Bienal debate relatórios da Comissão da Verdade da UNE

Os relatórios parciais da Comissão da Verdade da União Nacional dos Estudantes (UNE) foram debatidos nesta segunda-feira (2) durante a nona bienal da entidade, que ocorre até sexta-feira (6), no Rio de Janeiro. 

Congresso Ibiúna

O debate apresentou casos como os dos estudantes Fernando Santa Cruz, da Universidade Federal Fluminense, desaparecido em 1974; e do estudante secundarista Edson Luís de Lima e Souto, assassinado pela ditadura militar em 1968. A ideia foi apresentar às novas gerações um pouco da história de repressão sofrida pelo movimento estudantil.

Para o ex-presidente da UNE Aldo Arantes (1961-1962), é muito importante que todos os segmentos da sociedade façam levantamento sobre o que ocorreu durante o período da ditadura militar, principalmente em um setor tão atingido como o dos estudantes.

"Isso tem sido feito com as lideranças sindicais, estudantis, advogados, sobretudo nessa situação concreta, de uma ditadura militar que assassinou, torturou, censurou. Conhecer a história é a melhor forma de impedir que isso volte a ocorrer, e é necessário que a juventude, o povo, tome conhecimento disso para combater certas tendências que passam a surgir. Inclusive com setores que defendem o retorno da ditadura militar, quando foi exatamente um período de retrocesso, não só do ponto de visto econômico e social, mas, sobretudo, do ponto de vista político, com os assassinatos, a violência que foi praticada", discursou.

De acordo com ele, como a juventude brasileira sempre tem história de participação social e compromisso com as mudança, acaba pagando "um preço pesado". A vice-presidenta da Comissão de Anistia, Sueli Bellato, destacou que, além de revelar a história do ponto de vista das vítimas, ainda é preciso esclarecer a participação de agentes da repressão infiltrados no movimento estudantil.

"A estrutura que foi formada na época da repressão para legalizar a função do olheiro, a função do delator ainda precisa ser esclarecida, porque muitos estudante também cumpriram um papel que não era de estudante, mas de agente da repressão. Isso fez com que muitos jovens fossem punidos injustamente e ilegalmente. Então, acho que é fundamental para não se repetir e para que a gente conheça se na estrutura atual há alguma herança do passado que deva ser sanada", salientou.

De acordo com a presidenta da UNE, Vic Barros, já foram lançados alguns relatório parciais da Comissão da Verdade da entidade sobre casos como o do estudante da Universidade de Brasília (UnB) Honestino Guimarães, ex-presidente da UNE, assassinado pela ditadura militar; e sobre a estudante da Universidade de São Paulo (USP) Lenira Resende, vice-presidenta da UNE, assassinada na Guerrilha do Araguaia. Além desses casos, o debate lembrou a historia da sede da UNE, no Rio, incendiada pela repressão, em 1964.

"A nossa ideia hoje foi fazer um diálogo que pudesse adicionar mais informações, mas também apresentar um pouco do que representa a sede da UNE na história do movimento estudantil; a história de ataques que a sede da UNE, o espaço de reunião do poder jovem brasileiro, vem sofrendo. Nesse momento, uma contribuição que a gente dá para o resgate da memória é a reconstrução da sede, na Praia do Flamengo 132, com projeto doado por Oscar Niemeyer, que voltará a ser um grande ponto de encontro do movimento estudantil", relatou.

A UNE pretende lançar o relatório final da Comissão da Verdade, na forma de livro, durante o próximo Congresso Nacional dos Estudantes, previsto para junho.

Leia mais:
Bienal da UNE inicia as ações da juventude com grandes desafios

Fonte: Agência Brasil