Das manifestações de junho à derrota do projeto neoliberal em Minas

O dia 17 de junho de 2013 foi um dia inesquecível para boa parte dos brasileiros, em especial para aqueles que foram às ruas e viram ali um sentimento expresso em cartazes, faixas e gritos que saltavam às gargantas de jovens, muitos destes que jamais tinham saído de casa para participar de algum protesto, manifestação ou algo do tipo, mas também por uma parcela daqueles que, como, nós já estavam nas ruas lutando pelas transformações mais profundas em nosso país.

Por Paulo Sérgio de Oliveira*

O Brasil vive a nos últimos doze anos um momento único de sua história, pois foram nestes anos que nosso país conseguiu fortalecer a sua ainda jovem e frágil democracia, expandiu suas fronteiras comerciais, fortaleceu a indústria nacional e ainda conseguiu gerar e distribuir mais renda. Ao final deste período podemos verificar mais de 1 milhão de jovens que estão hoje cursando a universidade através do ProUni, dobramos as vagas nas universidades públicas, aprovamos os 10% do PIB pra educação e ainda vamos fortalecer os investimentos com os 50% do Fundo Social do Pré-Sal e os 75% dos Royalties do Petróleo pra educação, sendo estas apenas algumas das conquistas que poderiam ser citadas aqui por mim.

Para mim as manifestações de junho são fruto de uma juventude que não viveu anos anteriores a estes que citei. Anos em que nosso país vivia sendo ameaçado e subjugado a ser apenas um devedor do FMI, uma economia majoritariamente ligada aos norte-americanos e ainda um complexo de que tudo neste país tinha que dar errado, a geração de junho é uma geração que viveu os bons anos de nosso país, mas que entende que ao final de uma década de conquistas de direitos é necessário aprofundar ainda mais nas conquistas e radicalizar os investimentos nas áreas sociais, como saúde e educação, a luta por mobilidade urbana para que possamos tornar nossas cidades mais humanas entre outras reivindicações que são legítimas e carecem atenção de nossos governantes no próximo período.

Vivemos um bônus demográfico, nosso país tem hoje cerca de 55 milhões de jovens, ou seja, nós jovens somos a maior parcela da população brasileira, e é por isso que precisamos estar sintonizados com este momento em que abrem-se as portas para que possamos lembrar das reformas democráticas de base que desde aquele discurso de nosso ex-presidente João Goulart na Central do Brasil, nunca foram de fato executadas mas que só com uma pressão popular poderemos implantar em nosso país.

Se podemos falar que o Brasil vive um momento único de sua história com muitas conquistas como já citei, em Minas Gerais vivemos 20 anos de um projeto que tem em sua base a Cemig, a mídia, e os setores conservadores da elite mineira, uma oligarquia que endividou nosso estado, tomou medidas impopulares como o não investimento do mínimos constitucional em saúde e educação, o ICMS mais caro do país que afasta as indústrias de nosso estado e ainda os ataques aos movimentos sociais que ficaram claros nas manifestações de junho e a conta de luz que por sua vez é a mais cara do país. Fizemos em conjunto com o movimento social mineiro no ano passado um Plebiscito Popular em todo o estado arrecadando mais de 600 mil votos em todo estado para mostrar que o povo mineiro está insatisfeito com o preço da energia elétrica em Minas.

A Universidade do Estado de Minas Gerais, UEMG é fruto de nosso debate desde a reconstrução de nossa entidade em 1999 onde a União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais UEE-MG apresentava um Plano Emergencial para as UEMG´s. De lá pra cá quase nada mudou, os Campis da UEMG continuam até hoje com um baixo investimento e acabam por não contribuir como deveriam com o desenvolvimento regional e de nosso estado. Não podemos nos esquecer que existiam por todo estado 6 fundações de ensino que forneciam o ensino particular e diploma de UEMG, neste sentido a nossa luta sempre foi a estadualização com a imediata gratuidade aos estudantes, neste sentido obtivemos uma conquista importante que cabe aqui ser ressaltada, fruto de nossa pressão o governo do estado já incorporou 4 unidades destas sendo a última no último dia 03 de junho em Ituiutaba, porém, esta é apenas uma etapa de nossa luta que ainda se travará até que todas sejam gratuitas e que possamos ter um Plano Estadual de Assistência Estudantil, para garantir o acesso e a conclusão dos cursos.

O poeta dizia que “Minas são muitas” e ao caminhar por “nossas Minas” podemos perceber que nosso estado vive um certo descaso por parte do poder público, as regiões do Norte de Minas, Vales do Jequitinhonha e Mucuri ainda são abandonadas pelo poder público e as desigualdades saltam aos nossos olhos. É necessário ter um novo modelo de desenvolvimento para o Estado de Minas Gerais, que passe necessariamente por desenvolver o estado gerar mais riquezas, diversificar nossa matriz econômica e nossos parceiros comerciais para que possamos ficar menos dependentes dos commodities agrícolas e minerários e mais do que gerar precisamos de distribuir a todos os mineiros a nossa riqueza.

Está em discussão o Novo Marco Regulatório do Minério e este é o momento de pautarmos a criação do Fundo Social do Minério e que seus recursos sirvam para deixar ao nosso estado uma contribuição para a educação dos mineiros e não só para enriquecer as grandes mineradoras que fazem hoje parte deste famigerado plano de governo liderado pelas elites mineiras. Este ano de 2014 é um ano onde além da disputa política cotidiana vamos poder fazer a disputa eleitoral, e é neste momento que o estado demonstra um cansaço com os últimos anos é também o momento onde as forças progressistas nunca reuniram tanta força pra poder disputar um pleito, esta é a hora de colocar Minas Gerais nos trilhos do desenvolvimento e nos rumos do Brasil.

* Paulo Sérgio e Oliveira é presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais (UEE-MG)