Fora do páreo, Aécio diz que sua ‘previsibilidade’ é proposta concreta

Em mais uma entrevista cheia de propostas vagas e generalistas, o candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB), disse no Jornal da Globo, nesta quarta-feira (3), que o que há de mais concreto em suas propostas é a “previsibilidade”.

Aécio no Jornal da Globo - Reprodução

E não foi por falta de tentativa. Os apresentadores William Waack e Christiane Pelajo bem que se esforçaram em levantar a bola para o Aécio e apesar de nas perguntas sempre constarem palavras como “ponto específico”, “concretas” e “mais claro”, o candidato permaneceu no seu discurso divagando no mundo mágico das soluções econômicas, baseadas no seu compromisso com o sistema financeiro.

A certa altura da entrevista, os apresentadores não conseguiram estancar o devaneio de Aécio. Christiane Pelajo chegou a dizer: “Mas como, candidato? Qual é a solução mágica? Como?”. E em outro enfatizou: “Qual é o Aécio que está valendo? Aquele que quer botar o Brasil no trilho ou, como disse o William, aquele que quer empurrar com a barriga os problemas que são mais difíceis e insolúveis, quase?”.

Aécio respondeu: “Previsibilidade. Previsibilidade (…) nada mais concreto que a previsibilidade. A previsibilidade é que vai permitir ao Brasil voltar a crescer, e essa é a chave do sucesso do nosso governo. Crescimento”.

O entreguismo de Aécio o faz acreditar que o simples fato de se alinhar ao capital internacional – o que ele também constata ser diametralmente contrário do que propõe a candidata Dilma Rousseff – é suficiente para solucionar os problemas. “Eu acho que a simples chegada nossa é uma sinalização adequada em relação à inflação sim (…) Um governo de grandes planos, será um governo que sinalizará de forma muito clara para o mercado que as regras, inclusive de reajustes de preços, serão respeitadas e serão de conhecimento de todos”.

Direitos trabalhistas

Mas quando se trata da retirada de direitos, Aécio é bem mais específico. Questionado sobre que tipo de restrição fixaria na concessão de benefícios como o seguro-desemprego, ele disse: “Nós estamos debatendo intensamente como reorganizar o seguro-desemprego. Existem exageros, sim, que têm que ser contidos. Nós estaremos, inclusive, até o dia 15 apresentando o nosso programa de governo, e esse é um capítulo que nós anunciaremos de forma muito clara como vamos fazer”.

Waack disse que Aécio “tem um outro problema que são as centrais sindicais”, que reivindicam o fim do fator previdenciário. Aécio respondeu: “Olha, eu quero discutir com as centrais sindicais. Eu não estou assumindo esse compromisso”.

Waack continuou a tratar das questões trabalhistas destacando que Aécio tem afirmado em “reuniões com empresários que o Brasil tem um custo enorme da mão de obra, sobretudo por força da nossa legislação trabalhista” e perguntou: “O senhor considera a CLT intocável, mesmo afirmando que está na carga que um empregador paga, por funcionário que emprega, um dos maiores problemas para o custo do Brasil?”.

Enquanto Dilma reafirma em campanha que “não foi eleita e nem será reeleita para retirar direitos ou arrochar salários”, Aécio diz: “Essa é uma conquista da sociedade brasileira que não pretendo alterar. Agora, desde que haja disposição das partes de negociar, isso tem que ser estimulado por qualquer governo, em razão de especificidade de cada categoria”.

Aumento das tarifas

Sobre o aumento de tarifas públicas, Aécio criticou o governo Dilma por controlar a inflação e não aumentar os combustíveis, a energia elétrica e os transportes públicos. “Nós temos que soltar a tampa dessa panela de pressão, mas sem sustos. Nenhuma candidatura está em melhores condições, pelos quadros que nós temos, pelo que eles inspiram nos mercados, de fazer isso, de garantir previsibilidade”.

Reconhecendo a derrota tucana

Quando questionado por Waack sobre o risco de pela primeira vez, em 20 anos, o seu partido “não chegar ao segundo turno em uma disputa presidencial”, Aécio respondeu: “Reconheço que hoje nós não temos uma situação tão confortável como tínhamos a 30 dias atrás”.

Aécio revela o seu abatimento moral diante do quadro eleitoral e sua posição nas pesquisas, que está polarizada entre Dilma e a candidata Marina Silva (PSB).

Tentando manter as aparências, Aécio disse que está confiante, pois “tem um projeto exequível”, mas durante toda a entrevista não conseguiu mostrar isso. Além disso, a herança maldita do governo FHC, que tanto tentou se pendurar na linha da “estabilidade econômica”, não colou diante da realidade de que nos dois mandatos tucanos o país viveu uma quebradeira da indústria, desemprego recorde, arrocho salarial e redução dos direitos.

Aécio já se sente fora do páreo e só não o faz abertamente porque representaria uma derrota política, dentro e fora do seu partido. Mas prepara o caminho para a adesão à candidatura de Marina, que atende plenamente o projeto de governo neoliberal. Aliados históricos dos tucanos, como o coordenador de campanha e presidente do DEM, Agripino Maia, e de representantes do sistema financeiro já manifestaram apoio ao programa de Marina, antes da oficialização do segundo turno. Essa reorganização é uma tentativa da direita brasileira de impedir, a todo custo, o ciclo de avanços das forças progressistas.

Da Redação do Portal Vermelho, Dayane Santos