EUA reforçam apoio militar a Israel e "trégua humanitária" tem início

Enquanto a mídia internacional divulga a retirada de soldados israelenses que haviam invadido a Faixa de Gaza com tanques e artilharia pesada, cobertos por caças F-16 e helicópteros Apache, o presidente dos EUA Barack Obama endossou o envio de mais US$ 225 milhões ao sistema antimíssil de Israel. Uma trégua de 72 horas entrou em vigor nesta terça-feira (5), mas milhares de soldados permanecem na fronteira do território sitiado.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Faixa de Gaza - Reuters

O reforço do apoio estadunidense a Israel, sobretudo no período do massacre intensificado dos palestinos, foi garantido pelo Senado ainda na semana passada, para enviar mais financiamento ao moderno sistema antimíssil Cúpula de Ferro (desenvolvido em cooperação com os Estados Unidos) e também à “segurança fronteiriça”, ou seja, ao bloqueio da Faixa de Gaza, sitiada há oito anos. Os EUA já enviam mais de US$ 3 bilhões anuais em financiamento militar a Israel desde a década de 1970. O apoio político, por outro lado, já é garantido à partida, ainda que sejam divulgadas algumas frases mais condenatórias contra a “matança dos civis” palestinos.

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Cinco dias após lançar oficialmente os bombardeios contra a Faixa de Gaza, intitulados de “operação Margem Protetora”, em 8 de julho (ataques aéreos anteriores e esparsos também já haviam sido denunciados, com a morte de ao menos seis pessoas entre junho e aquela data), o premiê israelense Benjamin Netanyahu e seu ministro da Defesa Moshe Ya’alon decidiram intensificar a ofensiva invadindo o território sitiado e densamente habitado (cinco mil pessoas por quilômetro quadrado) com tanques, artilharia pesada e milhares de soldados.

Desde então, o massacre dos palestinos foi exponencial, aumentando a nível acelerado, totalizando quase 1.900 pessoas mortas em menos de um mês. No mesmo ritmo cresceram as denúncias de crimes de guerra e a revolta global contra a ofensiva que atingia inclusive hospitais e escolas abarrotadas – os primeiros, de feridos e corpos vitimados, as segundas de milhares de desabrigados pelos bombardeios – matando ainda mais civis e funcionários do corpo humanitário.

Cerca de 80% dos palestinos mortos eram civis e ao menos 300 eram crianças. Mais de 10 mil casas palestinas foram completamente destruídas, assim como hospitais, escolas, mesquitas, igrejas, poços de água, a única central elétrica, redes de esgoto, entre outros componentes da infraestrutura civil e da humanitária. Três civis e 64 soldados israelenses foram mortos, em confrontos com a resistência palestina em Gaza.

A Organização das Nações Unidas (ONU) passou a tomar posições mais firmes contra a “chacina em Gaza” e o secretário-geral finalmente deixou claro que os repetidos ataques às escolas da Agência das Nações Unidas para Assistência e Trabalhos (UNRWA), cujas localizações eram frequentemente informadas ao Exército israelense para que não fossem bombardeadas, são “violações do direito internacional humanitário”. Na última semana, em ataques a duas escolas diferentes, ao menos 26 pessoas foram mortas, inclusive crianças, e a ONU negou a alegação israelense de que armamentos eram escondidos nesses locais.

Mesmo assim, Netanyahu e vozes ainda mais agressivas da sua coalizão de governo afirmavam a extensão da ofensiva e alguns chegavam a exigir que o Exército reocupasse presencialmente a Faixa de Gaza. Entretanto, as mortes de mais soldados israelenses em confrontos com a resistência palestina, a condenação internacional e os custos políticos associados à percepção de falta de apoio internacional – apesar da retórica oficial contrária que conta com o patrocínio dos Estados Unidos – levam à reformulação da estratégia.

As autoridades israelenses afirmaram que não negociariam com os palestinos e que anunciariam um cessar-fogo “unilateralmente” quando achassem conveniente. Depois, passaram a reduzir o número de tropas em Gaza e aceitaram uma “trégua humanitária” sugerida principalmente pelo Egito. Tentativas anteriores fracassaram antes mesmo entrarem em vigor, com repetidos episódios de verdadeiro massacre, com dezenas de mortos, como na semana passada, em Rafah, poucas horas antes, durante e depois da entrada em vigor de outra trégua que duraria três dias, mas foi cancelado.

Já nesta terça, Peter Lerner, o porta-voz do Exército (que também prepara uma equipe de assessoria política e jurídica para responder às denúncias de crimes de guerra perpetrados pelas forças israelenses), disse que os soldados ficarão na fronteira de Gaza durante o período da nova trégua. Um vídeo da retirada "descontraída" dos soldados foi divulgado pela agência de notícias Reuters.


"Cessar-fogo duradouro" e fim do massacre

“Os contatos do Egito com partes relevantes alcançaram o compromisso de uma trégua de 72 horas em Gaza (…) e de um acordo para que o resto das delegações relevantes viagem ao Cairo para conduzir mais negociações,” disse um oficial egípcio à agência de notícias AFP. No domingo (3), diversos grupos palestinos concordaram com o “cessar-fogo, a retirada das tropas israelenses de Gaza, o fim do bloqueio ao território e a abertura das passagens fronteiriças,” disse um membro da delegação, Maher al-Taher, da Frente Democrática de Libertação da Palestina.

As reivindicações palestinas também incluem os direitos de pesca numa área de 12 milhas náuticas na costa de Gaza também cercada pelas forças israelenses – o acordo original, acertado durante o processo de Oslo, do início da década de 1990, é de 20 milhas náuticas, e hoje os pescadores palestinos têm menos de cinco – e a libertação dos prisioneiros palestinos, também exigida pelo presidente Mahmoud Abbas. Há mais de seis mil palestinos detidos em cárceres israelenses, muitos sem julgamento ou acusação formal.

Após recusar-se a negociar, Israel deve enviar uma delegação ao Cairo nos próximos dias, de acordo com fontes oficiais citadas pelo jornal israelense Haaretz. O secretário-geral da ONU Ban Ki-moon voltou a instar às negociações para um “cessar-fogo duradouro”.

Os palestinos têm exigido o fim do bloqueio ao território palestino de 360 quilômetros quadrados, profundamente empobrecido pelo cerco de oito anos e uma população de 1,8 milhão de pessoas, das quais mais de 70% já dependem de ajuda humanitária para sobreviver mesmo sem bombardeios. Nos últimos cinco anos, três grandes ofensivas contra Gaza mataram mais de 3.500 palestinos e deixaram uma vasta destruição no enclave, com graves denúncias de crimes de guerra e crimes contra a humanidade ainda não respondidas efetivamente.