Brasil vence o Mundial de Piscina Curta no Catar e faz história

A equipe que defendeu o Brasil no Campeonato Mundial de Piscina Curta, encerrado no domingo (7), em Doha, no Catar, protagonizou feitos históricos para a natação brasileira. Com 10 pódios conquistados — sete ouros, uma prata e dois bronzes —, o Brasil terminou a 12ª edição da competição como o campeão geral, seguido pela Hungria, com 11 medalhas (6 de ouro, 3 de pratas e 2 de bronze), e pela Holanda, em terceiro, com 12 medalhas (5 de ouro, 1 de prata e 6 de bronze).

equipe natação campeão mundial - Satiro Sodre/SSPress

Seis medalhistas do Brasil recebem apoio do Ministério do Esporte por meio do programa Bolsa-Atleta: Felipe França (5 ouros), Cesar Cielo (3 ouros e 2 bronze) , Etiene Medeiros (2 ouros e 1 bronze), Guilherme Guido (2 ouro), Nicholas Santos (2 ouros e 1 prata), Marcos Macedo (1 ouro) e Larissa Oliveira (1ouro e 2 bronze).

Dois nadadores, em especial, voltarão para o Brasil tendo muito o que comemorar. No domingo, a natação feminina viveu um momento inesquecível quando a pernambucana Etiene Medeiros terminou a prova dos 50m costas com o tempo de 25s67. A marca não garantiu apenas a medalha de ouro para a brasileira. Etiene, além de se tornar a primeira campeã do país em Campeonatos Mundiais de natação, consagrou-se como a recordista mundial da prova. É a primeira vez uma brasileira quebra um recorde mundial na natação.

Quem também deixará o Catar consagrado foi Felipe França, que terminou a competição como o maior medalhista de ouro, com cinco vitórias, conquistadas nas provas de 100m e 50m peito, revezamento 4 x 50m medley misto, revezamento 4 x 100m medley masculino e revezamento 4 x 50m medley masculino.

Etiene Medeiros, de 23 anos, despontou como uma promessa da natação brasileira aos 17 anos, quando foi vice-campeã nos 50m costas do Mundial Júnior da Fina em 2008. No entanto, há dois anos ela redirecionou sua vida para um programa especial de preparação que, em última instância, foi responsável por levá-la ao topo do pódio no Mundial de Doha e ao recorde mundial dos 50m costas.

“Mudei minha vida toda. Trabalhei duro e estou muito focada. Sabia que qualquer uma que ganhasse a prova poderia bater o recorde mundial. Não pensei no recorde. Pensei em bater na frente, em ganhar. Pensei em todas as vezes que caí na água aqui e em tudo o que treinei”, declarou Etiene.

Há dois anos, a nadadora mudou-se para São Paulo para treinar com Fernando Vanzella — responsável pela natação feminina na Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos — no clube Sesi. Lá, Etiene começou a cumprir uma programação rígida. No Mundial em Piscina Curta de Istambul, em 2012, ela foi a 10ª na mesma prova em que brilhou em 2014. Na Turquia, o novo trabalho tinha recém-começado e era a despedida de uma geração valente que tinha Flávia Delaroli-Cazziolato e Fabíola Molina como referência. Ali, estavam em seu primeiro Mundial adulto Etiene Medeiros, Larissa Oliveira e Alessandra Marchioro, algumas das atletas que assumiriam a equipe nacional nas temporadas seguintes.

“Vejo a estrutura da natação brasileira para o feminino completamente diferente e muito boa. Mudanças não se fazem em um ou dois anos. Isso é fruto de um processo do qual um monte de gente fez parte. Tem muita menina talentosa no Brasil e espero que esse título sirva pra motivá-las a treinar para um dia também chegarem aqui”, continuou Etiene.

Quem também comemorou bastante foi Felipe França. “Eu tive muitos motivos para ficar feliz. Saio cem por cento contente com o meu desempenho. Todas as minhas metas foram atingidas e agora já vamos voltar pensando no Mundial em Piscina Longa do ano que vem. A natação está num ótimo momento no Brasil e eu também estou. Sinto que não estava preparado antes, mas agora estou e as coisas aconteceram. Só tenho a agradecer especialmente a Deus por tudo o que aconteceu aqui”, declarou o campeão, que fez questão de ressaltar a importância do ouro de Cielo nos 100m livre, depois de o campeão olímpico ter ficado com o bronze nos 50m livre. “Fiquei feliz também pela prova do Cesar de 100m livre. Ele venceu não porque o adversário cansou ou errou. Ele venceu pela superação pessoal dele, pelo esforço dele, e isso é bom demais de ver”, destacou.

Nova página

Para Cesar Cielo, a campanha brasileira no Mundial de Doha representou um marco para a natação do Brasil. “A natação brasileira escreveu uma nova página. Esse Mundial é histórico e já se tornou um dos mais importantes não só para a natação, mas para o esporte do país como um todo”, avaliou o nadador, que fez uma longa avaliação da postura de seus companheiros de Seleção Brasileira.

“Pode pesquisar… Qual o esporte que tem um medalhista de ouro em cinco provas num mesmo Mundial, como o (Felipe) França? E a Etiene, que estabeleceu um novo parâmetro também não só para a natação feminina, mas para o esporte feminino no país. Pela primeira vez vi a equipe com desejo real de vencer, com a atitude de campeã. No revezamento os caras queriam o ouro e me deixaram em condições para isso. Então, vi que não podia decepcionar. Sem dúvida foi uma das provas mais emocionantes que eu já nadei. Eu sei que as competições têm pesos e glamour diferentes, mas essa aqui foi, sim, muito importante, porque estávamos em pé de igualdade com todas as principais equipes. Também faltavam alguns atletas de ponta no nosso time como o Thiago (Pereira), o Bruno (Fratus) e o Leo (Leonardo de Deus), por exemplo. As outras equipes também vieram com vários de seus campeões olímpicos e outros faltaram, isso é normal. Estou feliz por ver que o Brasil cresceu e evoluiu como time, que todos são hoje muito profissionais, sabem como agir e o que tem que fazer. O resultado a gente está vendo aqui: Brasil campeão geral”, comemorou Cielo.

Ao final, o técnico Alberto Silva ressaltou o espírito de equipe dos brasileiros e lembrou de todo o apoio que os atletas e os demais profissionais receberam até chegar a este resultado histórico para a natação brasileira.

“Foi realmente maravilhoso. Todos estão de parabéns. Eu senti um Brasil unido, com os atletas vibrando pela conquista dos colegas e querendo participar. Muitos deixaram de lado suas próprias aspirações para poder beneficiar a equipe, como o pessoal que nadou os revezamentos. Eu sentia falta de ver esse espírito no time e acho que isso fez a diferença. Um resultado desses não nasce da noite para o dia. Isso vem em mudanças quase que diárias e muita gente participa. Eu não posso deixar de agradecer ao presidente Coaracy (Coaracy Nunes Filho, presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos – CBDA ) e ao Ricardo (Ricardo de Moura, superintendente técnico da CBDA), por acreditarem no nosso trabalho e fazerem tudo o que é possível para que a gente tenha as condições ideais, com os recursos dos Correios, do Ministério dos Esporte e de todos os nossos patrocinadores e apoiadores”, agradeceu.

“É claro que sabemos que ainda falta um caminho a ser percorrido para que o Brasil seja a potência esportiva que a gente sonha, mas muito está sendo feito e é preciso reconhecer. No mais, vamos passar agora a outra fase, sempre mirando nos objetivos e fazendo o possível para que a equipe brasileira chegue realmente no topo”, concluiu o treinador.

O próximo desafio da natação brasileira será o Campeonato Brasileiro Sênior e o Torneio Open, simultâneos, na piscina do Botafogo, no Rio de Janeiro, de 17 a 20 de dezembro. A competição já será seletiva para os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, e para o Mundial dos Esportes Aquáticos de Kazan, na Rússia, em 2015.

A seleção brasileira de natação disputou o Mundial de Doha com recursos dos Correios – Patrocinador Oficial dos Desportos Aquáticos Brasileiros, e ainda do Bradesco/Lei de Incentivo Fiscal, Lei Agnelo/Piva – Governo Federal – Ministério do Esporte, Speedo, Sadia e Universidade Estácio de Sá.

As medalhas do Brasil em Doha

Ouro

1. 4 x 50m medley
Guilherme Guido, Felipe França, Nicholas Santos e Cesar Cielo – 1m30s51

2. 100m peito
Felipe França – 56s29

3. 50m costas
Etiene Medeiros – Brasil – 25s67 (recorde mundial)

4. 4 x 50m medley misto
Etiene Medeiros, Felipe França, Nicholas Santos e Larissa Oliveira – 1m37s26

5. 100m livre masculino
Cesar Cielo – 45s75

6. 50m peito
1º Felipe França – 25s63

7. 4 x 100m medley masculino
Guilherme Guido, Felipe França Silva, Marcos Macedo e Cesar Cielo Filho – 3m21s14

Prata
8. 50m borboleta
Nicholas Santos – 22s08

Bronze
9. 50m livre
Cesar Cielo – 20s88

10. 4 x 50m livre misto
Cesar Cielo, João de Lucca, Etiene Medeiros e Larissa Oliveira – 1m29s17

Quadro de medalhas

1º Brasil – 10 medalhas
7 de ouro, 1 de prata e 2 de bronze

2º Hungria – 11
6 de ouro, 3 de pratas e 2 de bronze

3º Holanda – 12
5 de ouro, 1 de prata e 6 de bronze

Fonte: Ministério do Esporte