Imbassahy e PSDB receberam doações de empresas investigadas 

Desde que as investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), sobre as denúncias de corrupção na Petrobras vieram a público, o deputado federal do PSDB da Bahia Antônio Imbassahy tem utilizado todo o arsenal que possui para disparar uma série de críticas ferozes ao governo. 

tucano

O último bombardeio foi feito por ele na página de opinião do jornal A Tarde desta terça-feira (10/2), onde publicou um artigo insinuando que “o petrolão sobe a rampa”. No texto, condena o uso de dinheiro da Petrobras para financiamento de campanhas eleitorais do PT.

Mas nenhum espaço é mais utilizado para as críticas do que a página que o deputado possui no Facebook. Lá, Imbassahy fala na instalação de uma organização criminosa no poder e se queixa bastante da existência de uma “crise moral e ética” no Brasil. O que o parlamentar não pode contar é que, nas novelas sobre corrupção, ele também já foi personagem, principalmente durante os dois mandatos que esteve à frente da Prefeitura de Salvador (1997-2004). Outros personagens da trama que ele participou outrora se repetem, agora.

Nos idos de 1999, o então prefeito, que não era ainda do PSDB, mas do antigo PFL de Antônio Carlos Magalhães (ACM-Avô), abriu licitação para a construção do Metrô da capital, uma das obras públicas mais polêmicas do estado – ganhou o noticiário nacional pelos desvios de dinheiro público e por ter demorado 14 anos para ser concluída. Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o processo de licitação da prefeitura foi fraudado para que duas empreiteiras participantes pudessem “vencer”. Quais são elas? Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.

Executivos das duas construtoras, as mesmas que aparecem hoje nas denúncias da Petrobras, foram denunciados por formação de cartel e quadrilha, além da fraude na licitação. As empresas se uniram à Siemens – a mesma do cartel no metrô de São Paulo – para criar a Metrosal, que participou da licitação em Salvador, vencida pelo consórcio Cigla. Ainda segundo a denúncia, a Metrosal só conseguiu “vencer” porque pagou cerca de R$ 11 milhões para a Cigla desistir da obra.

Em 2010, o MPF propôs ação por improbidade administrativa contra a Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez e mais outras quatro: Norberto Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e Constran – as três primeiras também aparecem na lista da Laja Jato -, além de 11 pessoas ligadas à administração pública municipal. De acordo com o órgão, os cofres públicos tiveram um prejuízo de R$ 100 milhões, por conta das irregularidades no processo licitatório e na execução das obras do Metrô de Salvador.

Desde a Ação Penal 470 – que ficou conhecida como Mensalão -, a oposição vocifera a tese de que os gestores públicos em cargos de superioridade hierárquica precisam responder pelos crimes cometidos pelos subordinados. Foi assim que tentaram incluir o ex-presidente Lula no processo. Com a presidenta Dilma, a história se repete. Na contramão da defesa desse argumento está a própria oposição, que tem na participação de subordinados de Imbassahy na fraude do metrô uma contradição.

Campanhas

No mesmo ano de 2010, Imbassahy disputava uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSDB – já não era mais PFL. Conseguiu se eleger e, ao final da campanha, apresentou à Justiça Eleitoral a prestação de contas: R$ 583.982,88 foram gastos. Dois dos maiores doares foram as empresas Coesa Engenharia e Construtora Barbosa Mello – cada uma ofertou R$ 100 mil ao candidato. Os nomes das duas empresas aparecem na lista de investigadas na Operação Lava Jato.

Subsidiária da OAS – a mesma da fraude do metrô da capital -, a Coesa Engenharia foi umas das empresas que fizeram negócios com uma construtora de fachada controlada pelo esquema do doleiro Alberto Youssef. A Barbosa Mello foi identificada como uma das empresas que repassaram dinheiro a outra empresa de fachada, ligada, supostamente, a um laranja e amigo de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás.

Se 2010 parecer distante, a prestação de contas de Imbassahy referente à última eleição, de 2014, não deixa dúvidas quanto à possibilidade de recebimento de dinheiro advindo de fraudes.

Na tentativa de se manter na Câmara dos Deputados, o parlamentar tucano multiplicou por sete a arrecadação, passando de R$ 583 mil, em 2010, para R$ 4,2 milhões, em 2014. À Justiça Eleitoral declarou que muitos dos valores foram repassados pelos diretórios estadual e nacional do PSDB. Entre os colaboradores estão, novamente, empresas investigadas na operação da PF.

Por meio do partido, Imbassahy recebeu contribuições das empresas Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO) – ligada ao grupo Odebrecht, que também aparece no processo da fraude das licitações do metrô -, a UTC Engenharia e a OAS Empreendimentos, que doaram, respectivamente, R$ 269.700,00, R$ 76.875,00 e R$ 250.000,00. Somados, os valores chegam a quase R$ 600 mil, valor maior do que os gastos com a primeira campanha.

A nossa equipe tentou localizar, também, a prestação de contas das campanhas de Imbassahy nas duas vezes que concorreu à Prefeitura de Salvador (1996 e 2000), mas o Tribunal Regional Eleitoral do Estado (TRE-BA) não respondeu às solicitações.

Ataques

Em novo desdobramento da Operação Lava Jato, a Polícia Federal divulgou documentos obtidos na sede da empreiteira Camargo Correa, em São Paulo. Uma das planilhas localizadas menciona o ex-deputado federal e atual prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) e o associa a dois valores em dólares de US$ 100 mil e US$ 300 mil, o que levanta uma suspeita sobre a participação dele no esquema. O prefeito é aliado de Imbassahy e também compõe a oposição aos governos do PT em nível nacional e estadual.

A comprovação de que Imbassahy e o PSDB receberam dinheiro de empresas investigadas em processos de corrupção e a suspeita de que um aliado pode estar associado ao esquema colocam em xeque a legitimidade das críticas do parlamentar baiano, evidentemente. Para além das questões éticas e morais, há de se questionar, no mínimo, a seletividade do tucano, que mira os ataques apenas aos suspeitos que possuem alguma ligação com o PT.

Fonte: PCdoB-BA