Após vencer seis eleições, Evo Morales diz que "ganhar é simples"
Em uma entrevista para o jornal El País, o presidente da Bolívia, Evo Morales, ressaltou que já venceu seis pleitos, entre referendos, votações departamentais e presidenciais, e afirmou que “ganhar as eleições é simples”. Morales concorre ao terceiro mandato como chefe de Estado e deve vencer com ampla maioria no próximo domingo (12). Ele conversou com o jornalista Javier Lafuente, analisou a sua gestão e falou sobre os desafios para os próximos cinco anos.
Publicado 10/10/2014 12:13
Evo Morales atribui a atual situação da Bolívia à “longa luta contra o colonialismo interno e externo, contra o modelo neoliberal”. Nos últimos anos, o país passou do status de segundo país mais pobre da América Latina (atrás apenas do Haiti) para o maior PIB sul-americano, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). “Estamos passando de uma economia baseada em matérias-primas a uma economia industrial, e aspiramos chegar a uma economia baseada no conhecimento”, disse o presidente.
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Segundo ele, “a estabilidade social permitiu a estabilidade política e esta, a econômica”. Morales lembra que quando chegou ao poder em 2006, o índice de pobreza era de 38% e hoje é de 18%. “O desemprego estava entre 8% e 9% e agora é de menos de 3%”, disse.
A economia boliviana cresceu para 32 bilhões de dólares em oito anos e o objetivo é chegar a 2020 com 100 bilhões, principalmente com a contribuição do hidrocarbonetos. Atualmente, a economia nacional é movida pelo setor dos hidrocarbonetos, pela mineração e pela agropecuária.
O último mandato
Ao ser questionado sobre a continuidade de sua política e se esse será seu último mandato, Morales respondeu que sempre irá respeitar a Constituição.
Impulsionada pelo próprio Evo Morales, a nova Constituição boliviana entrou em vigor no dia 7 de fevereiro de 2009. A nova Carta Magna foi aprovada em Assembleia Constituinte e, posteriormente, em um referendo constitucional, com 61,43% dos votos.
A partir daí, o país passava a chamar-se Estado Plurinacional da Bolívia e dava a Morales a chance de se eleger e reeleger diante da nova configuração, já que seu primeiro mandato contemplava a Constituição anterior.
O que preocupa Evo Morales
Durente a entrevista ao jornal El País, o candidato afirmou que “quando era dirigente sindical, me divertia, resolvia todos os problemas”. Para ele, a principal dificuldade enfrentada no país é burocracia. Morales citou um exemplo: “Ontem me informaram sobre a construção de uma ponte e então os técnicos me dizem que há um decreto que impede construir essa ponte. Isso me incomoda”.
Ele admitiu ainda que a Bolívia tem problemas em relação à justiça. “Sim, temos problemas. Só se pode fazer uma revolução dentro da justiça com a participação do povo”, disse.
Relação com os Estados Unidos
“Para mim é como qualquer outro Governo. Não vejo como uma potência. Tinha muita confiança no Obama, porque ele vem de um setor social muito discriminado, como os afro-americanos, e nós, dos indígenas. Infelizmente, não governam nem os republicanos, nem os democratas, governam os bancos”, lamentou o presidente boliviano.
Já sobre a afirmação do governo norte-americano em relação à erradicação da coca, Morales disse que “antes, seu ataque era o comunismo; agora, o terrorismo, o narcotráfico. A União Europeia respeita o modelo boliviano de luta contra o narcotráfico. A Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece que foi feito um esforço e que o terreno de cultivo da folha foi reduzido a 23.000 hectares. E sem mortos nem feridos como antes, quando morria um cocaleiro por semana”.
Segundo dados de uma pesquisa realizada pela ONU, o cultivo da planta da coca na Bolívia caiu cerca de 9% no ano passado, chegando a seu nível mais baixo desde 2002.
O relatório “Latin America awakes: a review of the new drug police”, divulgado no ano passado, resultante da parceria entre o Norwegian Peacebuild Resource Centre (Noref) e o Instituto Igarapé, a guerra às drogas, implementada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento (Usaid, na sigla em inglês), falhou na América Latina e acabou gerando um problema ainda maior que o próprio narcotráfico.
Em 2013, Evo Morales expulsou a Usaid do país, acusando-a de conspiração e ingerência na política interna boliviana.
Líderes latino-americanos
O chefe de Estado da Bolívia afirmou ao jornalista Javier Lafuente que tanto Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, quanto Rafael Correa, do Equador, “são companeiros” e disse que não tem motivos para qualificá-los. Lafuente havia perguntado de quem Morlaes se sentia mais próximo e recebeu como resposta a garantia de que “aqui não há presidentes de primeira ou de segunda. São companheiros anti-imperialistas e anticapitalistas, cada um com suas particularidades. Todos pertencemos a um movimento de libertação”, concluiu Morales.
Na entrevista publicada no último dia 4 de outubro, Evo Morales disse também que o líder cubano Fidel Castro continua sendo uma referência. “Para mim é o homem mais solidário do mundo. Apesar do bloqueio (dos EUA a Cuba), ninguém tem esse sentimento humano que tem Fidel”.
Théa Rodrigues, da redação do Portal Vermelho,
Com informações do jornal El País