Sardenberg e os bobos

Quando se começa a ler um artigo com o título “O povo não é bobo”, tudo que se espera é que o autor não trate o povo como bobo. 

Bobo da Corte

Pois Carlos Alberto Sardengerg, sempre original, conseguiu inverter as expectativas: o leitor de seu artigo em O Globo de 15/1, com o título já mencionado, sente-se tratado como um perfeito débil mental.

O mundo encantado de Sardenberg

Sardenberg, a pretexto de combater a democratização dos meios de comunicação, quer convencer seu triste leitor de que na “imprensa privada de qualidade” os jornalistas são guiados, única e tão somente, por “um código formal ou informal com o objetivo de apurar e publicar o que é notícia ou opinião relevante”. Ou seja, não existe manipulação, ordem da direção sobre que temas podem ou não ser tratados ou como devem ser tratados, etc. Para Sardenberg só existe manipulação na mídia pública. É apenas coincidência que a opinião do Sardenberg sobre a reforma da mídia, sobre política econômica e sobre a conjuntura internacional seja a mesma dos seus patrões. Afinal, todo mundo tem o direito de criar seu mundo encantado, ainda mais quando se trabalha nele. Nem que seja, como em alguns casos, como bobo da corte.

O ovo da serpente

A conhecida frase de Joseph Pulitzer: “com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”, tem no Brasil de hoje especial significado. A esmagadora torrente de artigos e notícias manipuladas despejadas pela mídia hegemônica todos os dias sobre a população deixa seus efeitos nocivos claramente à mostra. Vão se formando batalhões de candidatos a membros de pelotão das SA (tropa de combate de rua dos nazistas). Na Folha On line de 15/1 uma matéria repercutia a tentativa da presidenta Dilma de falar com o presidente da Indonésia visando pedir clemência para um brasileiro preso naquele país. Segundo autoridades indonésias Marco Archer Moreira, preso por tráfico de drogas, será fuzilado neste próximo sábado (17/1) e Dilma busca intervir para evitar a execução.

Os comentários e uma ironia involuntária

Antes das 5h da manhã, pouco depois de a matéria acima citada ter sido publicada, já havia dois comentários. Um, assinado por “Brigador”, dizia “Carioca ‘Isspeerttoo’ achando que na Indonésia era como no Brasil : Impunidade Garantida…com direito a Bolsa Prisão,.dançou…..a presidenta, deveria é importar esta lei para cá…pois a bhandidagem brasileira, cresce em progressão geométrica,e ficamos cada vez mais reféns….né turma dos DH.???”. O segundo comentário, assinado por Gil: “corruptos protegendo traficantes…..pq será ????”. Logo abaixo dos comentários vinha a ressalva, uma ironia involuntária: “O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem”.

Tarefa premente

Exemplos como estes, tão comuns em qualquer seção de cartas ou de comentários na mídia hegemônica, deixam patente a importância do campo popular dedicar grande esforço na luta de ideias em defesa dos valores da democracia, da solidariedade e do socialismo.

Merval Ordena

Merval Pereira é tão poderoso que conseguiu entrar na Academia Brasileira de Letras (ABL) sem ter escrito um livro. Não foi o primeiro. Antes dele seu falecido patrão, Roberto Marinho, havia alcançado o mesmo feito, que depois se tornou banal. Merval manda tanto que em relação à justiça brasileira ele não opina: ordena. Em sua coluna publicada em O Globo de 15/1, com o título “Falta um”, ele dá várias ordens: decreta a prisão de um acusado, Renato Duque, segundo ele “umbilicalmente ligado ao PT”, dá um pito no juiz responsável ao afirmar que Renato Duque teve “tratamento diferenciado”, exige que a investigação chegue ao Lula, entre outras ordens, nenhuma delas atingindo, é claro, Eduardo Cunha, o probo, ou o sacrossanto PSDB.

Bom dia macabro

Na madrugada do dia 15/1 um incêndio destruiu um Shopping Popular, na Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo. Os bombeiros trabalharam desde 3h30m para apagar o fogo que destruiu depósitos de pequenas lojas, principalmente de imigrantes que vendem artigos baratos. O apresentador do Bom Dia São Paulo, Rodrigo Bocardi, chamou a reportagem para falar sobre o incêndio, por volta das 6h15m, da seguinte forma: “o dia ainda está um pouco escuro mas na 25 de março tem luz, pelo menos a luz do incêndio”. Hilariante.

Cadê a Greve Geral?

Durante semanas a mídia hegemônica falou de uma greve geral que aconteceria na Venezuela. A tal greve foi um rotundo fiasco só superado pela vergonha dos monopólios que simplesmente nada mais falaram do assunto. Mas a Folha, edição 15/1, reproduz declaração do líder oposicionista Henrique Capriles, dizendo que a Venezuela está “à beira do colapso”. Caso o colapso não venha, não tem problema, amanhã eles mudam de assunto de novo.

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