Israel decide punir palestinos por novo governo expandindo a ocupação

A Autoridade Nacional Palestina (ANP) alertou, nesta quinta-feira (5), que tomará medidas sem precedentes em resposta ao anúncio do governo israelense de retomar o processo para a construção de mais 1.800 casas em suas colônias nos territórios palestinos. O primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu fez o anúncio, alegadamente, como pena pelo estabelecimento do novo governo de unidade nacional na Palestina em acordo com o Hamas.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Israel e Palestina em Jerusalém - Reuters

Nabil Rudeineh, porta-voz da Presidência palestina, disse que Israel deve reconhecer claramente que a situação de ocupação, caso insista em ampliar as colônias ilegais na Cisjordânia, prejudicam de forma determinante as chances de consolidação da paz entre israelenses e palestinos.

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O anúncio de “suspensão no congelamento da construção de 1.800 casas” nas colônias foi feito por Netanyahu apenas algumas horas depois de o Ministério da Habitação de Israel ter publicado licitações para 1.500 novas casas na Cisjordânia e em Jerusalém Leste, territórios palestinos, na quarta-feira (4). O ministro Uri Ariel alegou que a medida é uma “resposta” ao novo gabinete de governo dos palestinos, ao qual Israel reagiu agressivamente, antes, com mais sanções à ANP, órgão de autogoverno palestino nos territórios ocupados.

“Quando cospem em Israel, [o país] tem que fazer algo a respeito,” disse Ariel, citado pelo jornal israelense Haaretz. O ministro voltou a classificar o novo gabinete palestino como um “governo terrorista”, já que assim qualifica o Hamas, movimento e partido islâmico à frente do governo da Faixa de Gaza desde que uma disputa interna levou à ruptura política entre os palestinos, ainda em 2006-2007. O recente acordo de reconciliação palestina, anunciado em abril, resultou na esperada reunificação do governo e no fortalecimento nacional.

Ainda assim, Israel tem insistido no boicote ao novo governo e reagiu enfaticamente contra a decisão dos Estados Unidos de reconhecer a formação classificada pelos palestinos de “tecnocrática”, que prestou juramento na segunda-feira (2), ainda liderada pelo primeiro-ministro Rami Hamdallah. A tarefa agora assumida, enfatiza o presidente Mahmoud Abbas, é a realização de eleições gerais, conforme acordado entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o Hamas.

As novas casas anunciadas pelo Ministério da Habitação serão construídas em mais de 15 colônias diferentes, inclusive nas grandes Ma’ale Adumim, com mais de 40 mil habitantes, e Ariel, com mais de 20 mil. Ambas já têm estatuto de cidades. Alguns diplomatas ocidentais voltaram a emitir declarações “tímidas” sobre a decisão de Israel, como o embaixador holandês Casper Veldkamp, que disse estar “decepcionado”, e o embaixador estadunidense Dan Shapiro, que disse em entrevista à rádio israelense se “opor” às notificações e às construções nas colônias.

Para a palestina Hanan Ashrawi, membro do Comitê Executivo da OLP, a nova decisão israelense é mais um atentado contra a solução de dois Estados para o impasse de quase sete décadas na questão. Ashrawi disse que a ANP recorrerá ao Conselho de Segurança e à Assembleia Geral das Nações Unidas exigindo uma atitude contra a construção nas colônias.

O chefe da delegação palestina nas negociações com Israel, Saeb Erekat disse que chegou a hora de Israel se responsabilizar e pagar o preço por suas violações do direito internacional, sugerindo que os palestinos podem não só recorrer às instituições da ONU como também ao Tribunal Penal Internacional, ao qual a Palestina deve aderir. Erekat informou que a ANP está discutindo opções dentro do direito internacional e em coordenação com a Liga Árabe e os próprios Estados Unidos, que têm se apresentado como mediadores.

Em um comunicado à imprensa divulgado pelo Departamento para Assuntos das Negociações da OLP, Erekat afirma que “o governo de Israel está celebrando 47 anos de ocupação e crimes de guerra com a aprovação de milhares de novas unidades nas colônias no Estado ocupado da Palestina porque a comunidade internacional não se moveu de forma firme o suficiente para deter as atividades ilegais de colonização.”

A persistente falha dos aliados de Israel e da “comunidade internacional” em responsabilizar os sucessivos governos colonialistas e discriminatórios israelenses é determinante na expansão da ocupação sobre os territórios palestinos, sobretudo após a chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967, em evidente violação do direito internacional.