Mídia comemora, FHC prega golpe e Noblat aparece de Batman 

A eleição, por ampla margem de votos, de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) para a presidência da Câmara, desencadeou uma efusiva comemoração na mídia hegemônica. A causa de tanta alegria é a esperança da retomada do poder pelas forças conservadoras em curto ou médio prazo.

Reparem no tom eufórico das manchetes: “Cunha derrota Planalto e se elege presidente na Câmara” (O Globo), “Câmara elege Cunha e derrota Dilma” (Folha de S. Paulo), “Eduardo Cunha derrota governo e é eleito presidente da Câmara” (O Estado de S. Paulo), “Dilma sofre grave derrota e PT perde poder na Câmara” (Valor Econômico). Já no domingo (01), em artigo publicado em O Estado de S. Paulo, FHC clamou por um golpe usando o judiciário como instrumento (veja matéria do Vermelho). Nesta segunda (02) o mais importante garoto de recados da famiglia Marinho, Ricardo Noblat, em sua coluna, deixa claro o porquê de tanta esperança e acaba relevando sua identidade secreta. Leia na nota abaixo.

Noblat é o Batman

No domingo (01) foi notícia a aparição em frente ao Planalto de um sujeito fantasiado de Batman, portando um cartaz com os seguintes dizeres: “Dilma seu tempo está acabando, a lava jato está chegando”. Hoje foi descoberta a identidade do misterioso golpista: trata-se do jornalista Ricardo Noblat. Quem duvida é só ler a sua coluna desta segunda (02) em O Globo onde ele repete exatamente o conteúdo do cartaz. Não pode ser só coincidência. Embora nem Lula, nem Dilma tenham sido alvos de investigação ou denúncia na operação Lava a Jato diz Noblat/Batman, sabedor que o juiz Sérgio Moro lê O Globo de joelhos: “o que mais apavora o governo: é a atribuição do presidente da Câmara de receber ou ignorar pedidos de impeachment do presidente da República”. Para Noblat os que fazem “delação premiada” na operação lava jato “só têm uma saída: em troca de penas menores, contar tudo o que sabem sobre o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras”, o que para o colunista amestrado significa que o “caso deverá chegar a Lula. E em Dilma”. A coluna termina com um cínico: “Bom dia, Eduardo”, o que na linguagem cifrada do Batman de fancaria quer dizer: “Cunha, conte conosco para blindá-lo desde que faça o serviço”. Mais claro só se ele acrescentasse: "Leu tudo direitinho, Dr. Moro?".

Enfrentando o golpe

As edições de hoje dos jornalões mostram claramente que a nova correlação de forças na Câmara deu impulso aos planos golpistas do sistema oposicionista. Seria risível ver o sustentáculo do que há de mais corrupto no Brasil (a mídia hegemônica) travestindo-se de campeão da moral e da ética. Só não é engraçado porque engana muita gente e movimenta com isso força política real. O editorial do Vermelho foi preciso. Avaliando a eleição de Cunha, diz que “a governabilidade depende da mobilização popular”.

Petrobrax

Nesta luta devemos também lembrar constantemente certas informações que a mídia oculta. Por exemplo: a prática de autorizar a Petrobras a contratar sem licitação foi iniciativa de FHC, através de um decreto de 1998, decreto este confirmado pelo STF. Apenas entre 2001 e 2002 foram R$ 25 bilhões de compras da Petrobras sem licitação, o que significa R$ 12,5 bilhões por ano. Isso permite concluir que entre a edição do decreto e o fim do governo FHC foram gastos cerca de R$ 50 bilhões em compras sem licitação e estamos falando de valores de 13 anos atrás sem atualização. Foi a época da Petrobrax, quando chegou a ser anunciada com pompa e circunstância que a estatal iria mudar de nome, o que não conseguiram fazer graças à resistência do povo. Mas só a feitura da logo, trocando o “bras” por “brax”, custou, no ano 2.000, a bagatela de R$ 700 mil, o que em valores corrigidos significa mais de R$ 2 milhões, só para fazer uma logo! Mas a mídia na época não fazia editoriais pedindo apuração drástica. O MP dormia em berço esplêndido e quando a oposição denunciava os jornalões logo acusavam os opositores de “objetivos políticos”.

A Globo democrata?

Sob pretexto de combater o terror, EUA e Reino Unido ameaçam privacidade na internet”. Parece um texto da esquerda certo? Nada mais errado. É a chamada de uma matéria em O Globo (de 02/1), que ainda reproduz a declaração do sociólogo Sérgio Amadeu: “existe um movimento de militarização do mundo cibernético, com governos usando técnicas de big data e mineração de dados para levantar informações sobre todos os internautas. É um grande risco para a democracia”. O que explica este pequeno surto de discurso em favor da democracia em uma organização (Sistema Globo) conhecida por sua vocação golpista? Talvez o fato de que em janeiro de 2015 tenha alcançado índices tão baixos de audiência na TV aberta de sua propriedade que foi o pior janeiro de sua história. E aí ao diversificar sua plataforma de mídias o sistema Globo teme que o controle da internet pelo centro do imperialismo venha junto com o favorecimento por parte deste imperialismo às gigantes da comunicação mundial, que a Globo nem sonha em encarar, e daí esta lembrança extemporânea de se transmutar em defensora da internet livre. Pensa que engana quem?

Ponto sem nó

Aliás, a Globo não dá ponto sem nó. Os que gostam de esporte devem ter estranhado a quantidade inédita de matérias nos veículos do sistema Globo promovendo o Futebol Americano, tendo como gancho a realização do Super Bowl deste domingo (01). O site globoesporte.com vibra: “No Brasil, foram enviados mais de 817 mil tweets sobre o jogo. Mais do que o dobro de menções com termos relacionados à final da Copa do Brasil do ano passado, entre Atlético-MG e Cruzeiro”. O programa da CBN (Sistema Globo) chamado “Hora de expediente” dedicou seus longos (para o ouvinte) oito minutos a exaltar o futebol americano, a dizer que o Brasil não consegue fazer um espetáculo igual ao Super Bowl, e um dos comentaristas afirmou que no Rio de Janeiro hoje para uma criança é mais atrativa uma camisa de futebol americano do que uma camisa do seu time de “futebol soccer” (ele falou assim mesmo: “futebol soccer”, pois deve achar que hoje quando se fala em futebol no Brasil todos pensam logo no futebol americano). Não se espantem se em breve surgir a notícia de que a Globo comprou os direitos de transmissão dos jogos da liga profissional de futebol americano para o Brasil.

“A burguesia não tem charme nem é discreta”

Cazuza é que estava certo. A coluna Gente Boa, publicada em O Globo de 02/1, informa que “a onda agora nos casamentos moderninhos do Rio é aparecer na igreja de Kombi. Mas não pode ser qualquer uma, tem que ser antiguinha. Vintage”. Sem comentários.

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