Frente ampla: da tese à realidade maranhense

 

Egberto Magno

O conceito de ampla frente política pontilhou a trajetória do movimento comunista desde o fim da Segunda Guerra Mundial e teve no búlgaro George Dmitrov um de seus maiores expoentes. Desde sempre, o PCdoB procura dá desdobramentos práticos à tese, nos diferentes níveis da atuação política, sempre na perspectiva do atingimento de seus objetivos estratégicos.

É nesse contexto que se insere a aliança eleitoral que vai se formando em torno da candidatura de Flávio Dino (PCdoB) ao governo do Maranhão. O domínio do estado pela família Sarney completa 50 anos agora em 2014 – um ano a mais do longevo reinado de D. Pedro II no Brasil, que durou 49 anos.

O alcance e o significado da eleição de nosso camarada Flávio Dino têm uma dimensão humanista, e dizer isso não é exagero. Não seria o caso, aqui, de elencar vários dados estatísticos para demonstrar que os anos de domínio dos sarney sob o Maranhão têm sido de tragédia social.

Limito-me a dizer, apenas, que nos últimos anos o analfabetismo cresceu; que temos o 2° pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país; as mortalidades infantil e materna estão nas alturas. O Maranhão aumentou a concentração de renda: em 2013 a economia cresceu 15%, porém, tem a pior renda per capita dentre os estados brasileiros. Daí a natureza humanista da vitória oposicionista nesse ano.

Em raríssimos momentos “as oposições” maranhenses se uniram. Essa dificuldade decorre do caráter heterogêneo de forças política. Quando a unidade foi possível elas venceram as eleições. Foi assim em 2006 com Jackson Lago do PDT (um golpe jurídico o cassou em 2009, vindo a morrer dois anos depois).

Nas eleições de 2010 as oposições estavam muito fragilizadas e, por isso, teve dois candidatos com algum nível de competitividade: o ex-governador Jackson Lago e Flávio Dino, então deputado federal. O candidato do PCdoB iniciou a campanha com apenas 3% de intenção de voto, foi crescendo e ocupando, aos poucos, a segunda posição.

Flavio deixou de ir para o segundo turno por apenas 0,08% dos votos (cerca de 2.500 votos). Manobras e fraudes asseguraram a vitória de Roseana Sarney para a sua quarta gestão à frente do governo.

Foi assim que Flávio Dino despontou como alternativa real à oligarquia. Tendo sido apoiado apenas pelo PPS e PSB nas últimas eleições – o que lhe dava ínfimo tempo na televisão – o comunista foi angariando prestígio popular e confiança junto às lideranças oposicionistas. Ao longo dos últimos 20 meses, Flávio lidera todas as pesquisas de intenção de voto, com chances de ganhar ainda no primeiro turno.

O PSDB local é do campo anti-oligárquico e esteve com Jackson Lago na disputa de 2010. Uma das principais lideranças do partido, o ex-governador e ex-senador João Castelo, disputou e ganhou para Flávio Dino a eleição de prefeito em 2008. O atual prefeito, Edivaldo Hollanda Júnior, derrotou Castelo em 2012 com o decisivo apoio de Flávio e do PCdoB.

Há menos de um mês atrás o PPS tinha uma pré-candidata ao governo: a deputada estadual Eliziane Gama, que tem fortes laços com Marina Silva e a Rede Sustentabilidade. Terceira colocada nas últimas eleições municipais em São Luís, contava com amplas possibilidades de o PSDB apoiá-la.

Divididas, “as oposições” passariam a mensagem de fragilidade e inconsistência, aumentando as chances de a oligarquia se revigorar e vencer a disputa num eventual segundo turno. Por isso o PSDB, que está à frente da prefeitura do maior município do interior, indicou o deputado federal Carlos Brandão para vice-governador na chapa de Flávio e Eliziane Gama retirou o seu nome em apoio ao candidato do PCdoB.

O leque de alianças se completa com a importante presença do PSB na ampla frente política, que indica o atual vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha, para o Senado. O diálogo e a maturidade consolidaram a ideia de que somente com uma ampla frente política será possível derrotar a poderosa máquina oligárquica, que carcome a riqueza do estado com a corrupção e o patrimonialismo.

A base material e espiritual que permite que partidos tão díspares nacionalmente – como o PCdoB e o PSDB – possam estar juntos no estado reside na ideia-força de que é preciso – e inadiável – livrar o Maranhão do domínio oligárquico. Aqui, estamos ainda na “República Velha” dos coronéis.

As razões e motivações da aliança heterogênea são de ordem local, da dinâmica política do estado, nada tendo a ver com a disputa presidencial: PCdoB, PDT, PROS e PP farão campanha para Dilma; PSB, PPS e Rede estarão com o seu candidato, Eduardo Campos; e PSDB e Solidariedade (SDD) sustentarão a candidatura de Aécio Neves. Na medida em que as eleições não são verticalizadas, as alianças estaduais não precisam coincidir com as coligações em âmbito nacional – e é assim que se dará no Maranhão, como ocorrerá em outros estados.

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) definiu sua tática eleitoral nacionalmente: reeleger a presidenta Dilma Roussef para dá continuidade e aprofundando ao novo projeto nacional de desenvolvimento; e sua seção maranhense comparecerá nessa batalha decisiva ao futuro do país.

É uma pena que, sob o pretexto da governabilidade, os dirigentes do PT virem suas costas para o povo maranhense na hora em que o estado está prestes a inserir-se no Brasil republicano – ainda bem que a ampla maioria da militância petista, vereadores e dirigentes municipais entendem de maneira diferente e estarão no comitê Dilma/Flávio Dino. Se Sarney foi ou não importante para a redemocratização do país lá atrás não vem ao caso. O certo é que representa a tragédia humana de milhões de irmãos e irmãs maranhenses.

É a política de frente ampla na prática, em harmonia com a tese: é a dialética.

*Egberto Magno é Secretário de Comunicação do PCdoB/MA.