Premiê de Israel prepara ofensiva militar terrestre contra Gaza

O primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu ordenou às Forças Armadas que se preparem para uma nova ofensiva terrestre contra a Faixa de Gaza, nesta terça-feira (8). Enquanto diversos grupos acadêmicos, jornalistas e líderes políticos debatem os "rumos da paz" em uma grande conferência na moderna Tel-Aviv, Netanyahu impõe mais violência aos palestinos, enquanto segue impune pelos abusos da ocupação, intensificados nas últimas semanas.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Israel Gaza - AFP

Mais de 50 ataques aéreos na madrugada desta terça-feira inauguraram oficialmente, com mais cinco mortes entre os palestinos de Gaza, a ofensiva que as chamadas Forças de Defesa de Israel (FDI) já intitularam Operação "Vantagem Protetora”, de acordo com o jornal israelense Haaretz. Apenas no dia anterior, bombardeios contra o que o discurso oficial e midiático denomina “alvos terroristas” mataram nove pessoas, majoritariamente membros do Hamas, partido na liderança da Faixa de Gaza e que Israel classifica de “organização terrorista” – uma forma de deslegitimá-lo enquanto movimento de resistência.

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O roteiro é o mesmo aplicado às devastadoras operações anteriores e às retóricas diárias para a manutenção de um bloqueio agressivo contra o território litorâneo de 380 quilômetros quadrados densamente habitado, com uma população de 1,9 milhão de pessoas enfrentando contínuas crises humanitárias, alvos do que até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) já classificou como “punição coletiva”, uma grave violação do direito internacional.

Um acordo de reconciliação nacional entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o Hamas – que ficara no governo de Gaza após uma disputa política interna que levou à ruptura, há sete anos – foi respondido por Israel com sanções e ameaças contra o novo governo de unidade, seguidas do aumento da presença militar na Cisjordânia, da intensificação do bloqueio ao território litorâneo e da construção de mais colônias em territórios palestinos, para além da suspensão indefinida do já moribundo período de conversações iniciado em julho de 2013.

Ainda, em meados de junho, o desaparecimento de três colonos israelenses foi o pretexto de Netanyahu para a Operação “Guardião Fraterno” na Cisjordânia. O saldo, até hoje, é de 700 palestinos detidos, inclusive crianças, mulheres e parlamentares, cerca de 10 pessoas mortas, toques de recolher em diversas cidades, agravada dificuldade de movimentação, com mais postos de controle militar e revistas humilhantes, e a imposição, inclusive a crianças, do tratamento cruel dos soldados, além da demolição de diversas casas como “medida punitiva” para os suspeitos do sequestro e assassinato dos colonos, ainda não solucionado.

A notícia sobre as mortes dos três colonos ainda foi agravada pelo discurso agressivo e de incitação de diversos líderes israelenses, o que foi correspondido com manifestações que exigiam vingança contra os palestinos, ataques diretos dos colonos contra os residentes da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental – ambos territórios palestinos ocupados – e várias tentativas de sequestro sendo denunciadas. A morte do jovem Mohammed Abu Khdeir, que foi queimado vivo, segundo fontes oficiais, teria sido responsabilidade direta de seis pessoas já detidas e classificadas pela mídia israelense como judeus “extremistas”.

Repetição dos crimes de guerra contra a Faixa de Gaza

Mas, novamente, algumas vozes tentam apelar pelo retorno à diplomacia, que enfrentou um período de nove meses infrutíferos entre julho de 2013 e abril de 2014, com o aumento expressivo da ocupação israelense sobre a Palestina e a persistente e comprometida negligência do aliado de Israel, Estados Unidos, frente às violações perpetradas inclusive durante os diálogos que o secretário de Estado John Kerry dizia mediar. 

Ainda que não desempenhasse uma "guerra" declarada, neste período, contra os palestinos, o governo de Israel continuou violando sistematicamente o direito internacional humanitário, especialmente a 4ª Convenção de Genebra, em que diversos pontos tratam das características de uma "ocupação militar" e dos crimes de guerra atados a esta situação.

As últimas grandes operações de Israel contra a Faixa de Gaza ("Chumbo Fundido", de dezembro de 2008 a janeiro de 2009, e "Pilar de Defesa", em novembro de 2012) foram amplamente condenadas pela desproporcionalidade do uso da força para "responder aos foguetes lançados" pelas brigadas do Hamas contra territórios israelenses e que, desta vez, ainda não causaram vítimas fatais. Além disso, a organização de soldados israelenses "Breaking the Silence" ("Quebrando o Silêncio") ainda divulgou testemunhos sobre a nítida sensação de que a operação, cujos objetivos não foram esclarecidos para as tropas, pretendia ser também um teste de "novos armamentos".

Relatórios de diversas organizações de defesa dos direitos humanos e do próprio Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas condenaram o ataque contra infraestrutura e a morte indiscriminada de civis pelos ataques a bomba lançados de caças F-16, artilharia pesada e a invasão terrestre com tanques, além do uso de armas químicas, como o fósforo branco e o tungstênio, contra áreas habitadas.

Nesta terça, em sua página do Twitter, as FDI – que já convocaram cerca de 40 mil reservistas para invasão iminente de Gaza – voltaram a afirmar que o Hamas lança foguetes contra Israel desde áreas habitadas por civis, que são "usados como escudos humanos". Esta foi a justificativa dada pelo governo de Israel para responder às críticas sobre o alto número de civis entre os mortos durante as suas ofensivas.

Resta ver se os grupos favoráveis à paz e ao fim da ocupação e da agressão contra os palestinos terão mais força, desta vez, para impedir uma nova crise humanitária e a morte disseminada, enquanto o governo israelense continua empregando todos os meios para enterrar a diplomacia e o Estado da Palestina, para deslegitimar qualquer forma de resistência, ainda que armada, no empenho por justificar a sua violência indiscriminada, o seu terrorismo e os crimes diversos que comete, de forma impune, contra o povo palestino.

Atualizada às 11h10 para incluir o anúncio das FDI na rede social.