Livro de Aldo Arantes apresenta memórias de trajetória de luta

A Fundação Maurício Grabois no Ceará em parceria com a editora Anita Garibaldi lançaram, na noite da última quarta-feira (21/05), em Fortaleza, o livro “Alma em Fogo – Memórias de um Militante Político”, de Aldo Arantes.

Em emocionado relato de mais de 50 anos de luta e militância, o ex-presidente da UNE e deputado federal comunista por Goiás, conta detalhes de episódios dos quais participou ativamente ao longo de cinco décadas.

“Aquilo que não sentes, não deves pleitear. É preciso que o queiras tendo a alma em fogo; com inspiração sincera e peito a te inflamar, os corações dominas da assistência ao fogo”. Arantes iniciou a apresentação do livro citando Goethe. “Para convencer alguém é preciso que você esteja convencido e com o coração em fogo. Este foi o sentido da minha vida, que me rendeu bons anos de luta política”, avaliou.

O comunista, que iniciou sua ação política ainda pela Ação Popular (AP) e posteriormente ingressou no PCdoB, contou que a batalha de escrever o livro foi um grande desafio. “Um historiador não saberia contar a história da mesma forma de quem viveu, com riqueza de detalhes. Acho que nós damos certa contribuição nos relatos deste período”, considerou.

Durante sua intervenção, Aldo Arantes citou alguns episódios que detalha no livro, como a reunião que teve com o presidente Jânio Quadros três dias antes de sua renúncia, o período em que viveu na clandestinidade, as duas vezes em que foi preso. “Tento contar estes episódios da forma mais humanizada possível, com um pouco de humor, mas também com certa tristeza”.

Filhos

Algumas cenas retratadas no livro são com os dois filhos – André e Priscila – que, durante a resistência, ainda com 2 e 3 anos, também ficaram presos por 4 meses. Já um pouco maiores, durante a clandestinidade, Aldo Arantes usava personagens imaginários para ensinar as crianças. “Os três coelhinhos gostavam de negro, trabalhador e nunca mentiam”. Ao mesmo tempo, ele insistia para que os pequenos nunca falassem onde moravam. Até que veio o questionamento do filho que sempre soube que não podia mentir. A resposta veio com outra comparação lúdica. “Filho, você acha que o Zorro devia contar para o Sargento Garcia a identidade dele?” A resposta e a compreensão do segredo foram imediatas. “Precisava de algo para dar algum sentido humano à história”, riu.

Mas nem só de parábolas viveu Arantes. Foram incontáveis as vezes em que sentiu a força da repressão. Sobrevivente da “Chacina da Lapa”, que vitimou três dirigentes do PCdoB, ele relatou coisas tristes, como as prisões, torturas e todo tipo de violência.

Passado e futuro

Aldo Arantes reforça que a publicação faz uma ponte dos acontecimentos do passado com bandeiras que defende e poderão impactar no futuro. “O livro conta a evolução política do país e nos situa diante de problemas atuais”, explicou.

Para isto, ele dividiu o livro em três temas centrais: o socialismo, com avanços e erros, “mostrando o papel que o PCdoB teve nesta história”; o meio ambiente, mostrando que “o fator ambiental também faz parte de um projeto de nação”; e ainda a questão democrática, em defesa da soberania do país e contra o neoliberalismo. “Estamos em plena época de campanha e as nós, que fazemos parte das forças progressistas, não podemos permitir o retrocesso”.

“O intuito deste livro foi que o leitor ao conhecê-lo, pudesse também refletir sobre uma experiência de vida. Não quis ser um ‘Super-Homem’, mas me apresento de forma inteira. É um testemunho que espero servir de estímulo para a juventude e para a sociedade como forma de dar continuidade à nossa luta”, finalizou.

De Fortaleza,
Carolina Campos