Cultura: afirmação da identidade de um povo

Em 1996, o ensino de artes abordando as quatro linguagens – dança, artes visuais, teatro e música – passou a ser obrigatório na educação básica com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Raros, porém, são os resultados reais dessa iniciativa nas comunidades mais carentes. Não. Esta não é uma matéria sobre educação, e sim sobre cultura. É compreensível quando associamos educação e cultura dentro de um mesmo contexto social.

Por Léo Guilherme*, para o Portal Vermelho

Ballet da UEPB - Arquivo UEPB

Na Paraíba é comum vermos movimentos culturais expressivos saírem dos espaços acadêmicos buscando voos mais altos no meio artístico do estado.

Grande parte dessas conquistas é atribuída ao bom desempenho da reitora Marlene Alves que esteve à frente da Universidade Estadual da Paraíba (Uepb), por dois mandatos, de 2005 até outubro de 2012. De crianças a idosos, todos viam a universidade como um espaço que respirava cultura em meio aos projetos que surgiam e mobilizavam professores, alunos e a sociedade em geral no desenvolvimento da linguagem artística.

A grande inovação foi quando a Uepb passou a ser uma das principais protagonistas do cinema paraibano ao contribuir com dois longas metragens filmados inteiramente no estado, obras do jovem cineasta paraibano André da Costa Pinto. Ainda na área do cinema a universidade lançou vários editais para auxiliar na produção de curtas-metragens e o festival de cinema, Comunicurtas que está na sua 8ª edição, e foi pioneiro no estado.

A Uepb também realiza o Festival Internacional de Música, o projeto “Sons da Paraíba”, Escola de Ballet da UEPB e desenvolve ações culturais levando arte aos bairros carentes da cidade: Bairro da Guabiraba, Vila dos Teimosos, Bairro da Glória, Santa Rosa e outros. Além disso, a universidade implantou núcleos de arte e cultura nos campi das cidades de Monteiro, João Pessoa e Araruna.

Durante a gestão de Marlene Alves a efervescência cultural na Uepb foi evidente, a editora Eduepb – premiada a nível nacional, é um exemplo disso. E a universidade sempre esteve presente no cenário artístico da cidade até mesmo criando com recursos próprios novos equipamentos culturais como o Museu de Artes Assis Chateaubriand e o Museu dos Três Pandeiros.

O poder transformador do Ballet da Uepb

Um dos grandes projetos que ocorreu na Uepb teve início em 2006, quando um grupo de professores liderados por Marlene Alves já sinalizava propostas que pudessem trazer a comunidade para dentro da universidade. Assim, foi criado o Ballet da UEPB. O projeto tinha como principal finalidade disponibilizar gratuitamente aulas, formação teórico-prática, para crianças de bairros e comunidades no entorno da universidade. Logo foram feitas 120 inscrições de um projeto que, não apenas deu certo, mas que cresceu nesses últimos anos e atualmente recebe crianças de todos os bairros da cidade e de outras cidades e distritos circunvizinhos a exemplo de Esperança, Lagoa Nova, Lagoa Seca e São José da Mata.


 

Patrícia Lucena é diretora do centro artístico e cultural da Uepb e conta que as crianças são estimuladas a estudar mais na escola e tirar boas notas, pois sem isso elas não podem continuar. “O Ballet da UEPB é muito importante porque é para muita gente um projeto de vida. Aqui as crianças aprendem concentração, disciplina, trabalho em equipe. Elas trazem o boletim para mostrar que estão indo bem na escola. Recebemos meninos e meninas de 8 à 12 anos para a turma inicial, eles vão evoluindo na dança e seguindo até o quinto e último ano no curso”.

Patrícia também conta que alguns alunos do curso, hoje em dia, já são membros do corpo de Ballet oficial da Uepb e fazem da dança o seu ofício. É o caso de Otávia Ohana que foi da primeira turma do ballet, em 2006, e atualmente é professora de dança em escolas particulares da cidade. “Eu era muito nova quando comecei no ballet. Foi aqui que eu aprendi disciplina, responsabilidade e autoconfiança. Isso é muito exigido para quem resolve se dedicar à dança. Hoje eu vivo disso e consigo ajudar os meus pais em casa. Dou aula em duas escolas particulares e adoro o que faço, não me imagino fazendo outra coisa.” Destacou Otávia.

Em entrevista com Adriana Alves – mãe de Brenda (15 anos) e Bruna (10 anos), ela garante que o projeto foi um divisor de águas no dia-a-dia das filhas. “Elas tem um lugar pra ir enquanto eu vou trabalhar. Sei que estão bem e fazendo uma coisa boa, que desenvolve o corpo e a inteligência. Eu sempre quis fazer ballet e não tive a oportunidade. Quando Brenda disse que tinha vontade de aprender, eu procurei a universidade e coloquei logo as duas, elas adoram. Ficam tristes no dia que não tem aula.”

Este ano, o Ballet da Uepb completa 8 anos de existência e conta com mais de mil alunos que já passaram pelo projeto. Alguns alunos não seguem a carreira, mas todos ressaltam que a dança despertou outros valores sociais importantes para a vida toda.

Cultura viva por todos os cantos da cidade

O ano de 2013 foi especial para o setor cultural em Campina Grande. Marlene Alves tornou-se a nova secretária de cultura, aceitando um desafio de cuidar de uma pasta considerada difícil no município. Em apenas 16 meses Campina Grande foi palco de grandes eventos e mudanças estruturais. É o caso do Centro Cultural Lourdes Ramalho que até 2012 contava com cerca de 240 alunos inscritos para aulas de diversos cursos oferecidos.

Na perspectiva de descentralizar as atividades de centro, foi criada parceria com SAB’s de bairro, paróquias, clubes de mães, levando assim a cultura para a periferia, espaço de alguns alunos. Nesta mesma fase foi extinto o pagamento de taxas de matrícula e mensalidades. Hoje o Centro Cultural Lourdes Ramalho está com mais de 3 mil alunos espalhados em 26 cursos divididos em quatro modalidades: artes cênicas e visuais, dança, movimento corporal e música. Todas as atividades são completamente gratuitas.

Marlene também militou para que a prefeitura desse incentivo aos artistas locais criando eventos de cunho expositivo das manifestações culturais artísticas locais, além de gratuidade nas apresentações realizadas no Teatro Municipal Severino Cabral. Para Lúcia Couto – assessora na Secretaria de Cultura na época, Marlene lançou um olhar mais reflexivo em torno da cultura em campina Grande. “Ela percebeu que os artistas passavam por problemas elementares, até mesmo para elaborar um projeto e concorrer a um edital. Marlene criou ações pontuais que ajudaram os artistas em campina Grande”, afirmou.

Campina Grande passou por um período de renovação com tantos projetos e eventos em plena atividade: política de gratuidade, diversidade, descentralização; conferências de cultura; projetos de salvaguarda de artesanato; núcleo de assessoria especializado em projetos; parcerias em projetos como Cinema no Ar, Cine Roliúde e Quintas Culturais; Natal Iluminado, com atrações locais no Parque da Criança; Sarau Poético, I Festival de Sanfona, Violas e Poesia, entre muitos outros projetos que tiveram êxito na gestão de Marlene à frente da secretaria de Cultura. A cultura atua diretamente na autoafirmação de um povo e é necessário sensibilidade para perceber o caminho certo a seguir.

*É assessor de comunicação da candidata Marlene Alves