Equador vai "até últimas consequências" contra biopirataria dos EUA

“O Equador irá até as últimas consequências na busca de justiça para os indígenas huaoranis, dos quais médicos estadunidenses extraíram sangue ilegalmente para fins científicos”, segundo afirmação do titular da Secretaria de Educação Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação (Senescyt), René Ramírez. 

Equador vai "até últimas consequências" contra biopirataria - Reprodução

Nesta quinta-feira (3) o funcionário falou à Prensa Latina e afirmou que “já existe uma estratégia para tratar as instituições científicas estrangeiras que realizaram esse tipo de pesquisa tão irresponsável e pouco ética”.

Ainda que tenha se recusado, por razões óbvias, a revelar a natureza desses planos, Ramírez não descartou que se interponha também uma denúncia contra as editoras que publicaram os estudos realizados a partir do sangue que duas décadas atrás extraíram dos huaoranis sem seu consentimento.

“É indigno para nossa sociedade que vejam os equatorianos como ratos de laboratório, e isso não podemos permitir”, sentenciou Ramírez.

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As autoridades equatorianas asseguram que os médicos que extraíram o sangue dos huaoranis, uma tribo amazônica imune a muitas doenças, nunca lhes disseram que as mostras tinham fins científicos, mas que seriam utilizadas como exames periódicos.

Neste plano estariam envolvidos a petroleira estadunidense Maxus, que operou na Amazônia até finais do século passado, o Instituto Coriell e a Universidade de Harvard.

“A prova do uso investigativo que deram ao sangue está em 25 artigos científicos que se publicaram posteriormente em revistas especializadas”, afirmou Ramírez, que ressaltou ainda que recolheram mais de 3 mil amostras dos indígenas.

Ainda que a denúncia do Equador esteja datada de 2012, o presidente Rafael Correa afirmou, em meados de junho, que nos Estados Unidos praticamente não existem leis que permitam a este país sul-americano interpor uma demanda formal ante os tribunais norte-americanos pelo que constitui um evidente caso de biopirataria.

“Como é possível que não tenha leis para proteger os indivíduos se lhes roubam sangue sem seu consentimento?”, perguntou Correa durante uma comunicação pública à nação.

A esse respeito, o secretário da Senescyt adiantou nesta quinta-feira (3) que na nova Lei de Economia Social do Conhecimento, que o Executivo enviará brevemente à Assembleia Nacional para sua aprovação, se inclui um capítulo específico sobre o tema de “saberes tradicionais e pesquisa responsável”.

“Esse texto substituirá um decreto emitido pelo governo para prevenir a biopirataria e evitar que se repitam casos como o da retirada ilegal de amostras de sangue dos povos ancestrais equatorianos”, afirmou Ramírez.

Fonte: Prensa Latina