Obama admite que EUA torturaram pessoas nas prisões ilegais

"Torturamos pessoas”, confessou o presidente dos Estados Unidos na sexta-feira (1º/8), numa coletiva de imprensa na Casa Branca. Apesar disso, o governo do Reino Unido está desenvolvendo múltiplos esforços para que o papel do país nestas atividades seja censurado nos materiais sobre o assunto que serão desclassificados em Washington.

Por Norman Wycomb, de Londres, e Mário Ramírez, de Washington para Jornalistas sem Fronteiras

Tortura CIA - Reprodução

Nos termos de uma carta do ex-chefe da diplomacia britânica, William Hague, em poder da organização não governamental Reprieve, o governo de Londres pediu aos responsáveis norte-americanos para que mantenham secreto o papel do Reino Unido na transferência, prisão e tortura de alegados terroristas cometidas pela Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) em vários países do mundo.

Obama admitiu que os Estados Unidos ultrapassaram “a linha vermelha” da violência cometida sobre detidos, alguns dos quais permanecem em Guantânamo, uma declaração que, apesar dos fatos já conhecidos e provados sobre o assunto, ainda surpreendeu jornalistas e analistas.

“O presidente fez a declaração para ir preparando as pessoas uma vez que os documentos a desclassificar no Senado revelam a utilização de meios de tortura ainda mais graves do que se tem dito”, sublinha Salomon Blumenthal, jurista e defensor dos direitos humanos em Washington.

Um dos casos mais conhecidos da participação do Reino Unido no programa de cadeias secretas e tortura da CIA é o do fundamentalista islâmico líbio Abdelhakim Belhadj, capturado na Ásia e transferido pelo Reino Unido para a Líbia, onde ficou sob custódia do regime de Khaddafi, depois de ter sido torturado no atol de Diego Garcia, sob administração britânica.

Belhadj chegou a apresentar queixa contra o Reino Unido, mas depois tornou-se uma peça importante nos grupos armados que, em colaboração com a Otan, derrubaram o regime e conduziram a Líbia ao estado em que se encontra. Belhadj foi o primeiro chefe militar de Trípoli do regime instalado pelos Estados Unidos, França e Reino Unido, e agora chefia um partido/milícia, El Watan, considerado um dos mais fortes.

“O interesse britânico em que as informações sejam censuradas radicam no fato de o governo de David Cameron pretender conservar uma imagem de combate ao terrorismo no quadro dos direitos humanos, em que já ninguém acredita”, segundo Monica Silvan.

“Provavelmente”, acrescentou, “Cameron pretende também evitar passar pela mesma situação que a Polônia, obrigada pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem a pagar mais de cem mil euros a pessoas que estiveram detidas e foram torturadas em cadeias secretas da CIA criadas no país”.

Fonte: Jornalistas sem Fronteiras