O Oráculo

A senadora Marta Suplicy assumiu, muito recentemente, o papel de oráculo da mídia hegemônica. Tudo que ela diz é verdade, aconteceu ou acontecerá.

Marta Suplicy

Em O Estado de S. Paulo, edição 14/1, Dora Kramer escreve: “Tudo o que ela disse a Eliane Cantahêde na entrevista publicada domingo no Estado é a expressão dos fatos”. A festejada Eliana Cantahêde, na mesma edição, colocou o seguinte título em sua coluna: “A verdade (de Marta) dói”.

Lembrando Cervantes

Miguel de Cervantes Saavedra dizia que “ainda que a traição agrade, o traidor é sempre odiado”. Talvez para nos lembrar disso o editorial do jornal Folha de S. Paulo, edição 14/1, trate tão mal a senadora petista. Em sua já famosa entrevista, Marta declarou que todo dia ao ler os jornais fica “estarrecida com os desmandos (do governo)”. Pergunta o editorial da Folha (e nesse caso com razão): “seria o caso de indagar por quanto tempo (Marta) ficou sem ler a imprensa brasileira e quando voltou a fazê-lo”. E ainda dá uma estocada final: “Marta Suplicy produz sua incompatibilidade com o PT, sem abrir mão do lulismo que lhe possa convir”.

Sobrou pro Gramsci

O dirigente e teórico comunista Antônio Gramsci “pensava a política como ‘hegemonia civil’ e não como hegemonia de uma classe e menos ainda de um governo dos trabalhadores”. Quem escreveu isso foi Alberto Aggio, que publicou esta brilhante constatação na página 2 de O Estado de S. Paulo, edição 14/1. No afã de atacar o PT, Aggio colocou Gramsci no meio. Não foi à toa. Alberto Aggio é ligado ao PPS e conhecido por interpretar as ideias gramscinianas de uma forma tão original que o próprio Gramsci não as reconheceria. Com a palavra, Gramsci, para quem o Partido deve “cumprir a sua tarefa fundamental, de fazer com que o proletariado conquiste uma completa independência política, dar-lhe uma fisionomia, uma personalidade, uma consciência revolucionária precisa, impedir toda infiltração e influência desagregadora de classes e elementos que, mesmo tendo interesses contrários ao capitalismo, não querem conduzir a luta contra este até as suas últimas consequências” (A Construção do Partido Comunista, Gramsci).

Ainda para o Aggio

Será que o articulista do Estadão, que se pretende especialista em Gramsci e diz que Gramsci “não pensava a política como hegemonia de uma classe” sequer leu o conhecido “Cadernos do Cárcere”? Vejam um trecho: “desde que todo partido não é senão uma nomenclatura de classe, é evidente que para o partido que se propõe a anular a divisão em classes, a perfeição e a plenitude consistem no não existir mais porque não existirão mais classes e portanto suas expressões” (Cadernos do Cárcere, Gramsci). Faz o seguinte Aggio: copie seus colegas de jornal e cite a Marta Suplicy que é mais garantido.

Parem as máquinas!

Está imperdível a alentada entrevista (ocupa metade da página 2 do primeiro caderno) de O Globo, edição 14/1, com Brian Moura. O entrevistado é nada menos do que membro do Conselho Jedi do Rio de Janeiro! Ele faz uma revelação bombástica: os trekies (fãs de “Jornada nas Estrelas”) “são arqui-inimigos dos jedis”. É esperada para breve uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir a questão.

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