Roberto Correa Wilson: Um olhar sobre o império francês na África

No século 19, a França tinha consolidado um notável império colonial na África, cujas posses se estendiam a quase todas as suas regiões, ainda que com particular ênfase na África Ocidental, ilhas do Oceano Índico e no norte do continente.

Por Roberto Correa Wilson, na Prensa Latina

Colonia francesa - Reprodução

Um império que por suas dimensões só foi comparável com o da Grã-Bretanha na região.

Os conflitos territoriais entre potências europeias conduziram à partilha oficial da África na Conferência de Berlim (1884-1885), convocada por Leopoldo II, rei da Bélgica.

Em outras partes do planeta, a França também possuía colônias no Caribe e na Ásia, as arcas de Paris se nutriam das riquezas que proviam, além da África, dessas regiões infestadas de países empobrecidos devido à exploração.

A relação da França com a África iniciou-se com a participação de muitos de seus cidadãos desde o século 16 no tráfico de escravos que eram enviados às plantações agrícolas no Haiti, Guadalupe, Martinica e outras posses no Caribe e na Guiana, na América do Sul.

Em 1834, a Coroa britânica proibiu o comércio de escravos em suas colônias ao estar em curso a revolução industrial. Londres decidiu perseguir os violadores da norma e com esse objetivo instalou bases navais na África.

A França somou-se a esses propósitos e em algumas áreas as autoridades cooperaram com as forças punitivas britânicas. Na nova conjuntura política e econômica que vivia a Europa, não era conveniente o regime escravista cedendo seu espaço à exploração colonial.

O império

A França reteve seu maior número de posses no ocidente e centro do continente, onde cerca de uma dúzia de nações, algumas com territórios várias vezes superiores ao da metrópole, foram convertidas em colônias, e implantou uma exploração tão cruel quanto a escravidão.

O domínio francês impôs-se no Alto Volta e Daomé (Burkina Faso e Benin, respectivamente após a independência), as atuais República do Congo, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Senegal, Chade, Gabão, Mali, Níger e Togo.

Cidadãos franceses apoderaram-se das melhores terras removendo a população nativa, controlaram o comércio e a atividade econômica dessas nações; atraídas pelas imensas riquezas naturais e florestais, chegaram as companhias que impuseram um sistema de trabalho de semiescravidão.

No plano político, Paris criou a denominada África Ocidental Francesa que tinha como centro as decisões do governo francês, executadas por um governador geral, também francês, sem participação dos nacionais.

Essa situação gerava descontentamento e insatisfação na população, que em sua própria terra carecia de direitos elementares, e devia obedecer ordens de um estrangeiro despótico que reprimia com extrema crueldade as ações de protesto ou rebeldia.

Nessa região está Camarões, que foi conquistado pela Alemanha. Após a derrota germânica na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), essa nação europeia perdeu suas posses na África.

Camarões foi dividido e atribuído como mandato da Sociedade de Nações, antecessora da atual Organização das Nações Unidas. O ocidente do país passou ao poder da Grã-Bretanha e o oriente ficou sob a autoridade da França.

Chifre da África e o Índico

No outro extremo da África Subsaariana está localizado o Chifre da África, e confinado entre a Etiópia, a Somália e no Golfo de Áden encontra-se o Djibuti.

Desde meados do século 19, a França se apossou do pequeno país. Quase em fins desse século decidiu dar-lhe um status colonial com o pomposo nome de Costa Francesa dos Somalis.

Mais ao sul, em pleno Oceano Índico, Madagascar mostra-se como a quarta maior ilha do planeta e a mais extensa da África. Em 1885, a França assumiu pela força um mandato de protetorado reconhecido por sua opositora Grã-Bretanha.

Após a França exigir um domínio total sobre o país por meio de um ultimato, a população malgaxe se insurgiu mas foi derrotada. Depois de novos levantes, todos afogados em sangue, a enorme ilha se converteu em colônia de Paris.

Ao noroeste de Madagascar localiza-se o pequeno arquipélago de Seychelles. A primeira expedição francesa de conquista chegou no século 18, mas no cenário de guerra de rapina em que os colonialistas tinham convertido a África, antes de finalizar esse século, em um episódio bélico limitado, Grã-Bretanha tomou Seychelles da França.

De maior envergadura foi a batalha pela conquista colonial de Maurício, a 1.100 quilômetros ao leste de Madagascar. Primeiro chegaram os holandeses, que deram o nome atual ao país e foram expulsos.

Os franceses reclamaram essa posse e a Holanda, mais vulnerável militarmente, não pôde sustentá-la.

Semelhante destino teve a França frente à Grã-Bretanha. Paris declarou a ilha sua colônia, que serviu como base naval durante as guerras napoleônicas, e seus cidadãos se estabeleceram no território, mas a Grã-Bretanha se apoderou de Mauricio após violentas batalhas.

A França foi derrotada por sua arqui-inimiga em aventuras coloniais.

Mais ao norte, quatro nações do noroeste da África na fronteira com o deserto do Saara foram colônias da França.

A Mauritânia, cujo território está quase totalmente imerso no grande areal; a Tunísia, o mais setentrional dos países africanos; o Marrocos e a Argélia, esta última uma das maiores nações do continente.

O império francês que semeou tanta dor, sofrimento e morte na África foi tão vasto e em tão diferentes regiões que quando os primeiros raios de sol anunciavam o novo dia em Madagascar, no oriente, as últimas sombras da noite apenas haviam abandonado totalmente as colônias do ocidente.