Israel volta a demolir casas palestinas como "medida punitiva"

Numa prática que Idan Landau chamou, em artigo recente para a revista israelense +972, de “ruído constante do sionismo” – política racista de colonização que usa interpretações tendenciosas do judaísmo –, a volta da demolição de casas palestinas na Cisjordânia foi anunciada pelo governo israelense há poucos dias, com a mira apontada para os lares das famílias de “suspeitos” ou condenados pelo envolvimento em “terrorismo” e outros tipos de violência.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Demolição de casa palestina - Alray

A prática, denunciada frequentemente pelos palestinos, já foi classificada de “punição coletiva” por diversas organizações internacionais de defesa dos direitos humanos e até pela Organização das Nações Unidas. Ainda assim, no contexto da operação militar lançada por Israel contra a Palestina, com base no alegado sequestro de três colonos na Cisjordânia, há duas semanas, o governo israelense voltou a demolir residências.

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O grupo israelense de defesa dos direitos humanos, B’Tselem, enfatizou que a política prejudica apenas civis inocentes. Na semana passada, o governo de Israel ordenou a demolição da casa da família de um acusado, mas não condenado, pelo assassinato de um soldado israelense. Lá residem 13 pessoas, inclusive oito crianças, e a ordem deverá ser aprovada por um tribunal da “potência ocupante”.

Embora Israel tenha encontrado outras formas para continuar demolindo as casas de palestinos nas porções que ocupa, na Cisjordânia e em Jerusalém Leste (seja sob a alegação de que as construções não haviam sido permitidas, seja para a classificação das terras enquanto “zonas de segurança” ou “de treinamento militar”), a prática deixou de ser empregada oficialmente como “medida punitiva” em 2005, após um relatório israelense que indicava a sua ineficiência no combate ao terrorismo, de acordo com a revista eletrônica independente +972.

Nos quatro anos anteriores, a B’Tselem estima que 664 lares palestinos foram destruídos como punição aos membros das famílias de suspeitos de terrorismo. A +972 cita o caso de Ziad Awawde e de seu filho adolescente, acusados de matar um oficial da polícia israelense e ferir a sua esposa, pelo que Ziad foi preso em maio. O serviço de inteligência Shin Bet só anunciou a prisão no dia do seu indiciamento em um tribunal militar, na segunda-feira (23), mas a eficiência foi mostrada em outro aspecto do caso: a ordem de demolição da sua casa foi emitida dentro de 24 horas.

Um oficial israelense disse ao jornal Jerusalem Post, no mesmo dia, que a medida estava voltando a ser empregada para “nivelar o terreno do jogo”. Além da ilegalidade das práticas da “potência ocupante” na gestão dos territórios palestinos que controla diretamente – apenas na chamada Área C, a maior porção da Cisjordânia, sob o controle militar de Israel, residem mais de 300 mil palestinos – , a destruição de casas é uma violação grave do Direito Internacional Humanitário.

A B’Tselem nota que “as principais vítimas das demolições são parentes, inclusive mulheres, idosos e crianças que não têm qualquer responsabilidade pelos atos dos seus familiares e não são suspeitos de envolvimento em qualquer crime.” Além disso, a manipulação do direito internacional por Israel se dá também na caracterização dos palestinos que resistem com armas à ocupação como “combatentes ilegais”, como se a sua luta não fosse legítima.

A operação militar lançada por Israel desde o alegado sequestro de três colonos na Cisjordânia, há duas semanas, também resultou em cerca de 10 mortes e quase 600 detenções arbitrárias, além da invasão de diversas cidades e a imposição de toques de recolher, com maior dificuldade à movimentação dos palestinos.