Marrocos apropria-se ilegalmente também do petróleo do Saara Ocidental

O Reino de Marrocos prevê iniciar já em agosto a prospecção de petróleo no território ocupado do Saara Ocidental, segundo meios empresariais petrolíferos, violando o direito internacional e desafiando as Nações Unidas, que têm em curso, mas paralisado, o processo de descolonização do território.

Por Armando Vicente, de Túnis, e Sylvie Moreira, de Paris para Jornalistas sem Fronteiras

Saara Ocidental

O início de outras atividades ainda no setor energético, como a criação de uma central eólica de grande envergadura, está igualmente previsto pelas autoridades marroquinas. “A informação sobre a prospecção de petróleo pelo Marrocos nas águas territoriais do Saara Ocidental está absolutamente confirmada”, afirma fonte de uma multinacional petrolífera em Tunis.

“Marrocos considera que o clima internacional decorrente das influências que têm vindo a gerir em setores econômicos e políticos da União Europeia e dos Estados Unidos deixam o país a salvo de quaisquer medidas de penalização por violação de normas internacionais”, acrescenta a mesma fonte, de nacionalidade francesa.

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Nos meios petrolíferos sabe-se que as primeiras prospecções serão da responsabilidade de uma entidade designada Petro Maroc, que até há poucos dias era conhecida como Longreach, de bandeira canadense, e da irlandesa San Leon. O trabalhos serão iniciados nas águas do extremo sul do Saara Ocidental, no bloco de Tarfaya, onde as duas empresas têm desenvolvido sondagens em conjunto com uma empresa pública canadense de minas e hidrocarbonetos.

A operação é acompanhada por um navio de prospecção sísmica de uma empresa pública chinesa, que agora realiza outras sondagens a cargo da mesma sociedade pública canadense e da francesa Total. A segurança estará a cargo de um navio holandês da empresa Rederij Groen, à qual foi atribuída a missão de impedir que os pescadores saarauis reajam e resistam às atividades internacionais de latrocínio nas águas e território que lhes pertencem.

“Não temos qualquer dúvida de que Marrocos só avança para este processo por ter garantias de que internacionalmente nada lhe acontecerá”, afirma um oposicionista e exilado marroquino em Paris. “Isto significa que as instâncias internacionais que fiquem inertes perante esta violação das normas internacionais serão cúmplices de roubo em larga escala”.

“Estes são apenas os primeiros trabalhos de prospecção previstos”, revela em Túnis a fonte de uma multinacional petrolífera. Mais para o fim do ano entrarão igualmente em cena, nas águas territoriais do Saara Ocidental, a norte-americana Kosmos em conjunto com a citada sociedade canadense. Em setembro, de acordo com fontes saarauis em Paris, a administração marroquina tenciona fechar contratos para construção e exploração de uma grande central eólica nos territórios ocupados.

“As transnacionais consideram”, afirma a fonte empresarial em Túnis, “que o envolvimento no Saara Ocidental é agora menos perigoso desde que Marrocos apresentou aos agentes econômicos e políticos de todo o mundo o seu ‘novo modelo para desenvolvimento das províncias do sul’” (territórios saarauis), um dispositivo que pretende fazer crer que a colonização e o roubo de recursos naturais são instrumentos de progresso, enquanto reprime as populações e as reduz à miséria.

“As empresas afirmam que os contratos são feitos com Marrocos e que têm das autoridades deste país a garantia de que as suas atividades são legítimas e não sofrerão perturbações”, afirma a fonte empresarial em Túnis.

Fonte: Jornalistas sem Fronteiras