O nível de intolerância na campanha presidencial 

Sou médico e estou deputado. Tanto como médico ou como deputado nunca quis ser e não quero ser herói. Também nunca me coloquei e jamais me colocarei como salvador da pátria. Fiz aquilo que tive que fazer. Essa introdução é para contar um fato.

Por Dr. Rosinha* 

O nível de intolerância na campanha presidencial

Era eu deputado estadual no Paraná e de oposição ao governo da época. Por ser de oposição, periodicamente entrava em debate político com um ou outro deputado da situação. Digo, coisa normal. Coisa da política. Necessário para a democracia.

Numa ocasião, tive, no plenário, um forte debate com um deputado, que ocupava o gabinete vizinho ao meu. Passada uma semana desse debate, ouço alguns gritos de “chame um médico urgentemente”, “socorro, nos ajudem”. Presto atenção e concluo que vem do gabinete vizinho, justamente do deputado do partido adversário.

Imediatamente, saí correndo e entrei no gabinete e vi o deputado caído. Rapidamente, observei: não respirava e estava sem pulso. Fiz o que qualquer profissional médico faria naquele momento: massagem cardíaca e respiração boca a boca.

Naquele (deputado) cidadão deitado no chão e desfalecido vi um ser humano à beira da morte e necessitando socorro. Socorro que eu poderia dar. Não passou pela minha cabeça que era alguém que, dias atrás, tinha feito um embate político comigo, ou seja, era meu adversário. Tampouco queria ser herói, simplesmente cumpri a minha obrigação de médico e ser humano.

Estou reavivando esse fato devido a declarações do Dr. Milton Pires. Milton Pires é médico e trabalha na UTI do Grupo Hospitalar Conceição em Porto Alegre.

Dia 6 de outubro, a presidenta Dilma passou mal logo após o debate promovido por UOL, SBT e rádio Jovem Pan. O doutor Milton Pires, contrariando tudo que se espera (solidariedade, humanismo e compromisso) de um médico, escreveu no Facebook: “Tá se sentindo mal? A pressão baixou?? Chama um médico cubano, sua grande filha da puta!”

Este é o nível de intolerância a que chegou o eleitorado de Aécio contra a Dilma, o PT e a todos que pensam diferente. Esse nível de intolerância, ódio e fascismo foi construído pelos meios de comunicação conservador, como a revista Veja.

O ódio e o preconceito têm se expressado no cotidiano da rua contra todos que usam um adesivo no carro, na roupa ou caminham com uma bandeira ou pedem votos para Dilma. Vejo e sofro isso.

Dia 8, estava na rua pedindo voto para a Dilma. O cidadão repele meu pedido com a seguinte argumentação: “Lugar de mulher é no fogão”. E, pior, ele caminhava ao lado da esposa. Com pena dela (esposa) e da imbecilidade dele, me recolhi ao mutismo. Falar o que a essa inteligente afirmação de voto em Aécio?

A reação machista desse cidadão é muito semelhante ao comportamento do próprio Aécio, que com o dedo em riste, no último debate da TV Globo no primeiro turno, chamou a candidata Luciana Genro de leviana. Esse mesmo comportamento, teve em relação a Dilma no debate da Band. Portanto, o eleitor segue o exemplo: mulher é para usar e abusar. Abusar, inclusive batendo.

Há uma linha transversal que une o comportamento do machista da rua com o dr. Milton: ele está afastado do serviço sob a acusação de agredir psicologicamente e fisicamente uma profissional de saúde.

A frase do dr. Milton dá a entender que se ele fosse o único profissional ali naquela hora, se negaria a atender a presidenta Dilma. Pela minha concepção, o doutor, se assim deve ser chamado, violou, com sua frase, todos os princípios da profissão médica. O que fará o Conselho Federal de Medicina (CFM)?

“Indignado”, Aécio diz que vai processar Dilma por colocar criticamente no horário eleitoral as cenas em que ele chama Luciana e a própria Dilma de levianas. Ora, é Dilma que deveria processá-lo, como também deveria o CFM abrir processo contra o doutor Milton, pois se há leviandade nessa história, levianos são Aécio e Milton Pires.

*É deputado federal pelo PT do Paraná