do bem-estar das nossas sociedades e do conjunto da região.