Comissão da Verdade retoma busca por mortos da ditadura no Paraná 

As expedições para localizar os corpos dos cinco militantes de esquerda mortos pela ditadura militar em uma chacina ocorrida no Parque Nacional do Iguaçu (PR), em 13 de julho de 1974, serão retomadas no segundo semestre. Em audiência da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara, nesta quarta-feira (21), o representante da Comissão Nacional da Verdade, Ivan Seixas, disse que o massacre no Paraná foi a operação mais investigada depois da Guerrilha do Araguaia. 

Comissão da Verdade retoma busca por mortos da ditadura noParaná - Agência Câmara

Seixas participa a uma década de diversas expedições na região para localizar os restos mortais dos guerrilheiros Daniel José de Carvalho, Joel José de Carvalho, José Lavecchia, Vitor Carlos Ramos e o argentino Enrique Ernesto Ruggia. Ele ressaltou que “o episódio não foi esquecido, foi exaustivamente analisado e investigado, e continuará tendo, no segundo semestre deste ano, mais buscas e mais investigações”.

Ainda há um sexto integrante da organização, Onofre Pinto, um dos líderes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) que, segundo relatos de testemunhas que participaram da operação, foi morto e teve o corpo jogado em um rio, cuja ponte está submersa pelas águas da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

Memória e verdade

O autor do livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, que revelou a história da chacina, Aluízio Palmar, após anos de investigação e pesquisa, relatou que os militantes da VPR foram atraídos para uma emboscada, em uma operação liderada pelo coronel do Exército Paulo Malhães, morto no último dia 25 de abril.

Ele afirmou que o esquecimento não pode vencer a memória e a verdade. “Tenho muita fé que o trabalho em torno da memória vai levar o País a conhecer o período da ditadura, a localizar os desaparecidos e a punir os responsáveis pelas violações de lesa-humanidade”, observou Palmar.

Lilian Ruggia, irmã do argentino Enrique Ruggia, morto aos 18 anos, se emocionou na audiência pública ao relatar o último encontro com o irmão, antes dele decidir entrar clandestinamente no Brasil para lutar contra a ditadura. Ela disse que passou a vida buscando o corpo para chorar e sepultar junto com os pais e para ter um pouco de paz.

“A investigação vale para história dos povos, para que todos os desaparecimentos sejam lembrados e que esses crimes não sejam repetidos”, observou.

Novas buscas

A jornalista Juliana dal Piva, que entrevistou o coronel Paulo Malhães um mês antes dele morrer durante um assalto a sua casa, em Nova Iguaçu (RJ), disse que o militar confirmou a participação no episódio, liderando a operação. Segundo dal Piva, Malhães afirmou que os corpos dos militantes foram jogados no rio e não enterrados no parque e, portanto, não podem ser localizados.

Rosa Cardoso, membro da Comissão Nacional da Verdade, rebateu essa informação. Ela afirmou que suas revelações são importantes, mas não são totalmente confiáveis: “O coronel queria causar confusão, dificultar o processo e criar uma cortina de fumaça nas investigações”, disse Cardoso.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Assis do Couto (PT-PR), afirmou que a audiência pública ajudou a trazer maior visibilidade histórica sobre o episódio da chacina no Parque Iguaçu.

O parlamentar defendeu um termo de cooperação assinado pela Comissão Nacional da Verdade, pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, com participação das universidades, da Usina Hidrelétrica de Itaipu, do Instituto Chico Mendes, que é o gestor do Parque do Iguaçu, para que tenham êxito na localização dos corpos.

Da Redação em Brasília
Com Agência Câmara