Venezuela quer reunião da Opep para discutir preço de petróleo

A Venezuela quer que a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) realize uma reunião de emergência para segurar a queda nos preços internacionais do petróleo, anunciou nesta sexta-feira (10) o ministro de Relações Exteriores, Rafael Ramírez. O próximo encontro do órgão estava programado para acontecer no dia 27 de novembro. 

Venezuela quer reunião da Opep para discutir preço de petróleo

"Nós recebemos instruções do presidente (Nicolás Maduro) para pedir uma reunião extraordinária da Opep", declarou o chanceler, segundo a Reuters. "Nós acreditamos que a Opep tem que coordenar algum tipo de ação para encerrar a queda no preço do petróleo, especialmente quando estamos convencidos de que isso não tem relação com situações de mercado, mas com uma manipulação do preço para criar problemas aos grandes países produtores", acrescentou.

O chanceler afirmou ainda que o governo venezuelano vai avaliar instrumentos, contratos e acordos firmados que permitem a discussão em tribunais internacionais de temas como a gestão dos recursos naturais do país, de acordo com o Correio del Orinoco. Para Ramirez, há tratados que obrigam o país a ser submetido a “instâncias criadas pelo capitalismo internacional” para anular a soberania venezuelana no manuseio do valor do petróleo.

“Não há nada que ameace (a reserva de petróleo) ou que possa reverter as decisões tomadas pelo comandante Hugo Chávez sobre nossa política petroleira”, declarou ao jornal local. No entanto, ressalta que o preço “não é bom para ninguém e que há um significativo excedente de produção”.

Produtora de petróleo e dona das maiores reservas comprovadas do planeta, a Venezuela vende internamente um litro de gasolina a 0,097 bolívares (equivalente a R$ 0,03). No Brasil, por exemplo, cobra-se, em média, R$ 2,79 por litro de gasolina.

Devido aos baixos preços de venda no mercado interno, a PDVSA (companhia estatal Petróleos de Venezuela) trabalha com perdas, já que uma gasolina chega a ser vendida a um valor quase 30 vezes menor que o custo de produção. Em dezembro passado, Ramírez declarou que US$ 12,59 bilhões são perdidos anualmente pelo atual preço.

Apesar da necessidade do ajuste no preço da gasolina, a Venezuela ainda lida com o tabu de que o aumento poderia desatar uma eclosão social. Há 17 anos, durante o segundo governo de Rafael Caldera, registrou-se o último ajuste. Para muitos venezuelanos, no entanto, a memória do último aumento da gasolina é o de 1989, quando o então presidente, Carlos Andrés Pérez, lançou mão de um pacote neoliberal que levou a uma onda de protestos, conhecida como "Caracazo" que, após violenta repressão estatal, resultou em quase 300 mortes, segundo dados oficiais, apesar de outros cálculos apontarem milhares de desaparecidos.

A lembrança sangrenta, associada ao aumento do combustível, faz com que governos calculem o custo político da medida. Apesar de consumir gasolina quase gratuitamente, há quem não esteja disposto a pagar muito mais pelo combustível. Embora alguns considerem que os investimentos sociais dos últimos 15 anos amortizariam uma rejeição à medida, a dilatação para tomar decisões acerca de um aumento mostra que ainda há cautela em relação ao assunto. No fim de maio, Ramírez descartou um aumento no futuro imediato, mas disse ser interessante um debate na opinião pública.

Fonte: Opera Mundi