Morte de Loreta Valadares completa 10 anos

Nesta segunda-feira, dia 24 de novembro de 2014, faz 10 anos da morte da advogada, professora, militante comunista e líder emancipacionista Loreta Valadares, que aconteceu em 2004, após a realização de um transplante cardíaco. Nascida em Porto Alegre (RS), em 1943, Loreta morreu aos 61 anos, em São Paulo (SP), e teve o corpo cremado e as cinzas lançadas no mar da Bahia, onde passou boa parte da vida e da militância.
 

A mudança para Salvador se deu quando ainda era criança, quando o pai, o judeu-alemão Curt Kiefer, foi transferido do emprego, ao fugir da perseguição nazista. Na capital baiana, Loreta ingressa no curso de direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e no movimento estudantil da Ação Popular (AP). Na luta, se mudou da Bahia para São Paulo e, depois, para Minas Gerais, onde foi presa e torturada, pela participação nos movimentos contra a ditadura militar.

Pelas torturas físicas e más condições do cárcere, Loreta desenvolveu – ou pelo menos teve agravado, segundo os médicos – o problema cardíaco que mais tarde lhe levaria à morte. Também sofreu tortura psicológica, como no episódio em que foi levada pelos militares ao pátio do 12º Regimento da Infantaria de Belo Horizonte para acompanhar o espancamento do marido e companheiro de lutas, Carlos Valadares.

A libertação da advogada aconteceu em 1970, quando descobre a doença. Ao iniciar o tratamento, em São Paulo, é condenada a três anos de prisão e perde os direitos políticos, passando a viver na clandestinidade. Filiada ao PCdoB, recebe orientação do partido para viver na Argentina e, de lá, foi para a Suécia, onde integrou os movimentos de solidariedade aos povos da América Latina.

Retorno

Com a Anistia, no fim da década de 1970, Loreta retorna ao Brasil e se torna professora de Ciência Política da UFBA e dos cursos de formação do PCdoB nacional e baiano. Referência na luta das mulheres, dos direitos humanos e pelo socialismo, a militante comunista é autora dos livros “As faces do feminismo” e “Estilhaços”, além de textos sobre os fundamentos do Partido Comunista de tipo leninista, que ainda são utilizados nos cursos de formação do partido.

“Na volta à Bahia, com a Anistia, ela passou a ser uma militante importante no estado, mesmo estando muito tempo fora. Uma característica dela era a capacidade de aliar a teoria à prática política”, contou Péricles de Souza amigo e companheiro de luta de Loreta. Péricles e Loreta atuaram juntos na Juventude Universitária Católica (JUC), no início da década de 1960, e com o Golpe de 64 continuaram juntos, só se distanciando em dois momentos: com a prisão e com o exílio dela.

“Loreta era uma pessoa absolutamente dedicada à luta política e revolucionária. A sua ausência é marcante na construção do PCdoB na Bahia. Ela foi uma das reorganizadoras do partido no estado. Uma das principais contribuições dela foi na luta das mulheres, mas por ser uma dirigente destacada, foi uma referência para o partido de uma forma geral”, continuou Péricles.

Pioneirismo

Loreta também foi uma das fundadoras da União Brasileira de Mulheres (UBM), criada em 1988. Integrante da entidade e da direção nacional do PCdoB, Julieta Palmeira destacou e qualificou como fundamental o papel de Loreta Valadares para a luta das mulheres no Brasil, principalmente pela linha marxista que seguia, e considera pioneira a atuação feminista dela no país.

“Ela foi uma das pioneiras da questão do feminismo no Brasil, embora atuasse na Bahia, no porte de outras mulheres de destaque, como Nise da Silveira, que se destacou na Reforma Psiquiátrica. Foi muito decisivo esse pioneirismo na luta por mais espaços para as mulheres e na construção do feminismo emancipacionista, que leva em conta questões de gênero, raça, classe”, defendeu Julieta.

Homenagens

Em Salvador, Loreta dá nome ao Centro de Referência Loreta Valadares de Prevenção e Atenção a Mulheres em Situação de Violência (CRLV) e à seção baiana da Escola Nacional do PCdoB, batizada de Escola de Formação Loreta Valadares.

De Salvador,
Erikson Walla