Centrais sindicais se solidarizam com os imigrantes haitianos

A situação dos imigrantes haitianos no Brasil está cada dia mais grave, eles chegam em grande número quase que diariamente no país e a estrutura para recepcioná-los é precária. Na última semana, mais de 700 trabalhadores chegaram do Acre em São Paulo, destes, apenas 200 foram abrigados na Casa do Imigrante, na capital paulista, capacidade máxima da entidade.

Por Mariana Serafini, do Vermelho

Imigrantes haitianos com documentos - Reprodução

Diante da urgência da questão, as centrais sindicais CTB, CUT, CGTB, UGT, UST, Nova Central e Força Sindical iniciaram uma campanha de solidariedade aos imigrantes e enviaram, nesta quarta-feira (30), um documento oficial ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, pedindo ações urgentes do governo com relação à política migratória.

O governo anunciou, também nesta quarta-feira, a ampliação de concessão de vistos para os haitianos ingressarem legalmente no país. Atualmente são concedidos apenas mil vistos de entrada no Brasil para os cidadãos do Haiti por mês. Além disso, o governo federal vai articular parcerias com os estados que recebem os refugiados, principalmente o Acre, e dialogar com os países por onde eles passam antes de chegar ao território nacional. As medidas são fruto de uma reunião entre os ministros da Casa Civil, Aloízio Mercadante; da Justiça, José Eduardo Cardozo, das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo e de representantes de outros cinco ministérios.

O presidente da CTB, Adilson Araújo, informou ao Portal Vermelho que as centrais sindicais estão trabalhando para tentar minimizar o impacto negativo da chegada dos haitianos em São Paulo, que se deparam com pouca ou nenhuma estrutura ao desembarcar na capital paulista. Segundo Adilson, a ideia é arrecadar alimentos, roupas e cobertores para tratar de questões emergenciais.
Os donativos devem ser entregues na Casa do Imigrante (Paróquia Tucuruvi, rua Heloísa Móia, 59).

De acordo com o líder cetebista, a entidade é solidária aos trabalhadores haitianos em defesa do internacionalismo proletário. “A CTB luta contra a precarização do trabalho, e combate o trabalho escravo a que muitos destes imigrantes são submetidos ao chegar no país. Exigimos que o governo crie medidas efetivas para combater a discriminação e acolher de forma digna os trabalhadores haitianos”, afirmou Adilson.

A assessora da CTB, Jenny Dauverne defende a criação de políticas de médio e longo prazo para receber os imigrantes. Ela que é francesa fala sobre a experiência de acolhimento dos imigrantes em seu país e está atenta para a barreira do idioma. “São necessárias aulas de português e de cultura brasileira para os haitianos conhecerem um pouco sobre o país e serem integrados de forma exitosa”.

Adilson alerta sobre a gravidade da situação dos imigrantes na Europa e deixa claro que, em hipótese alguma, o Brasil pode deixar aqui a questão se agrave de tal forma. “Nós vemos muitos casos de violência e preconceito contra os imigrantes na Europa porque a crise também é um ingrediente perverso usado pela sociedade capitalista para potencializar o preconceito e a xenofobia”.

A CUT, por sua vez, publicou uma nota oficial em solidariedade aos imigrantes. “Rechaçamos qualquer postura ou comportamento xenófobo contra os imigrantes haitianos em razão de sua condição étnica, social, econômica, política ou religiosa”, diz a nota.

A entidade também defende a construção de mais abrigos para refugiados e imigrantes: “Para a CUT, a política de construção de abrigos para refugiados e imigrantes apenas em estados de fronteira é insuficiente. A CUT exige que os imigrantes recebam uma atenção digna, capaz de promover sua integração na sociedade brasileira. É urgente a organização de estruturas físicas e sociais adequadas à atual demanda, principalmente nas capitais e centros econômicos do Brasil onde estão a maioria das oportunidades de trabalho”.

O combate ao trabalho análogo à escravidão também é uma das bandeiras da central. “A CUT defende o trabalho decente e denuncia as práticas de trabalho precário ainda existentes em algumas cadeias produtivas que utilizam mão de obra de imigrantes indocumentados para baixar custos”.

O Cebrapaz também emitiu uma nota oficial em solidariedade, de acordo com o documento: “O Brasil tem uma responsabilidade política com o povo haitiano desde que aceitou a tarefa de liderar as tropas da Minustah. O Haiti foi a primeira república negra a conquistar a Independência na América; enfrentou o colonialismo francês e o imperialismo estadunidense; sofreu golpes de Estado e foi governado por décadas por políticos corruptos aliados ao imperialismo norte-americano. Como se não bastasse, foi vitima de um terremoto em 2009 que deteriorou ainda mais a situação econômica do país”.

Por reconhecer que os haitianos chegam ao Brasil com esperança de trabalho e em busca de uma vida digna, o Cebrapaz defende que eles devem ser recebidos “ser recebidos de braços abertos, como o Brasil fez em outros tempos com italianos, japoneses, alemães e tantos outros povos que ajudaram a formar a rica e diversificada nacionalidade brasileira”. E rechaça toda forma de preconceito. “Os imigrantes haitianos não podem ser criminalizados, tão pouco tratados de forma racista e preconceituosa”.

Cartilha do imigrante

As centrais sindicais vão distribuir uma cartilha que contém informações sobre a legislação brasileira, direitos dos imigrantes, locais para expedição de documentos e incentivos a sua organização. Impressa em cinco idiomas, o material tem por objetivo contribuir com a adaptação dos imigrantes no país.