Outro jovem palestino é morto; violência coloca crianças em foco

Um adolescente palestino foi morto no que pode ter sido um caso de vingança, em Jerusalém Leste, nesta quarta-feira (2). Segundo a agência palestina de notícias Maan e autoridades israelenses, Mohamed Hussein Abu Khdeir, de 16 anos de idade, foi raptado e morto por colonos israelenses que estariam “vingando” a morte de três outros, um caso que provocou intensa cobertura midiática e discussões sobre os efeitos da ocupação e da negligência mundial.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Palestina - Reuters

Na sequência das notícias sobre campanhas, discursos de líderes internacionais e atos de luto realizados em vários países pelas comunidades judaicas, em homenagem aos jovens israelenses Eyal Yifrah, de 19 anos de idade, Gilad Shaar e Naftali Fraenkel, ambos de 16, outra notícia trágica insta o mundo a dar a importância devida à violência contra crianças e jovens – em geral, e não apenas israelenses – para tomar uma atitude pelo fim da fonte perpétua da opressão agressiva: a ocupação.

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A denúncia sobre os impactos da violência de um conflito armado sobre as crianças é frequente, com diversas organizações internacionais dedicadas a monitorar a questão. No caso dos palestinos, porém, a assimetria da situação, em que Israel ocupa militarmente a Cisjordânia e bloqueia a Faixa de Gaza, a mortalidade infantil causada pela violência e pela vulnerabilidade imposta a todo um povo é apontada reiteradamente, mas recebe atenção e respostas práticas insuficientes.

Entretanto, o caso dos três jovens colonos causou comoção e reações justificadas, pela trágica notícia das suas mortes, mas incomparáveis à geral negligência relativa à vitimização diária das crianças e jovens palestinos sob ocupação, sujeitos aos tratos agressivos dos soldados israelenses e às condições extremas do regime militar e de segregação imposto a eles por Israel.

Mohamed Hussein Abu Khdeir foi sequestrado perto de sua casa, em Jerusalém Leste, território palestino que Israel anexou irregularmente através de uma lei da década de 1980 que viola o direito internacional, embora já o ocupasse ilegalmente. Mohamed teria sido torturado e queimado vivo, de acordo com fontes locais citadas pela mídia palestina, numa ação motivada pela vingança.

É este mais um resultado do discurso agressivo e de ódio promovido pelas autoridades de Israel e por grande parte da sociedade e das comunidades israelenses pelo mundo. Numa longa tradição de acusação contra os palestinos pela atual situação, além de promoverem a ocupação e a colonização da Palestina, diversos líderes buscam justificar a violência contra um povo inteiro através de suas interpretações tergiversadas dos fatos e da história, além da manipulação da religião para este efeito.

Crianças são vítimas diretas da ocupação

A reação de líderes como o presidente Barack Obama, o primeiro-ministro britânico David Cameron, a chanceler alemã Angela Merkel, entre outros, para condenar o “terrorismo” contra “jovens inocentes” foi provocada pelas mortes de Eyal, Gilad e Naftali, mas precisa ser acompanhada pela condenação das mortes de Mohamed Dudin, de 15 anos, em 20 de junho, de Youssef Abu Zagha, de 16 anos, no início desta semana, e de Mohamed Hussein Abu Khdeir, também de 16, nesta quarta.

Entretanto, seus nomes, que também precisam ser lembrados, são apenas três das mais de 1.500 crianças palestinas mortas pela ação israelense entre 2000 e 2013, ou seja, uma a cada três dias, segundo a coalizão Remember These Children ("Lembrem-se destas crianças"). Embora pareça insensível recorrer a gráficos como o elaborado pela coalizão para ilustrar esta discrepância, o recurso também pode ser útil àqueles que precisam de "dados" para entender a gravidade da situação.

A violência contra um povo já ocupado e oprimido não pode ser justificada, mas resulta surpreendente a capacidade de líderes políticos, religiosos e comunitários para encontrar formas de fazê-lo, diante dos seus simpatizantes. A representação dos colonos no governo israelense – e também exercendo pressão sobre os governo dos EUA e do Reino Unido, por exemplo – dá às negociações com os palestinos uma aparência de estrada sem fim, enquanto são os palestinos, não os israelenses, os que resistem ocupados.

Mas nem a isso Israel lhes dá direito. Qualquer resistência é “terrorismo”, punida conforme leis promovidas e aprovadas à revelia do direito internacional, como a demolição de casas e a “detenção administrativa”, que permite encarcerar “suspeitos” por períodos renováveis de seis meses, sem acusação formal ou julgamento, sem contato direto com a defesa, períodos muitas vezes preenchidos por tratamentos cruéis e desumanos.