Apesar da repressão policial, greve agrária continua na Colômbia

Mesmo que a repressão contra a greve agrária, iniciada na semana passada na Colômbia, se agrave a cada dia, o movimento se fortalece. De acordo com as denúncias das organizações que participam da paralisação, as forças militares do Estado colombiano utilizam mecanismos de intimidação da população insurgente, fazendo revistas, fotografando os manifestantes e até lançando disparos com armas de fogo. Agora, estariam ameaçando também os camponeses de despejo e criminalização do movimento.

Durante a marcha pacífica realizada em 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador/a, em Villavicencio, capital do Departamento de Meta, a 86 quilômetros de Bogotá, houve conflito com a polícia, protagonizado por pessoas de fora do movimento, durante a qual teriam sido lançadas bombas de gás lacrimogêneo, além de jovens e uma mulher grávida terem sido feridos pela força policial.

Mesmo assim, na região de Araura, norte colombiano, está sendo realizada uma paralisação total no comércio, transporte, educação e agropecuária, principalmente em municípios como Fortul, Tame e Saravena, concentrando mais de 6 mil pessoas no movimento. Nesse último município, habitantes da região afirmam que membros do Exército nacional estão aterrorizando os camponeses mobilizados com sobrevoos permanentes de helicópteros. Continuam também fotografando os manifestantes e fazendo revistas injustificadas, impedindo a adesão das pessoas às atividades da paralisação.

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Até agora, seguem concentrados em Saravena mais de 2 mil camponeses, indígenas e afrodescendentes em instituições educacionais do município, mesmo que ameaçados de despejo por armas do Estado. Em 1º de maio, mais de 1 mil manifestantes saíram às ruas da cidade para protestar contra a privatização da educação, a deficiência no setor de saúde e a violação das forças militares do Estado contra a população civil. Insurgiram-se também contra a presença de empresas multinacionais em territórios ancestrais de povos afrodescendentes e indígenas da Colômbia.

Além disso, há denúncias de disparos de tiros pelo Exército Nacional contra camponeses. Militares teriam atirado indiscriminadamente contra pessoas que se encontravam cuidando de animais numa fazenda da área. Os fatos se somam a uma série de violações aos direitos humanos por parte das forças militares do Estado colombiano durante toda a jornada popular.

Nos municípios de Líbano e Tolima, agentes da Polícia Nacional, trajados de civis e trafegando em motocicletas sem placas, fotografaram participantes e líderes do movimento durante concentração que discutia os problemas da região, em especial a contaminação da água pelas atividades de mineração. Enquanto isso, nos dias 02 e 03 de maio, camponeses de Catatumbo se reuniram em cinco audiências populares, deliberando pauta de questões que se somam à jornada, como o cumprimento de direitos territoriais e reparação a famílias desalojadas, das garantias de mobilização e a não impunidade por graves violações dos direitos humanos dos setores populares.

A paralisação é um desdobramento da reunião da Cúpula Agrária, realizada em março deste ano. O objetivo da Paralisação Nacional é apresentar uma pauta de reivindicações unificada que debata as atuais políticas agrárias implementadas pelo Estado e que têm fragilizado o setor rural colombiano. Desde o dia 28 de abril, atividades de vários setores estão paralisadas e atos públicos são realizados em todo o país pela classe trabalhadora urbana e camponesa.

Fonte: Adital