PCdoB reúne-se com Haddad e faz sugestões políticas ao governo

O prefeito Fernando Haddad chegou na plenária do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) à vontade. Entre o prefeito e a legenda existe uma relação de respeito. Os comunistas retiraram a candidatura de Netinho de Paula quando o então candidato do PT estava com apenas 3% nas pesquisas de intenção de voto para apoiá-lo. Haddad brincou e disse que 'reza' todos os dias para agradecer a Deus por ter uma vice-prefeita como a Nádia Campeão.

Por Ana Flávia Marx

- Ana Flávia Marx

A atividade, realizada no último sábado (17) contou com participação de militantes e dirigentes distritais de toda cidade, além de líderes sindicais e de movimentos sociais. O Partido coadunou com pontos positivos do mandato assim como apontou elementos e ações que precisam ser aperfeiçoadas na gestão, por exemplo, a relação com os movimentos sociais e sindicais e a constituição de um conselho político, espaço para reunir os presidentes municipais dos partidos da base aliada.

O prefeito tirou fotos com as lideranças e foi recebido com aplausos, mas sabe que o relacionamento é de uma força política para com outra e, por isso, chegou disposto a ouvir.

O presidente municipal do PCdoB, Jamil Murad abriu a plenária, a primeira desde a eleição municipal, dizendo que é o começo de uma relação mais próxima. “ Pretendemos ter esse diálogo, essa troca de opinião, essa troca de sugestões muitas outras vezes, sempre com o objetivo de fortalecermos o governo e conquistar mais e novas vitórias para o nosso povo”, abriu Jamil.

De acordo com Murad, a militância está preocupada com o projeto das forças progressistas em São Paulo. “Nós tivemos uma vitória com a Luiza Erundina e quatro anos depois os inimigos nos tiraram do poder municipal. Tivemos uma grande vitória com a Marta Suplicy e aconteceu a mesma coisa quatro anos depois. Então, quais são as medidas e ações que precisamos fazer para que isso não aconteça de novo?”, questionou o presidente ao prefeito.

O prefeito expôs aos militantes comunistas as realizações do primeiro ano de seu governo. “Vocês se lembram das ideias forças do programa de governo: a Rede Hora Certa, o fim da taxa de inspeção veicular, o bilhete único mensal, corredor de ônibus e fim da aprovação automática, essas propostas a maioria já saiu do papel”.

“É a primeira vez que alguém é eleito com uma chapa, uma coalização com um programa de ponta a ponta com que ia fazer ao longo do governo. Até o plano diretor, imaginam vocês, que é uma coisa totalmente abstrata para a maioria da população, nós encontramos um jeito de discutir na campanha eleitoral de 2012, falando do Arco do Futuro, da lei de incentivo da zona leste, falando da ocupação das margens dos rios”, apresentou Haddad.

Para Haddad, a greve dos professores aconteceu muito cedo, quando estava com 90 dias de governo e mesmo com ele cumprindo a promessa que havia feito durante a campanha de não alterar a lei que previa o aumento para a categoria, aprovado no governo anterior.

“A lei que aprovaram no mandato passado era inconstitucional, porque o prefeito não pode prevê ajuste salarial para o mandato do sucessor dele, senão ficava fácil. E me perguntaram: você vai cumprir a lei? E eu disse que, cumpriria a lei que dava 26% de aumento para os professores”, lembrou.

Apesar de estar cumprindo rigorosamente o seu programa nas áreas de transporte, moradia, saúde e educação e isso com todos os problemas de uma transição de um modelo para outro, há uma mudança de humor e percepção sobre o poder público. Na opinião do prefeito, grande parte desse sentimento é construído artificialmente e está articulado com a percepção sobre a Copa e qualidade do serviço público.

Mas, segundo Haddad, o clima não pode servir para interditar o debate ou criminalizar o movimento social ou as manifestações de rua.

“Nada disso é da nossa cultura. A gente é da rua, veio da rua, volta pra rua, está tudo em ordem com a gente. O problema é que muitas vezes essa energia que pode ser canalizada positivamente, pode ser levada por um projeto conservador de sociedade”.

Disputa nacional

O prefeito paulistano acredita que há um forte risco em torno dos direitos dos trabalhadores conquistados nos últimos 12 anos.

“Os nossos adversários nunca foram para uma campanha dizendo o que pensam. Sempre tinham medo de dizer o que pensam, por exemplo, Serra e Alckmin, enquanto candidatos à presidência, jamais defenderam a revisão da política do salário mínimo ou a volta dos tempos de FHC [Fernando Henrique Cardoso], isso não acontecia, ninguém pegava o FHC a tira colo e levava de lá pra cá”, observou.

Em um cenário em que o candidato Aécio Neves quer resgatar a herança maldita de FHC, Haddad lembrou que a taxa Selic era de 45% ao ano e que a tese defendida pelo tucano de que é preciso aumentar o desemprego para conter a inflação é uma falácia.

“Imagina você ter 100 mil reais e o Estado te pagar 45 mil para você manter o dinheiro parado e diziam que isso era para combater a inflação. Então, como é que se explica que a inflação no governo FHC era maior do que no mandato do Lula?”, instigou Fernando Haddad.

Participação da imprensa golpista

A participação dos meios de comunicação na disputa eleitoral também foi tema da intervenção do prefeito, que afirmou ser mais cobrado por um ano de governo do que Alckmin por 20 anos de governos tucanos no maior estado do país.

“Eu não acho ruim ser cobrado. Acho estranho não cobrarem os resultados de 20 anos do governo estadual, que tem quatro vezes o orçamento da capital e não vejo cobrança nenhuma em relação à segurança pública, às qualidades dos trens e metrôs, sobre abastecimento de água na capital e região metropolitana”, reiterou.

Sobre a disputa e guerra de informação sobre a Copa do Mundo que, principalmente os meios de comunicação estão fazendo, o prefeito afirmou que o maior legado do torneio mundial será em São Paulo.

“Só com a lei de incentivo para geração de emprego no pólo de Itaquera, hoje nós temos anúncios de empresas que estão indo para a região que irão gerar 53 mil postos de trabalho. Isso significa, que a pessoa ao invés de pegar aquele metrô lotado para vir para o centro, vai trabalhar lá, perto da casa dele”, esclareceu.

O prefeito concorda que o povo tem razão de reclamar sobre a situação histórica dos serviços públicos que se arrasta há séculos, mas isso não pode fazer com que a pessoa deixe de perceber de que lado está.

“Eu não me queixo da reclamação, mas não quero que a população perca de vista de que lado os partidos estão na luta pela melhoria das condições de vida”

Opinião do PCdoB sobre governo municipal

As lideranças concordaram com Fernando Haddad, mas além de consentir os pontos positivos do governo municipal, apresentaram também a opinião sobre questões que precisam ser aperfeiçoadas no mandato.

Para o presidente estadual do PCdoB e ex-líder do governo na Câmara, Orlando Silva, a gestão atual acerta ao pensar a cidade além de seu mandato e ao construir metas e projetos que terão impacto daqui a dez, vinte anos na metrópole.


Assim como acertou também em assumir prioridades e ter como objetivo melhorar a vida do trabalhador.

“O PCdoB deve-se somar ao prefeito na opção de que governar é assumir prioridade, pois você não consegue atender todo mundo o tempo inteiro.
Sou daqueles que votou no IPTU progressivo e votaria de novo, pois acredito que é uma medida que procura fazer justiça fiscal, quem pode mais tem que pagar mais”

Para Orlando, o Partido deve confiar no êxito do governo e dobrar a aposta, por isso, indicou quadros caros para compor a gestão de Haddad, como a vice-prefeita Nádia Campeão, que era presidente do diretório estadual.

“O PCdoB quer ajudar mais na gestão Haddad. Nós somos daqueles que cada vez que ouvimos na tv ou lemos no jornal o senhor falar no microfone que não se importa com 2016, isso nos incomoda, porque nós queremos reeleger o prefeito em 2016. Essa é uma necessidade política do nosso projeto”, afirmou Orlando Silva.

Para os comunistas, o método aplicado nas direções locais da prefeitura, ou seja na Subprefeituras é insuficiente para atender os desafios políticos de uma cidade tão grande, rica e complexa como São Paulo.

“A maioria dos subprefeitos de São Paulo não fazem sequer o debate político que precisa ser feito. Precisamos ter lideranças do governo local que encarnem os ideais que a Nádia e o prefeito representam. É preciso ter capacidade de realizar, mas é preciso também ter compromisso com o nosso projeto”, criticou.

Outra crítica é sobre os canais de diálogo com a sociedade que, embora esse governo tenha implantado mais espaços de democracia participativa, como os conselhos participativo e da cidade, é preciso também estreitar a relação ampliando os canais de diálogo com os movimentos sociais e sindicais.

Orlando sugeriu ainda que o governo implemente o Conselho Político, espaço para reunir os presidentes municipais dos partidos da base aliada para discutir mais política com o prefeito.