A eleição de Evo Morales e o enterro do passado neoliberal da Bolívia

Muito provavelmente, a única novidade nas eleições bolivianas do próximo dia 12 de outubro será a porcentagem com a qual Evo Morales irá vencer o pleito. Todas as pesquisas até o momento indicam a vitória do candidato à reeleição. O objetivo do Movimento ao Socialismo (MAS), partido político governamental, é superar o recorde da votação de 2009, quando o atual presidente recebeu 64,2% dos sufrágios.

Por Théa Rodrigues, da redação do Portal Vermelho

Evo Morales, presidente da Bolívia

Apesar de, segundo a Constituição boliviana, um candidato não precisar da maioria absoluta nas eleições para vencê-la no primeiro turno, é preciso ter ao menos 10 pontos de diferença sobre o segundo colocado. Nenhum dos candidatos opositores conseguirá votos suficientes para enfrentar o projeto político que transformou a Bolívia de ponta a ponta.

Nem o neoliberal, camuflado de candidato centrista, o multimilionário Samuel Doria Medina (em segundo lugar nas pesquisas); nem o candidato de centro, disfarçado de progressistas do século 21, Juan del Granado; tampouco o aspirante declaradamente neoliberal, Tuto Quiroga.

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Evo Morales está à frente da corrida presidencial em todos os departamentos (estados) bolivianos, incluindo Santa Cruz de La Sierra – bastião oposicionista, que liderou um movimento separatista em 2008 – onde tem 47% dos votos contra 24% de Medina, segundo enquete divulgada pelo jornal El Deber, em setembro.

Para a maioria dos cidadãos bolivianos, o que está em jogo no país é um processo de mudança, iniciado em 2006, quando Morales tomou posse pela primeira vez como chefe de Estado. Naquele momento, a Bolívia deixava para trás várias décadas perdidas, um passado importado e imposto por estrangeiros.

A “refundação” do país, como essa transformação foi batizada pelo próprio presidente, permitiu a constituinte que resultou em uma nova Carta Magna, que passou a vigorar em janeiro de 2009. A partir daí, com a nova Constituição, o país passava a chamar-se Estado Plurinacional da Bolívia.

Tratava-se de um marco para as normas de convivência e para a criação de um novo pacto social.

Isso permitiu que o governo se apropriasse dos setores estratégicos que haviam sido privatizados durante um longo período neoliberal. Morales conseguiu redistribuir o excedente econômico e redefinir o regime de acumulação.

Defendendo com garra a ideia de que “os recursos naturais dos bolivianos são para os bolivianos”, ele conseguiu aplicar um conjunto de políticas sociais que quitaram o fantasma da dívida social do passado.

Segundo estimativas do Banco Mundial, baseadas em projeções institucionais, a Bolívia ira liderar a lista latino-americana de países com maior crescimento econômico. A mesma perspectiva da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), que reconheceu o dinamismo da economia do país, destacando a confiança do empresariado. É importante lembrar que há alguns anos, o país andino era considerado o segundo mais pobre da região, atrás apenas do Haiti.

Os avanços conseguidos nestes anos de governo e a reestruturação da Bolívia como um país soberano e autônomo fazem com que a candidatura de Evo Morales seja inabalável. O presidente seguirá governando com um amplo respaldo popular, afinal, o povo parece convencido de que dar continuidade a este processo garantirá que o mesmo seja irreversível.