França adverte cidadãos contra negócios com colônias ilegais de Israel

Entre os principais aliados de Israel, a França decidiu admitir a ilegalidade das colônias em territórios árabes ocupados. O governo francês emitiu uma "advertência" aos cidadãos contra atividades financeiras nas colônias israelenses na Cisjordânia e Jerusalém Leste, territórios palestinos, e nas Colinas de Golã, território sírio anexado ilegalmente por Israel em 1980, após ocupá-las no fim da década de 1960.

Palestina - Eyad Jadallah / APA images / Electronic Intifada

Citado pelo jornal israelense Haaretz, em matéria desta quarta-feira (25), um diplomata francês disse que a advertência do governo aos cidadãos – com o aviso de que atividades financeiras e investimentos nas colônias israelenses poderiam envolvê-los em riscos legais – é parte de um ato conjunto dos cinco maiores países da União Europeia: Alemanha, Reino Unido, França, Itália, e Espanha.

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Os dois primeiros emitiram advertências como esta há meses e outros três países aderiram à medida, devido ao fracasso das negociações mal mediadas pelos Estados Unidos entre julho de 2013 e abril de 2014 – que só resultaram no aumento da ocupação sobre os territórios palestinos – e à intensificação dos protestos nos países europeus, onde cidadãos têm exigido uma atitude dos seus governos.

Diversas organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos têm exposto os negócios públicos e privados de países europeus com o governo e com empresas militares de Israel, assim como a instalação de fábricas ou outros investimentos nas colônias israelenses nos territórios palestinos. Neste esforço, a iniciativa do movimento palestino Boicote, Sanções e Desinvestimento (BDS) conquistou mais espaço no cenário internacional, pedindo a responsabilização do governo de Israel pela ocupação.

A mais recente vitória do movimento, lançado em 2005 por mais de 170 organizações nacionais, foi o anúncio da companhia britânica de segurança G4S sobre a sua retirada das atividades no sistema prisional israelense (embora com prazo para 2017), que encarcera mais de 5.200 palestinos. O passo resultou do impacto da campanha de desinvestimento massivo que levou a Fundação Gates e, depois, até a Igreja Protestante dos EUA a vender as suas ações da empresa, compradas com um fundo de US$ 20 bilhões. A empresa também deve ser investigada pelo governo britânico.

A Itália e a Espanha (que mantém um comércio de armas significativo com Israel) também devem fazer a mesma advertência nos próximos dias, de acordo com o Haaretz, o que os palestinos esperam funcionar como consequência e responsabilização do governo israelense pela expansão das colônias, com o anúncio de milhares de novas casas, e pelo recente aumento da violência.

No ano passado, a União Europeia também publicou um documento com “diretrizes” sobre a relação com empresas e institutos de pesquisa sedeados nas colônias, mas a medida foi considerada simbólica e insuficiente pelos palestinos, que reivindicam mais atitude do mundo frente a esta violação sistemática do direito internacional. A Quarta Convenção de Genebra, por exemplo, contém inúmeros artigos específicos sobre a ocupação, sobre as responsabilidades e os limites da “potência ocupante”, violados por Israel.

A União Europeia, vista como a principal aliada de Israel depois dos Estados Unidos, também discute a emissão de uma advertência geral, pela Comissão Europeia, ao mundo empresarial dos seus 28 membros, instando as companhias a não envolverem-se em atividades econômicas nas colônias. Entretanto, assim como as "diretrizes" de 2013, a "advertência" não é vinculante e não lida diretamente com a responsabilização de Israel pela ocupação.

Ainda assim, a reação israelense, que costuma ser agressiva e ofensiva, conta agora com o agravante da ameaça sobre a situação tensionada na Cisjordânia, em que o desaparecimento de três colonos tem sido respondido com a detenção de centenas e a morte de cinco palestinos, com protestos massivos contra a maior presença da ocupação militar.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Com informações do BDS e do Haaretz