A vergonha da União Europeia no Kosovo continua

Uma comissão especial formada pela União Europeia concluiu que membros do Exército de Libertação do Kosovo (UCK), entidade terrorista que governa este território através do seu ramo político, foi responsável por vários crimes de “lesa- humanidade” contra as minorias sérvia e cigana. O documento confirma acusações feitas anteriormente pelo Conselho da Europa.

O conteúdo do relatório elaborado pela “Equipe Especial de Investigação da União Europeia para o Kosovo” (SITF na sigla em inglês) vai ser julgado através de um tribunal especial europeu que Bruxelas tentará criar em colaboração com os dirigentes kosovares que colocou em funções.
“Tribunal especial é, mais do que nunca, uma expressão adaptada às circunstâncias”, ironiza Andreas Hoffmann, jurista alemão que tem acompanhado o processo e considera que, mesmo sendo as conclusões graves elas não “terão jamais as penas correspondentes à gravidade do que aconteceu”. Segundo Hoffmann, “um tribunal a criar com a colaboração da parte que representa alguns dos acusados, integrados no governo do Kosovo, a começar pelo primeiro ministro Hacem Thaci, não garante credibilidade e significa que a União Europeia pretende acima de tudo passar formalmente uma esponja sobre a vergonha em que se envolveu para cindir a Sérvia”.

Membros da oposição kosovar exilados na Alemanha reagem no mesmo sentido. “É estranho que a União Europeia tenha precisado de entregar a investigação a um juiz americano, como é o caso de Clint Williamson, como se não houvesse em todo o espaço europeu pessoas com capacidade para o fazer”, diz um refugiado residente em Berlim. “Não podemos esquecer que os americanos foram os criadores do Kosovo tal como ele existe, que é uma entidade baseada na limpeza étnica, na hostilidade, no medo e na corrupção mafiosa”, sublinha a mesma fonte, de origem albanesa.

“O UCK não lutou pela libertação do povo do Kosovo nem por qualquer coisa que se pareça com a independência, mas sim pela criação de uma administração através da qual os membros dessa seita terrorista islâmica apoiada pelos Estados Unidos, a União Europeia e a Otan possam desenvolver os seus negócios próprios, que vão, sem qualquer dúvida, da droga, às armas e tráfico de órgãos humanos”, afirma outro exilado kosovar na Alemanha.

O relatório de Williamson confirma a existência de numerosos crimes cometidos por dirigentes do UCK e “não a título individual”, designadamente atentados, sequestros, assassínios, violações de pessoas das minorias sérvia e cigana. “É lamentável que o Tribunal para a ex-Iugoslávia tenha sido extinto quando os responsáveis europeus e norte-americanos declararam como terminada a guerra que fizeram para desmembrar o país”, sublinha Andreas Hoffmann. “Apesar de se tratar de um tribunal que se comportou de maneira tendenciosa, deveria ser a instituição com jurisdição para julgar os crimes que prosseguiram depois da guerra, a mando dos vencedores, e não um ‘tribunal especial’ para cuja constituição são designados os próprios acusados”, acrescentou. “O que a União Europeia pretende é dar uma imagem de restabelecimento da justiça para que então possa tratar da integração do Kosovo sem problemas associados à sua cumplicidade com o terrorismo e o crime organizado”, alega um dos refugiados kosovares.

Andreas Hoffmann notou, a propósito, que o investigador Clint Williamson reconhece a autenticidade do relatório do Conselho da Europa segundo o qual o próprio primeiro ministro Thacim é responsável por crime organizado e tráfico de órgãos humanos. “Mas não é por acaso”, acrescenta Hoffmann, “que o juiz americano vem dizer que esses aspectos ‘são exagerados’ no texto do Conselho da Europa, o que abre uma porta para que tudo isto seja desvalorizado até ser apagado pelos vencedores que escrevem a História oficial”.

Porém, sublinha um dos refugiados kosovares, “a história verdadeira destes tempos, e para a qual não faltam provas, é a da colaboração dos Estados Unidos e da União Europeia, aliás um pouco à semelhança do que está a acontecer na Ucrânia, com entidades terroristas que emergem de limpezas étnicas e vivem do crime organizado”. Andreas Hoffmann acusa: “O fato de a União Europeia vir inventar tribunais para crimes de ‘lesa- humanidade’, de maneira a montar uma mascarada de justiça e absolver mafiosos que a servem, é apenas mais uma faceta das vergonhas em que estão envolvidos os principais dirigentes europeus e americanos das últimas décadas, nomeadamente a propósito do caso do Kosovo”.

Lourdes Hubberman, Berlim, para Jornalistas sem Fronteiras www.jornalistassemfronteiras.com/