Entrevista: Deputada Enfermeira Sarah Munhoz

 A Enfermeira Sarah Munhoz é professora universitária, mestre em Saúde do Adulto e doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo. Foi presidente da ABEn (Associação Brasileira de Enfermagem) de São Paulo.

Sarah Munhoz

Com 24.411 votos na eleição de 2010, ficou na segunda suplência. Após Pedro Bigardi assumir como mandatário eleito em 2012 a prefeitura de Jundiaí, Alcides Amazonas ocupou a cadeira de Deputado Estadual, mas no começo deste ano foi convidado pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad a assumir a Subprefeitura da Sé e cedeu lugar a Deputada Enfermeira Sarah Munhoz que conversou com a Redação do Vermelho São Paulo sobre seu curto mandato.

Eder Bruno, Vermelho SP

Você acabou de assumir o mandato, quase em vésperas de eleição. Como será o seu mandato nesse pouco tempo? E como se refletirá numa possível reeleição?

Temos prioridades em relação à área da saúde, educação, mulher, violência e, principalmente, condições de trabalho dos profissionais da saúde com foco na assistência de enfermagem. O tempo é pouco, mas, se bem aproveitado, eu entendo que ele pode render grandes frutos no sentido de melhorar as condições de vida dos profissionais de saúde e equalizar os benefícios entre as categorias.

Em relação à mulher, vamos trabalhar a questão da mulher na enfermagem, a questão da saúde da mulher, a prevenção em saúde e o favorecimento de condições para os profissionais que prestam assistência às vítimas de violência, em especial, as mulheres. Estes profissionais precisam estar muito bem preparados para receber a pessoa vítima de qualquer tipo de violência. Por exemplo, a mulher que é violentada é tida como uma doente comum. Quando, na verdade, isso não é um problema comum. Isso é um grave problema social que reflete no dia a dia das pessoas. A mulher violentada padece ainda mais quando não se entende que, além da assistência e do atendimento de saúde comuns, um ato de violência ocorreu. Essa mulher, muitas vezes, pode não expressar a dor que sente. Então, as outras pessoas precisam desenvolver um olhar, tal, que veja além da necessidade da assistência simples; é preciso que compreendam a dor da violência.

Qual seu grande desafio neste mandato de menos de um ano?

Fazer quatro anos em um. Trabalhar quatro vezes mais.

Como seu mandato travará a luta pela valorização do profissional da enfermagem e da saúde no estado de São Paulo?

Buscando condições de trabalho, a isonomia de direitos, de benefícios e de deveres. Associado a isso, o mandato já busca formas de dar um atendimento digno e confiável para a população através da preparação e especialização dos profissionais da enfermagem. Para além do setor de saúde, especificamente, é preciso que se pense em políticas públicas que estejam de acordo com as necessidades da população. É o caso da urbanização descontrolada das cidades, a questão da mobilidade social, melhores condições de salário e de vida. Não adianta ter três empregos. Adianta ter um trabalho adequado, com retorno suficiente, para que o indivíduo tenha condições de viver e trabalhar com dignidade.

Quando a deputada fala em igualdade de benefícios, está se referindo aos profissionais de saúde?

Sim. Normalmente, privilegia-se os médicos em detrimento dos demais profissionais. E, hoje, nós percebemos que existe uma tendência, principalmente no estado de São Paulo, em tratar os profissionais em quatro categorias: os médicos, os enfermeiros, os profissionais de nível universitário e os outros. Enfim, os trabalhadores não médicos da saúde são tratados de forma diferente, quando todos têm que dar o mesmo resultado. Entre outras razões, é por isso que nós não temos um atendimento público de saúde tão eficaz; porque as pessoas são tratadas de forma discriminatória num ambiente em que o trabalho é coletivo.

Você faz parte de uma bancada 100% Mulher e 100% Negra, como lhe dar com isso em uma casa tão conservadora?

Dizendo que isso é normal e fazendo com que isso seja lembrado diariamente. A mulher é 100% da população: 52% no perfil genético XX e 48% na doação do outro X para os Y (homens). Então, eles precisam saber que a nossa bancada é 100% mulher. É desse jeito que nós vamos trabalhar, e muito! Infelizmente, ainda vamos ter que provar que mulheres são inteligentes, que mulheres negras são inteligentes e que o impacto social do nosso trabalho é imenso e faz diferença. A partir do momento que a nossa bancada começa a fazer a diferença, as pessoas nos verão com mais respeito. Então, não estamos aqui lutando por classes e nem por um indivíduo ou outro, mas sim pelos direitos de todos. E que esses direitos sejam postos em prática, de forma concreta junto à população.

Como analisa a situação do setor da saúde no estado de São Paulo?

Está precária porque as políticas públicas são pensadas de forma parcial. Hoje, exatamente hoje, nós estamos vendo uma situação muito complicada com relação à dengue. Nós temos 12 milhões de habitantes na Região Metropolitana de São Paulo, com 3000 casos de dengue. Temos 140 mil habitantes em Jaú com 2700 casos de dengue. São cidades do mesmo estado, mas com diferentes tratamentos. Por outro lado, nós temos que fazer com que a população seja protagonista dos seus direitos. Se as pessoas querem direitos, elas também têm que ter deveres. A conscientização das pessoas sobre o seu próprio papel na manutenção da saúde, talvez seja um dos maiores desafios para a saúde no estado. Existe o Estado, o protagonista profissional e o protagonista usuário. Todos precisam trabalhar juntos para dar qualidade ao sistema único de saúde.